Ano 1300.
Um coche para em frente à luxuosa igreja da cidade e um homem desce. Suas botas tocam o chão, sujando com barro.
O contraste daquele prédio onde o ouro era visivelmente exagerado com as humildes casas que ficavam a sua volta, fora demais para ele. Suspirou olhando para cima vendo a cúpula arredondada com o brasão da família real em destaque.
Caminhou cuidadosamente entre as crianças que corriam brincando e passou pelos feirantes que se aglomeravam nos primeiros degraus vendendo suas hortaliças muxoxas aos poucos que podiam pagá-las. Viu que a pobreza ali era grande e se preocupou por que achou estar vindo assumir a igreja de uma cidade rica.
Subiu os degraus olhando, vez ou outra, para trás podendo perceber que nada do que lhe foi dito parecia acontecer em MoonSide. A cidade pertencia a realeza dos Jeon a mais de quinhentos anos e comumente era tida como a mais avançada e privilegiada em questões financeiras. O ouro era usado para o bem estar não só da família real como de seus cidadãos. Ele poder ver que não era bem assim que as coisas funcionavam por ali.
Chegou ao topo parando por alguns segundos e virou seu corpo olhando mais uma vez para aquelas pessoas que caminhavam com aparência cansada, arrastando vestidos e sapatos em meio ao barro que se acumulava no meio da rua. Os coches que passavam carregavam os de condições melhor, levando-os provavelmente até o castelo onde deveriam viver bem.
O novo padre chegou ao local um pouco antes do entardecer e foi logo entrando para se apresentar ao seu antecessor.
O já idoso clérigo estava o esperando para poder, enfim, se aposentar. Viveu por mais de quarenta anos servindo aos cidadãos e a realeza que não perdia um domingo ou dia santo para ostentar suas vestes finas e mostrar a todos que a coroa estava firme no poder.
Sentiu a madeira fria e pesada da porta ornamentada com grandes entalhes mostrando letras que deveriam ser do nome da família real quando a tocou. Suspirou mais uma vez sentindo-se frustrado com aquela primeira visão do lugar que seria seu lar por longos anos e abriu a porta entrando.
O velho padre estava no altar arrumando tudo para sua última missa, que seria na manhã seguinte. Ele foi até o ancião rapidamente se ajoelhando a sua frente assim que se aproximou. Fez uma reverencia sentindo a mão do outro tocar o topo de sua cabeça e levantou quando este o segurou pelo braço.
− Seja bem vindo meu filho – disse sorrindo e tossiu levando a mão a boca – o dia de hoje está um pouco gelado, venha comigo, vou lhe mostrar seus aposentos.
Caminharam lado a lado até chegar à área onde ficavam os aposentos do padre. Passaram por uma antessala repleta de livros empilhados em uma mesa. Na parede a estante estava vazia e uma espécie de lustre feito com madeira e velas, iluminava muito mal o ambiente.
Velas espalhadas por castiçais também de madeira sem utilidade por estarem quase no fim estavam em cada canto daquele cômodo. Continuou caminhando até que viu uma porta no final de um pequeno corredor, ali seria seu quarto.
− Não repare na bagunça, minha ajudante foi embora mais cedo por que sua família está adoentada. Amanhã quando terminar a missa ela já terá arrumado tudo nas caixas que levarão minhas coisas para a cidade onde vou morar. Sair de MoonSide é meu último desejo.
Ele sorriu fraco e entrou no cômodo. Viu uma cama de madeira escura coberta com lençóis brancos e um cobertor marrom. Ao lado dela uma mesinha no mesmo tom com um castiçal de dois braços. As velas dali estavam acesas, mas também não iluminavam muito bem o quarto.
Na parede contrária a cama, um grande baú que serviria para guardar suas roupas. Com certeza todas caberiam ali, ele provinha de uma família pobre e não tinha muitos pertences consigo. Ganhou duas batinas e dois pares de botas marrom de sua mãe, antes de deixar o mosteiro. Suas calçolas estavam gastas por isso trouxe poucas na trouxa.
Na cabeceira da cama tinha uma janela com grades fazendo com que ficasse curioso para saber onde daria. Será que veria a cidade dali? O velho padre disse que era para ele colocar suas coisas no lugar e vir comer alguma coisa. A vida ali começava muito cedo e eles costumavam dormir tão cedo quanto.
Depois de colocar sua batina dentro do baú com suas calçolas, deixou o outro par de botas no canto ao lado da mesinha de cabeceira, indo para a sala encontrar o ancião. Estava faminto e sentia seu estômago começar a doer.
Sentiu o cheiro da lenha do fogão junto com o aroma da comida caseira. Eles poderiam ser padres e nem tão ricos como muitos dos habitantes do castelo, mas pelo que viu não passavam fome.
Na mesa, que tinha perto do fogão, dois pratos de metal estavam dispostos com colheres ao lado e uma caneca em frente de cada um. Uma travessa com frutas frescas e outra com metade de um pão também estavam ali. O jovem homem sentou em uma das cadeiras e viu o velhote trazer um pedaço de carne. Ele sentou-se também colocando a comida sobre a mesa e se posicionou para orar. Agradeceram a deus pelo alimento que tinham em sua mesa finalizando com um sonoro “Amém”.
