Capítulo único (será?)

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Essa poderia ser a história de uma menina com o cabelo preso em um coque frouxo que perdeu os pais num acidente, se mudou para outro país sabe-deus-por-que-razão e, por um inacreditável golpe de bondade do destino, encontrou seu maior ídolo numa franquia do Starbucks.

Certamente, para não abrir mão dos prazeres do clichê, o tal ídolo deveria se apaixonar por mim à primeira vista.

Mas não, minha história não é sobre isso.

Para começo de conversa, meus pais estão muito bem, obrigada. Inclusive, minha mãe me deu a maior bronca quando eu estava saindo de casa por minha roupa revelar demais ou qualquer coisa assim.

Enquanto parte de mim sabe que eu posso me vestir como quiser sem precisar dar satisfações a ninguém, a outra, uma mais racional e compreensiva, sempre me impulsiona a discursar para meus pais através de diversos argumentos que eu posso me vestir como quiser sem dar satisfações a ninguém.

Entretanto, eu estava com pressa para chegar ao ponto de encontro de uma festa e inevitavelmente a vencedora foi a primeira opção, então eu só saí de casa fingindo não ouvir suas reclamações persistentes.

E é dessa forma que eu chego ao ponto em que quero chegar desde o primeiro parágrafo.

O ponto de encontro para o bate-e-volta que me levaria até a supracitada festa, que foi planejada para acontecer no quinto dos infernos ou quase lá, foi marcado em frente a um teatro. Pontual como sou, eu cheguei ao local com trinta minutos de antecedência, assim como foi instruído pela organização do transporte.

Eu só esqueci que moro no Brasil, um lugar cheio de brasileiros que fazem o quê? É, brasileirices.

Brasileirice número um: forme filas para tudo, mas sempre reclame delas.

Brasileirice número dois: nunca, em hipótese alguma, chegue no horário marcado.

O código de conduta do brasileiro diz claramente: se foi marcado às vinte e uma horas, só chegue às vinte e duas.

Sério, essa merda nasce com a gente. Está no nosso DNA.

Mas eu, com toda minha pompa de destruidora de convenções, esqueci desse detalhe e cheguei no teatro quando era suposto ter chegado, caso isso tudo não fosse organizado por brasileiríssimos.

Felizmente, eu não fui a única. Duas outras meninas que pareciam sofrer com a mesma pontualidade inconveniente que corre em minhas veias já estavam lá.

As duas eram bonitas. Lembro que consegui chegar a essa conclusão antes de passar a prestar atenção em somente uma delas. Enquanto esperávamos juntas, eu descobri que seu nome era Marina.

Marina disse estudar na mesma universidade em que fui aprovada recentemente. Marina tinha dezoito anos. E Marina tinha umas pernas que deus benza.

Ainda tem, na verdade.

Eu descobri outras coisas sobre Marina, depois. Provável que também tenha escutado qualquer informação sobre sua amiga, mas eu não estava muito interessada para retê-la.

Depois, uma outra amiga delas chegou. Eu fiquei em dúvida sobre seu nome por um tempo. Não sabia se era Ruth ou Raquel, mas também não me preocupei muito em descobrir.

Algum tempo depois, o ônibus chegou e eu, Marina, Ruth/Raquel, a outra amiga e várias outras pessoas finalmente sentamos em nossos lugares e fomos até a esperada festa.

O percurso foi meio assustador, eu confesso. O motorista se perdeu e nós fomos parar no que me parecia literalmente o fim do universo, porque a pista tinha desabado e só tinha mato de um lado e mar do outro, mas deu tudo certo. Ou quase tudo, já que eu ainda não tinha beijado Marina, mas a noite tinha acabado de começar, certo?

Ela vomitou no meu casacoWhere stories live. Discover now