Prólogo

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Por mais de um século eu vivi longe do meu lar, buscando pelo mundo algo que nem eu mesmo sabia o que era, talvez eu estivesse buscando uma forma de suprir a falta que algumas pessoas me fazem, esse é um dos lados ruins em ser um vampiro, pessoas se vão, e eu continuo aqui, preso na eternidade, vagando pela escuridão, muitas vezes sem ao menos ser notado.

— Isso é uma ordem Ryan! — disse a voz rouca do outro lado do telefone, era meu tio, Nicholas Beaumont. — eu levei anos para localiza-los, e estou sem tempo para fazer o trabalho, então preciso que você faça por mim!

Eu estava em um telefone público, um dos poucos que tinha em Clovelly. Essa cidade sempre foi meu lar, é pacata, localizada no interior da Inglaterra, eu já estava sentindo falta daqui.

— Tudo bem, Nick, eu vou fazer o que você quer, mas tem que me prometer que vai me deixar ficar aqui.

— Por que você quer ficar nesse fim de mundo? Ouvi dizer que ai não tem Wi-Fi.

— É onde está minha casa, minhas lembranças, e é onde eu quero ficar!

Ouvi ele bufar do outro lado da linha.

— Ok, faça o serviço e pode ficar, mas não pode passar dessa noite!

— Tudo bem, vou resolver isso agora.

Ele desligou. Fiquei alguns minutos dentro da cabine telefônica pensando em como eu acabaria com uma família, sem que isso virasse um escândalo no dia seguinte. Resolvi que seria da forma mais fácil possível.

O céu estava limpo, apenas as estrelas e a lua cheia brilhavam sobre a minha cabeça. O relógio da torre da igreja marcava 01:40 da manhã. Tive facilidade em encontrar a casa onde residia a última linhagem da família que havia acabado com o clã dos Beaumont há 145 anos atrás.

Os Fowlers chegaram em Clovelly em 1873, atraídos pelas notícias sobre o massacre que estava tendo na cidade, eles não eram burros, eram caçadores e sabiam que se tratavam de vampiros. Com a ajuda de uma bruxa, conseguiram armas antes nunca vistas, e dizimaram o clã do meu tio, e desde então, ele abomina essa família. Finalmente ele havia localizado os descendentes, e decidiu que anos depois, iria se vingar, e faze-los sentir o mesmo que ele sentiu. Eu já havia matado antes, por defesa, claro, então não seria um problema para mim. Seria rápido e indolor. Ou não.

— Vamos lá, Rye — murmurei. — pela sua liberdade.

Abri uma das janelas da casa e entrei cautelosamente. Ela era de um dos quartos, alguém estava dormindo na cama. Me aproximei para ver quem seria meu primeiro alvo. A luz do luar que entrava pela janela iluminou o jovem garoto que ali estava, e foi nesse momento que eu me perdi.

— Isso é impossível.. — sussurrei para mim mesmo. Pude perceber alguns detalhes nele, os cabelos dourados, a pele branca com algumas pintinhas no pescoço, as covinhas na bochecha, e os lábios rosados. Eu só podia estar delirando. — Mason...

Uma brisa entrou pela janela soprando sobre o garoto, ele se mexeu e percebi que ele iria acabar acordando. Saí o mais rápido que pude, e me escondi na escuridão do lado de fora.

Eu estava cumprindo ordens, induzido pela raiva, mas nunca foi um desejo meu fazer aquilo, eu perdi pessoas importantes por causa dos Fowlers, mas essas pessoas não tinham culpa do que seus antepassados fizeram, e agora que eu o vi, percebi que não podia continuar. Eu precisava conhece-lo, precisava entender a relação entre tudo isso, para depois decidir se devo continuar ou não.

— Me desculpe tio Nick — pensei em voz alta enquanto voltava para casa. —terei que decepcioná-lo mais uma vez.    

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