− Coma meu filho, sei que você veio de longe e no caminho com certeza nada tinha para se alimentar.
Sorriu junto com o senhor que pegou um pedaço daquela suculenta carne com as mãos. Partiu o pão colocando um pedaço na boca e sentiu seu estômago agradecer pelo alimento. Eles comeram e beberam um pouco de vinho que, segundo o outro, tinha sobrado da ultima missa. O outro padre era de poucas palavras assim como ele que só agradeceu quando sua taça foi enchida e voltou a abaixar sua cabeça comendo mais um pouco.
O velho homem disse que ele deveria ir dormir, acordariam cedo para terminar de preparar a missa onde seria apresentado a realeza e ao povo da cidade. Seguiram cada um para seus aposentos e foram, enfim, descansar.
Ao amanhecer, o galo que ficava na cerca perto da janela do quarto do ancião, os acordou cantando alto. O sol ainda não tinha subido completamente ao céu que parecia estar de um tom azul escuro mostrando que a noite ainda tentava continuar.
Levantou assim que seus olhos permitiram e caminhou até a porta. Precisava fazer suas necessidades e lavar seu rosto. Saiu do quarto encontrando o velho padre já com sua batina, pronto para as atividades daquele dia. Sabia que deveria se apressar antes que o sol raiasse para ajudá-lo nos preparativos.
Depois de fazer sua higiene, foi para dentro do salão onde encontrou a ajudante do velho padre. A mulher sorriu e se curvou indo em direção de suas mãos, as beijando.
− Bom dia padre, é uma honra ter o senhor aqui. Meu nome é Min Soo e serei sua ajudante.
Ele sorriu sem graça, não estava acostumado com essas coisas, então agradeceu a mulher por estar ali e foi ajudar o outro padre com a arrumação do altar para a missa.
As horas passaram, o sol subiu ao céu forte e, radiante, iluminou tudo mostrando que aquele não seria um dia tão frio. Já estava quase na hora que a família real costumava chegar e os padres foram para seus aposentos trocar suas batinas.
Aquele seria um dia de importante celebração, eles precisavam estar bem arrumados, por isso o velho padre lhe deu uma batina nova.
Ele foi para seu quarto trocar a roupa. Tirou a velha e surrada batina que usava a deixando em cima de sua cama. Vestiu seu novo traje olhando o quão bonito era.
O tecido se assemelhava a lã das mais bonitas ovelhas que conhecia, era branco com bordas avermelhadas e tinha arabescos que pareciam feitos com fio de ouro. Na gola, uma pala dourada onde o crucifixo ficava encaixado passando por dentro e aparecendo sem o cordão.
Sentiu-se como se fosse do alto escalão da igreja. Ao lado da cama encontrou um par de sapatos brancos que deveria usar, então tirou as botas deixando debaixo da cama, escondidas. Ouviu o padre lhe chamando e saiu indo com ele de volta para a igreja.
− Você ficou bem com essa roupa. Use-a sempre que a realeza vier à missa ou em dia santo. Peça a Min Soo que a deixe sempre limpa, use a velha batina para seu dia a dia e as tarefas com o povo. Agora vamos para a entrada receber nossos fiéis e esperar o rei.
Eles foram até as portas e abriram parando ali. Alguns fiéis já estavam esperando para entrar. Passavam beijando a mão do ancião e curvando-se para ele. Depois de algum tempo a carruagem do rei despontou mostrando que a família real estava chegando.
O rei Jeon desceu assim que seus guardas abriram a porta da carruagem e colocaram dois degraus junto de um tapete vermelho. Ele tinha uma postura realmente imponente, era um alfa da mais fina estirpe. Usava uma roupa branca com vermelho, em suas costas uma capa de pele com o brasão da família estampado em dourado e botas tão limpas e brilhantes que chamou a atenção do jovem padre.
Sua esposa saiu logo em seguida. Usava um vestido dourado com bordas vermelhas. Nos ombros uma capa mais curta com aparência de pele de cordeiro junto com algumas penas coloridas em vários tons de vermelho. Nos pés sapatos tão brancos como se fossem de algodão.
Quando a porta da carruagem ia ser fechada, ele apareceu. O filho do rei, príncipe Jeongguk, saiu ficando em pé ao lado de sua mãe. O jovem usava uma roupa toda branca que contrastava com seus cabelos negros. A pele pálida e a boca rósea o faziam parecer um anjo.
Os três caminharam sendo escoltados pelos guardas reais até a escadaria onde começaram a subir. O jovem padre estava deveras emocionado ao ver pela primeira vez o rei e sua família. Tinha ouvido falar deles sem nunca ter tido a oportunidade de estar em sua presença.
