Ivan Vonking e o Casal Humano-Fada

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A mansão da família Vonking sempre ocupou o imaginário das crianças que moravam por perto da clareia em que esta ficava. Sua estrutura alta e não muito larga lembrava a face de um homem magro, quase morrendo de fome, e as janelas com soleiras de madeira enegrecidas pelo tempo pareciam olhos com olheiras, o que acentuava a sensação de morte do lugar. Contudo, o que mais assustava os moradores da região era a movimentação da mansão.


A mansão dos Vonkings eram uma gigantesca máquina de cobre, latão abaixo da pele de carvalho, com diversas partes móveis. Haviam tubos que se espalhavam pelo jardim morto ao redor da construção, se espalhando como raízes metálicas pelo chão. O que elas faziam? Descartavam dejetos, sugavam a água do rio, a maioria servia como sistema de proteção e algumas outras o jovem M'kang sequer imaginava a utilidade. As luzes estranhas e os cheiros de produtos químicos com metais também não ajudavam à tornar o lugar mais agradável ao olhar.


Não era pra menos que Mirya se agarrara ao braço mecânico de M'kang. Qualquer pessoa normal — com exceção de M'kang — chegaria perto da residência dos Vonkings sem receio. Subiram os três degraus de madeira até chegar a porta da frente. Bater na porta era inútil pois o bom doutor quase nunca ficava fora de seu laboratório, então o jovem apertou a campainha. O som de pesados sinos ecoou pela clareia, fazendo aves que estavam por perto alçarem voo para longe. Mirya também queria voar pra longe dali.


—Quem é?


A voz de Ivan Vonking surgiu de um tubo de ferro no canto superior à direita da porta, assustando Mirya com seu tom grave e quase sepulcral.


—Sou eu, dr. Vonking. M'kang. Estou trazendo uma convidada.


—Quem?


—M-M-Meu nome é M-Miry-rya.


—Mimirirya? Nunca ouvi falar. — Dito isto, Mirya — ou "Mimirirya" — enrubesceu. M'kang fez esforço para não rir. — Essa voz... você não é a filha de Mallany, a Fada?


—S-Sim! Sou eu mesma.


—Por que veio até aqui?


—E-Eu...


—Eu que pedi pra ela vir, doutor. — Disse M'kang. — Eu e Mirya estamos namorando, e como o senhor é o mais próximo de um pai que eu tenho, eu achei que seria adequado lhe apresentar à ela.


O dr. Vonking nada disso por alguns instantes. De repente, a porta dupla de carvalho se abriu sozinha, permitindo a entrada do casal.


Interior da mansão era muito mais máquina do que mansão e, de certa forma, parecia mais acolhedor que o exterior. Era iluminado por luzes elétricas amarelas, o que dava um tom caloroso ao ambiente. Livros dos mais diversos tipos e tamanhos se encontravam em todos os móveis — exceto os banheiros —, ao maior parte sobre máquinas, física e energias mágicas.


Passado o susto inicial, Mirya passou a olhar a casa com certo fascínio na propriedade de Ivan Vonking. Era uma bagunça, mas uma bagunça charmosa. Tanto que a fada começou a explorar o lugar por conta própria, não muito longe do namorado.

A Máquina de Raios de Ivan VonkingWhere stories live. Discover now