O homem chegou em frente aos padres, que o reverenciaram, e entrou sem dizer nada. Sua esposa beijou a mão dos clérigos e seguiu com o marido. O jovem príncipe cumprimentou os padres de cabeça baixa e falou em um tom quase tão inaudível que eles mal conseguiram responder.
A missa teve inicio assim que a realeza sentou em suas cadeiras perto do altar.
O velho padre rezou a missa toda em latim, língua que aprendiam no seminário, fazendo com que metade dos ali presentes não entendesse muita coisa. O rei parecia sonolento e piscava com frequência tentando disfarçar. O jovem padre achou que ele deveria estar assim por ter passado a noite em algum compromisso referente à sua cidade ou preocupado em como melhorar as condições dos cidadãos. A rainha parecia interessada e orava junto o tempo todo. Já o príncipe mantinha o olhar no piso da igreja como se quisesse estar em outro lugar.
Quase no final da missa o, agora, antigo padre apresentou a todos o seu sucessor.
− Altezas, cidadãos. Quero lhes apresentar o jovem que ficará no meu lugar e para quem vocês devem pedir auxilio espiritual. Esse é Kim Taehyung, o novo padre.
Nesse momento, o príncipe que estava desinteressado da ocasião, ergueu o olhar até o altar encontrando o rosto do jovem que fora apresentado. Ele sorria sem mostrar os dentes, parecia que estava feliz por ser o novo padre mesmo sendo tão jovem.
Jeongguk chegou a achar que talvez tivessem a mesma idade e invejou o outro por ter escolhido o que fazer da sua vida.
Todos levantaram dos bancos e oraram para que ele fosse abençoado e os guiasse para o bom caminho, assim como o senhor que os estava deixando. Taehyung orou junto pedindo a deus que o ajudasse a fazer algo por seu povo perante o rei.
Ao saírem da igreja, os cidadãos agora pediam benção e beijavam a mão dos dois homens da igreja. O rei e sua família cumprimentou o jovem Taehyung antes de voltar para o castelo. Ele acompanhou com o olhar, os três, até que entrassem na carruagem e não deixou de perceber que o príncipe olhou de novo para trás como se quisesse vê-lo mais uma vez.
Sorriu abaixando de leve a cabeça e viu o outro entrar e fechar a porta. A carruagem seguiu rumo ao castelo. Ao entrarem de volta, o antigo padre o chamou para lhe dar as últimas orientações de como tratar o povo e os reis. Eles sentaram na sala e o velho homem começou a falar.
− Sei que você é jovem e essa é a primeira igreja que você regerá. Tente fazer com que o povo participe das atividades da igreja. Faça quermesses, consiga o apoio do padeiro e do açougueiro para que doem alimentos e distribua aos mais pobres, aqueles que residem na beira da cidade onde mal se consegue chegar de carroça são os que mais precisam de nós. Quando você souber que tem alguém doente, vá até lá e ore por essa pessoa. Caso ela morra, dê sua ultima benção ao corpo antes do enterro – ele ouvia tudo atentamente. Era jovem e essa igreja seria sua primeira como um padre oficial. – mantenha sua fé sem deixar que o corpo domine a mente. Eu sou um ômega, como você, e nos meus dias de cio, ficava trancado dentro de meus aposentos evitando assim contato com o mundo exterior e com as tentações da carne. Alfas são imprevisíveis, evite-os a qualquer custo. – passou a mão no ombro do outro como um pai faria ao aconselhar seu filho - E finalmente, quando o rei ou qualquer pessoa do castelo te chamar, vá imediatamente. Largue tudo que estiver fazendo e corra para atendê-los. A rainha é uma mulher temente a deus e muito influente quando precisamos chegar até o rei. Ela lhe abrirá as portas caso seja gentil e generoso com ela.
Taehyung escutava e tentava gravar em sua cabeça todas as orientações que recebia. Ficaria sozinho dali para frente e tinha que se acostumar com a rotina da igreja. Não quis dizer ao velho homem que era um alfa, tinha seus motivos para esconder-lhe isso.
− E quanto ao príncipe, todas essas coisas se aplicam a ele também? O que devo fazer se ele me chamar?– o velho padre olhou em seus olhos e ficou um tempo calado. Parecia pensativo e antes de falar algo, suspirou.
− Fique longe dele. O que lhe disse sobre ser chamado e ir imediatamente, não se aplica a Jeongguk. O jovem príncipe não ficará aqui por muito tempo. Ele foi prometido ao alfa de uma cidade vizinha então seu casamento acontecerá em breve. Sei que esse homem é mais velho, bem mais velho que o príncipe e muito possessivo. Esteve em guerras e não pensará duas vezes se descobrir que alguém está tentando se aproximar de seu ômega, mesmo que seja outro ômega e um padre como você. Evite contato com ele, fique longe do castelo se for preciso e tudo ficará bem.
Taehyung aceitou aquilo de imediato. A última coisa que desejava era problemas com um alfa e a realeza. O ancião havia pedido a Min Soo que fizesse um almoço para que se despedisse do povo. Tinha uma grande amizade com o padeiro, açougueiro, florista, mercador de bebidas. Os anos naquela cidade fez com que o padre conhecesse um por um de seus moradores. Alguns fiéis trouxeram alimentos de casa e todos fizeram uma grande mesa na frente da igreja onde compartilharam aquele momento junto com os padres.
No final do dia,antes de entrar na carruagem que o levaria embora,o padre deu um abraço em seu jovem sucessor e o aconselhou.
− Meu filho, fique longe de encrencas e lembre-se: do príncipe também. Jamais abra a janela que tem em seu quarto e nunca escute as histórias que o povo conta sobre o que acontece nas noites de lua cheia. Elas são as mais silenciosas e claras então se ouvir alguém gritar ou chorar, reze e peça que o senhor deus ajude essa pobre alma.
Ele ouviu ficando um tanto curioso. Agradeceu a tudo que o velhote lhe disse e se despediu. A noite já estava chegando e como dito pelo outro, eles dormiam cedo, pois o dia ali começava mais cedo ainda. Taehyung entrou na igreja, fechou suas portas e se dirigiu ao fundo, onde ficava sua nova morada. Teria que se acostumar com a solidão do lugar, mas tinha seu deus para lhe ajudar.
Já fazia mais de um mês que ele estava naquele lugar e parecia que as coisas estavam tomando o rumo certo. As noites passavam tranquilas sem nada de estranho. De dia, o jovem passava ajudando os moradores da cidadezinha a vender suas hortaliças nas feiras que faziam em frente à igreja. Algumas vezes carregava tijolos para refazer as casas dos mais pobres e tirava entulhos das ruas fazendo com que as chuvas não deixassem tudo tão cheio de lama.
A noite ele dormia tão cansado que mal se lembrava das coisas que não deveria fazer.
A missa no final de cada dia tinha muitos fiéis e aos domingos quando a família real aparecia, ele usava sua roupa nova tentando rezar no melhor latim que sabia falar. Ao final de cada manhã, sentia-se observado conseguindo ver, às vezes, que o príncipe o cuidava quando passava para abençoar o povo. Via seus olhos negros como a noite mais escura seguindo seus passos e sorria tentando parecer simpático.
O garoto quase sempre disfarçava e olhava em outra direção.
Jeongguk lhe parecia tão novo, quase uma criança em um corpo de homem. Tinha um semblante sério demais e o olhar perdido no horizonte. Queria poder conversar com ele, talvez lhe aconselhar, mas lembrava das orientações que recebera do velho padre para que não se aproximasse demais do castelo e de seus moradores.
Em uma manhã, depois da missa de domingo, recebeu um recado trazido por um guarda do rei. Sua majestade, a rainha, estava chamando-o para ir até o castelo. Disse que precisava de seus conselhos. Como sabia que a realeza tinha prioridade, largou o que estava fazendo e acompanhou o guarda.
Ao entrar no castelo, ficou impressionado com o que viu. Ali dentro daqueles muros existia outra cidade. Não tinha casas mal construídas, nem barro no meio da rua. Existiam calçadas em pedra, um chafariz no meio do que lhe pareceu ser uma praça com uma grande estátua do rei em bronze. Lado a lado, as casas eram todas em uma cor padrão. Os telhados não eram de palha como do lado de fora, tinham uma espécie de cobertura com pele de animais o que deveria proteger melhor do frio e da chuva.
À medida que foi caminhando, viu crianças bem vestidas que brincavam sentadas em cadeiras e não no chão. Elas estavam bem penteadas, usavam roupas limpas e sapatos novos. Todas pareciam bem alimentadas, nenhuma era magra demais como as que ele via em seu dia a dia na frente da igreja, vendendo as frutas e verduras com seus pais.
Ao chegar em frente do portão que o levaria para dentro do castelo em si, viu uma fileira de guardas que empunhavam espadas e algumas lanças. Todos estavam usando armaduras de metal e tinham alguns elmos em suas cabeças que as cobriam da testa as orelhas. Olhou impressionado para um palanque que ficava mais ao lado esquerdo daquele portão vendo se tratar de um lugar para enforcamentos. Sentiu um calafrio ao ver aquilo e entrou um pouco tristonho por constatar que realmente o rei não tratava a todos da mesma forma.
O guarda que o conduzia pelos corredores do castelo, não falava nada. Carregava uma espada grande em sua cintura e caminhava pisando firme. Ele abriu uma porta e fez sinal para o jovem padre entrar. Fechou a mesma assim que Taehyung entrou o deixando ali sozinho.
O lugar parecia uma biblioteca, tinha algumas estantes cheias de livros, um sofá de veludo branco com almofadas em vermelho e dourado. Perto da janela uma mesa com uma poltrona que achou pertencer ao rei pelo formato da mesma. Nas paredes algumas tapeçarias, cabeças de animais empalhados que provavelmente o monarca teria caçado e um quadro dele, pintado à mão, montado em um cavalo empunhando uma espada.
Os candelabros dali eram diferentes dos que tinha na sua igreja. Mesmo o lugar tendo sido arrumado para receber o rei e sua família, tudo lá era simples e feito de madeira ou de ouro barato. Viu que as velas que iluminavam o ambiente eram mais grossas e feitas de um tipo de cera mais branca. Talvez durassem mais ou proporcionassem uma luz mais forte.
Respirou fundo sentindo o ar frio do lugar entrar em seus pulmões e o arrepiar. Na rua o dia estava com sol alto, irradiando um calor agradável, mas ali dentro parecia que as paredes de pedra eram tão gélidas quanto uma sepultura.
Ficou em pé esperando que sua majestade aparecesse, não se sentiu a vontade para sentar sem que ela estivesse presente. Olhava pela janela, vendo as pessoas caminharem do lado de fora quando escutou o ranger da porta de madeira que abriu.
Antes de se virar sentiu o cheiro adocicado de alguém. Seus olhos fecharam sentindo uma fisgada em seu ventre com aquele aroma. Percebeu se tratar de um ômega que deveria estar perto de seu cio, tratou de se recompor e passou a respirar curto.
− Boa tarde padre. Obrigado por ter vindo até aqui atendendo o meu chamado.
Taehyung se assustou, aquela voz não era feminina. Virou-se vendo o príncipe parado ali, ficou sem saber o que fazer ou dizer, sabia que não deveria se aproximar do castelo a convite do jovem Jeongguk. Curvou-se assim que virou de frente para o outro o cumprimentando.
− Boa tarde, alteza. Desculpe minha humilde roupa estava pronto a atender os pobres e não tive tempo de me trocar.
Jeongguk caminhou até ele ficando perto para que sentisse mais forte seu cheiro. Ouvia o som de sua respiração como se o jovem estivesse colado a si. Sentiu seu coração disparar com essa proximidade e lembrou de um dos conselhos do velho padre: evite contato com ele.
Levantou o corpo voltando a ficar ereto com as mãos cruzadas em frente ao corpo. Evitava respirar fundo e olhar no rosto do príncipe.
− Tudo bem padre, eu não me importo com suas vestes. Se quiser pode sentar – falou e passou por Taehyung que não sabia o porquê tinha sido chamado ali em nome da rainha.
Ele ficou sem olhar para o príncipe por mais alguns minutos só pensando em como sair logo dali. Escutava a respiração do outro que ecoava dentro daquele ambiente. Depois de pensar e repensar decidiu dizer qualquer coisa para ir embora.
− Alteza, eu não sei porquê o senhor me chamou, mas se me der licença eu preciso... – fora interrompido pelo outro que estava de costas olhando uma das estantes de livros.
− Eu gostaria que você fosse meu amigo – disse direto, pegando um livro e limpando o pó que se acumulava nele – na verdade eu preciso de um amigo e você parece ter minha idade então eu pensei que poderíamos nos conhecer.
Ao ouvir aquilo, Taehyung arregalou os olhos e lembrou mais uma vez das coisas que o velho padre lhe disse: “ele não pensará duas vezes se descobrir que alguém está tentando se aproximar de Jeongguk”. O risco que corria ao estar ali e ser descoberto pelo futuro marido do jovem príncipe, era imenso.
− Alteza eu sou só um padre. Como poderia ser seu amigo? Não acho que seja digno dessa honra.
Jeongguk olhou para o jovem que mantinha seu corpo levemente curvado e o olhar no chão. Abaixou o livro caminhando de volta até onde ele estava.
− Padre, olhe para mim. – pediu em um tom baixo – eu sou só um garoto como você e sou muito sozinho. Não sei se percebeu, mas nessa cidade não temos jovens da mesma idade que nós, os poucos mais jovens ainda são crianças que brincam de calças curtas e correm atrás de pássaros e borboletas. Vou me casar em breve, gostaria de saber como é ter alguém da mesma idade para conversar. Poder sair para caminhar ao lado de alguém que pensa como eu ou que não vai me falar sobre meus deveres como futuro herdeiro desse reino. Não acho que seja uma honra ser meu amigo e sim uma caridade.
Taehyung, que segurava a lateral de sua batina apertando o tecido entre os dedos, nervoso com aquela situação, foi erguendo o corpo lentamente até que parou ereto olhando no rosto do mais novo. Ele estava com o mesmo semblante sério das manhãs que ia a igreja. Parecia estar sendo sincero ao fazer esse pedido tão difícil de ser cumprido. Respirou fundo e tentou sorrir mostrando que aceitava aquilo.
Jeongguk correspondeu mostrando um semi sorriso de um lado do rosto. Quando ele ia dizer algo sua mãe, a rainha, entrou no cômodo. Ela parecia estar lhe procurando e ficou com ar surpreso ao ver o padre ali.
− Boa tarde minha rainha. – ele disse assim que se curvou diante dela.
− Padre Taehyung, o que faz aqui? Aconteceu alguma coisa na igreja?
O jovem não sabia se podia contar o real motivo de sua visita ao castelo então permaneceu calado por alguns instantes pensando no que dizer.
− Eu o chamei aqui minha mãe. Queria me confessar e como hoje cedo na igreja percebi que o padre estava muito ocupado, solicitei sua presença no castelo para este fim.
Jeongguk respondeu largando o livro que ainda segurava em cima da mesa indo dar um beijo no rosto da progenitora. Ela continuou olhando para ambos que estavam um pouco distante e deu o rosto ao filho, que a beijou. Taehyung continuava curvado olhando para o chão sem nada dizer.
− Oh, muito bem meu filho. Não imaginei que você se confessasse sem ter pecado, mas sempre é bom mostrar a deus o quanto somos servos fiéis as suas leis. – a mulher falou olhando para o padre que estava parado a sua frente – não vou lhes incomodar mais. Depois que terminar aqui, passe nos meus aposentos, quero lhe mostrar algumas roupas que chegaram para a cerimônia de seu casamento.
Jeongguk assentiu e abaixou a cabeça assim que a mulher fez menção de sair. Quando esta fechou a porta da biblioteca, Taehyung ergueu o corpo e suspirou.
− Alteza, acho que sermos amigos como diz não seria bem aceito pela rainha. Acredito que ela deva ter outro conceito de pessoas para se relacionar com vossa majestade.
− Padre, eu peço que repense sobre isso e que aceite meu pedido. Como eu disse não temos muitos jovens no reino e seria muito bom ter um amigo antes de partir.
Taehyung concordou em um movimento de cabeça e pediu desculpas, mas realmente tinha compromissos que estava faltando. Despediu-se rapidamente e saiu dali indo o mais breve que conseguiu para sua igreja.
Ao entrar na igreja foi até o altar e se ajoelhou. Sentia seu coração bater forte dentro do peito e uma ansiedade atípica tomava conta de seu corpo. O cheiro do ômega ainda estava impregnado em suas narinas e sua mente tentava traí-lo.
Pediu perdão a deus por ter, por um segundo apenas, ter pensado em como seria ter o príncipe em seus braços. Sabia que aquilo não passava do instinto dos alfas quando sentem o cheiro do cio de um ômega se aproximando.
Juntou as mãos e orou pelo perdão divino até que seus joelhos doessem tanto que mal conseguiu erguer seu corpo. Saiu dali e tentou esquecer de que esteve no castelo e do pedido que o príncipe havia lhe feito.
Voltou à rua onde as crianças brincavam e fora participar de uma ajuda que estava sendo dada a uma senhora que teve a casa derrubada na ultima tempestade de vento.
MoonSide era uma cidade que ficava entre montanhas e os ventos dali, quando vinham na madrugada com muita força, arrancavam paredes e telhados feitos com material barato deixando seus moradores desabrigados.
Passou o restante do dia e o inicio da noite entre seu povo, vendo como se ajudavam mutuamente e se apoiavam dividindo o pouco que tinham. Sentiu-se orgulhoso por poder estar ali entre eles e por um momento teve pena do príncipe que vivia dentro do luxo e era solitário.
Foi para a igreja assim que a primeira estrela apareceu no céu, pois precisava descansar. Na manhã seguinte teria muitas outras coisas para fazer pelos seus fiéis. Deitou, assim que comeu algo e tomou um banho na tina que ficava em seu quarto. Sentia seu corpo cansado e o sono logo chegou.
Naquela noite as corujas que ficavam em sua janela não piaram. O silencio foi grande e ele conseguiu dormir profundamente.
Os dias iam com a mesma rapidez que as noites chegavam. As notícias de que o casamento do príncipe se aproximava fazia o jovem padre pensar sobre seu pedido. Achou que concordar com aquilo seria colocar sua vida em risco, não queria que descobrissem quem ele era, mas não podia negar algo a uma alma sofredora. Seu deus era misericordioso e como seguidor fervoroso de suas leis, decidiu que no domingo trocaria uma palavra ou duas com o príncipe sobre isso.
O dia estava iniciando como todos os outros. O sol ainda não tinha nascido quando ele acordou levantando de sua cama para seguir com suas obrigações matinais. Tinha que estar com a igreja limpa e arrumada para a missa daquela manhã.
Depois de fazer sua higiene, colocou sua velha batina e foi tratar da arrumação dali. As horas sempre passavam rápido antes da missa e quando se deu por conta, já estava quase na hora de abrir a igreja. Correu para seu aposento, pegou a batina de domingo e trocou deixando a sua velha na cama, como costumava fazer.
Caminhou apressado até a porta e a abriu. O dia estava bonito, o céu limpo em um anil belíssimo onde os pássaros voavam em duplas mostrando a beleza do senhor seu deus com sua criação. Respirou fundo e viu os primeiros fiéis chegarem.
Um a um os cidadãos dali entravam cumprimentando o jovem padre. Ele sorria para as idosas e crianças que chegavam com suas mães. Começou a prestar atenção que não tinham muitos jovens naquele lugar, assim como o príncipe havia lhe dito. Mulheres betas e ômegas, crianças na sua maioria meninas e pessoas já passando da casa dos quarenta.
Não se via alguém como ele, que ainda beirava a juventude, nem que fosse um alfa. Achou estranho e pensou em conversar com algum de seus conhecidos depois da missa para descobrir o porquê daquilo. Não tinha muito contato, ou nenhum para ser sincero, com as pessoas que viviam dentro dos muros do castelo. Pensou se talvez lá existiriam mais jovens do que ali, o que lhe pareceu não fazer sentido.
O príncipe não teria por que mentir ou lhe pedir amizade caso fosse isso que acontecesse. Parando de pensar um pouco naquilo, viu a carruagem real se aproximando. A beleza daqueles cavalos jamais seria comparada a fragilidade dos que puxavam as carroças de seu povo.
O cocheiro desceu, os guardas se aproximaram e o rei saiu lá de dentro. Como sempre, usava a roupa de ir a missa com sua coroa na cabeça e o manto nos ombros. A rainha saiu logo em seguida e, Taehyung, ficou esperando para ver o jovem príncipe.
Jeongguk não estava na carruagem desta vez. O rei e a rainha subiram as escadas e passaram pelo jovem que os cumprimentou. Entraram indo sentar em suas cadeiras esperando o inicio da missa. Taehyung achou estranho, mas não podia perguntar a ninguém o porquê da ausência do príncipe. Entrou encostando a porta e foi para o altar iniciar a missa daquela manhã.
Quase no final da liturgia, antes da benção final que era seguida pela comunhão, ouviu-se um barulho que veio da porta da igreja. Jeongguk apareceu e entrou indo para a cadeira ao lado de sua mãe. Sentou calado e permaneceu de cabeça baixa. O padre desviou a atenção do jovem, seguindo o que fazia.
Comunhão dada, benção recebida. Todos começaram a se despedir saindo da igreja. O rei, que parecia estar com pressa, saiu logo depois que o ultimo cidadão passou pela porta. A rainha o seguiu fazendo um sinal para Jeongguk que levantou e foi para o altar.
Ele se ajoelhou ali em frente a imagem de um santo, juntou as mãos e pôs-se a orar. A mulher seguiu caminhando até chegar à porta onde um dos guardas estava. Ela falou com ele e olhou para o príncipe. O guarda se curvou vendo que ela saiu voltando com o marido para o palácio.
Taehyung estava parado perto de Jeongguk no altar, vendo que ele orava baixo. Sentiu novamente seu cheiro assim que este levantou mexendo nos cabelos. Parecia que estava mais intenso desde o dia que se viram pela ultima vez.
O outro, sempre de branco, estava com uma calça, bota de montaria e uma camisa com alguns botões abertos perto do pescoço. Usava um colete em vermelho e dourado que tinha o brasão de sua família.
O padre observou que ele não parava de olhar para as imagens que tinha ali. Seus olhos pareciam perdidos nelas como se buscasse algo. Antes que ele saísse para colocar as coisas de volta no lugar, o jovem príncipe começou a falar.
− Desculpe ter chegado tarde a missa, esta não foi uma das minhas melhores noites padre.
− Fique tranquilo alteza, Deus não se importa com horários. O que ele quer é que seus filhos queiram estar em sua casa.
O ômega virou olhando o jovem padre que desviou o olhar para uma taça de ouro e rubis que estava no altar. Ele a pegou e iniciou a arrumação de tudo. Parecia ocupado, fazendo as coisas um pouco apressadamente. O jovem príncipe observava como o padre caminhava rápido de um lado para outro, ficando parado onde estava.
Taehyung terminou tudo e se ajoelhou para fazer uma breve prece. Ao se levantar pode ouvir a voz de Jeongguk.
− Padre, você pensou no pedido que lhe fiz?
Sentiu que não teria como escapar de uma resposta então virou para olhar no rosto do outro.
− Pensei meu filho – o tratou como se fosse um de seus fiéis – não acho que seria aconselhável.
Jeongguk virou de frente para ele e se aproximou mais um pouco. Ficaram olhando um nos olhos do outro e Taehyung pode ver a tristeza naqueles orbes escuros.
− Não me chame de filho padre, temos praticamente a mesma idade então não me afaste dessa maneira. Não pedi nada impossível, só preciso de um amigo. – chegou mais perto podendo sentir o calor que vinha do corpo do outro. Taehyung respirava curto, não queria que sua mente atrapalhasse sua fé. Estava tão próximo do mais novo que podia ver a veia em seu pescoço pulsar. Aquilo mexia com seu intimo de uma forma que nunca tinha acontecido.
− Tudo bem alteza. Eu posso tentar ser seu amigo. – respondeu com esperança de que o outro fosse embora satisfeito por ter conseguido o que queria.
Jeongguk sorriu mínimo. Parecia que tudo que o garoto fazia era pequeno como se não quisesse ser percebido por ninguém. O guarda que estava parado na porta não conseguia ouvir os dois conversando por que o altar ficava distante, mas não parava de cuidar a atitude que tinham um com o outro.
− Obrigado. Você não tem ideia de como isso é importante para mim. Está vendo aquele guarda parado lá na porta? Ele é um dos homens que meu futuro marido mandou para vigiar meus passos. Preciso ir agora, mas poderíamos nos ver amanhã na capela que fica perto da saída da cidade?
Ao dizer aquilo, Taehyung só mexeu os olhos levemente assentindo com o encontro. Não sabia o que estava fazendo, mas não conseguiu negar. O príncipe agradeceu curvando seu corpo um pouco para frente e saiu. Ficou olhando o garoto que passou pelo guarda sendo seguido por ele logo em seguida. A grande porta da igreja fechou e Taehyung tremeu.
O que estava acontecendo com ele. sentia todo seu corpo tremer sem conseguir negar o pedido do príncipe mesmo que o medo por estar indo contra as regras ditadas pelo antigo padre estivessem sendo descumpridas.
Não deveria ter contato com o futuro rei e tinha acabado de aceitar ser seu amigo. Pior que isso iria se encontrar com ele como se fossem dois amantes em um lugar secreto. Deveria estar enlouquecendo ao colocar sua vida e do outro em risco caso o alfa prometido a ele descobrisse essa amizade.
Respirou fundo deixando o ar sair pela boca e emitiu um som que parecia vir de seu estômago como se tentasse digerir tudo que acontecia. Virou-se de vagar até ver as imagens atrás de si e sentou nos degraus que levavam a parte mais alta do altar.
Na manhã seguinte teria que ir ver o que o príncipe queria e não conseguia coordenar nada do que pensava. Ouviu a porta voltar a ser aberta e se assustou. Uma voz de criança ecoou ali tirando o jovem padre de seus pensamentos confusos.
− Padre, padre, minha mãe pediu que o senhor fosse ver minha tia. Ela não está bem e parece que ‘tá morrendo.
Taehyung levantou do chão limpando a roupa que usava. Sorriu para a criança que corria em sua direção e foi pegar sua bíblia. Precisava se preocupar com seus fiéis e deixaria para o dia seguinte esse problema com o príncipe.
Passou a tarde e o inicio da noite na casa da florista. A irmã dela esteve muito doente por semanas e veio a falecer naquele dia.
Quando voltou para seu recanto nos fundos da igreja, sentiu seu corpo cansado e faminto. Passou orando pela mulher e velando o corpo, sem lembrar de comer, até que precisou ir embora. O enterro seria na manhã seguinte então necessitava descansar, assim como todos da casa foram fazer.
Entrou em seu quarto que estava escuro por não ter nenhuma vela acesa e foi em direção de sua cama. Sentou ali tirando os sapatos brancos que ainda usava por conta da missa da manhã. Seus pés doíam e sua cabeça rodava. Levantou com os pés descalços mesmo e foi até a cozinha pegar um pedaço de pão.
Viu ali uma bandeja com comida coberta por um pano e pensou que Min Soo tivesse deixado para ele. Sentou na cadeira que puxou para perto do fogão e comeu. A carne estava suculenta e tinha algumas batatas acompanhando. Agradeceu enquanto mastigava por essa benção.
Limpou a boca e voltou para seu quarto. Não conseguia pensar em nada, só em dormir para acordar cedo no dia seguinte.
Na manhã seguinte, Taehyung abriu os olhos assim que o galo cantou. Sentia cansaço por te dormido de mala jeito. Levantou da cama e foi pegar água para colocar na tina e tomar um banho. Na noite anterior acabou adormecendo sem fazer isso.
O dia estava nublado e tinha um pouco de vento. Ele fazia barulho nas janelas deixando o ar tristonho. O padre tinha dois compromissos para aquela manhã: um enterro e um encontro.
Colocou sua batina, calçou suas botas e saiu para ir ao enterro. Se o príncipe estaria esperando por ele não sabia, mas tinha uma mulher que fora sempre muito atenciosa consigo desde que chegou ali e que precisava que ele dissesse algumas palavras para encomendar sua alma a deus.
Depois do enterro acontecer, ele foi até a tal capela que o príncipe falou. Ainda estava temeroso em ter aceitado fazer essa loucura de ser amigo dele, mas tinha dado sua palavra. Ao chegar lá viu um cavalo amarrado em frente a uma arvore. Se aproximou da porta da capela que era pequena, tendo somente uma imagem ali.
− Alteza? – chamou assim que viu um homem sentado no banco de pedra que tinha lá dentro. Não conseguia ver direito por causa da capa com capuz que cobria seu corpo e cabeça.
O homem virou-se e levantou. Caminhou até chegar mais perto. Taehyung sentia seu coração bater forte pensando que poderia ter sido pego antes mesmo de fazer algo errado. Para sua sorte, era o príncipe. Ele estava com um pequeno sorriso no rosto e uma expressão mais leve.
− Bom dia padre. Achei que não viria.
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The Priest
FanficUm jovem padre chega a cidade para assumir a igreja. O príncipe dali está comprometido com um homem mais velho. Talvez uma amizade surja de forma inesperada e talvez traga um sentimento mais forte consigo.