V - pontes, cigarros e Ellie

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Merda. Era ela. Ela que me deixou a tarde inteira sonhando com ilusões de infância e que em 15 segundos acabou com todas as minhas esperanças e os meus sentimentos. Ela que fez com que eu me sentisse ridícula, ela que me fez sentir culpada por estar brava. Ela... que me faz estar apaixonada e ao mesmo tempo tão furiosa que eu poderia simplesmente esmagar a maçaneta e pedir para que sumisse da minha frente.

- O-oi...- respondi abrindo a porta.

- Você está bem? - ela me perguntou e fechei a porta atrás dela.

- Sim. - o que eu menos precisava naquele momento era lidar com ela. Tudo o que eu queria era me esquivar da situação e esquecer do que eu tinha visto.

- Porque está estranha? - resolvi ignorar a pergunta e simplesmente fingir que ela não tinha dito nada - Escuta, se não for um bom momento eu posso voltar depois. Na verdade eu realmente precisava conversar com você...

- Conversar Ellie? Você não fala comigo a semanas e de repente aparece no pior momento!

- Olha me desculpa se eu me afastei de você, eu só preciso te explicar algumas coisas.

- Acho que você não precisa explicar, não é mesmo? - subi o tom e sem perceber apontei para a tela do computador.

Ellie olhou para a tela e viu o post aberto na primeira página. Ela se voltou para mim com os olhos cheios de lágrimas e arrependimento. Não por ter visto aquela foto ou por estar nela, mas por ter ido ao meu quarto. Com aqueles olhos decepcionados e cansados, de como quem sentia vontade de apenas desistir de tudo, ela deixou uma lágrima escapar enquanto sussurrava com a voz trêmula.

- Você não tinha nenhum direito de fazer isso. - ela saiu correndo do quarto e então eu percebi o tamanho do estrago que tinha feito.

Foi um reflexo. Eu não queria ter feito aquilo. Não queria ter jogado na sua cara as minhas inseguranças. Minhas e de mais ninguém. Não queria ter feito ela se sentir mal. Não queria ser o motivo para ela chorar naquela noite fria.

Era eu. Eu era aquela que tinha criado expectativas que feriam a todos ao meu redor incluindo a mim mesma. Eu fiz com que ela se sentisse ridícula, não o contrário.

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Saí correndo pelos corredores sem me importar se eu fazia barulho. Já eram quase 10 horas da noite e eu sabia muito bem que eu seria repreendida. Mas nada importava. Em um ponto cheguei até a pensar que eu deveria fazer ainda mais barulho para que percebessem o que estava acontecendo. Correr era um grito por ajuda. Mas ninguém poderia me ajudar. Não quando eu mesma tinha causado a tempestade.

Entrei no primeiro táxi que eu vi e pedi para que o motorista circulasse a área. Eu só precisava encontrar Ellie.

De repente comecei a pensar no que faria se realmente a encontrasse. Como eu justificaria o que tinha feito? Eu a encontraria na fonte em que fomos na sua primeira noite, então desceria do carro e ela estaria com os pés na água. Eu sentaria ao seu lado e a diria que sinto muito, e que esperava não ser tarde demais. Ela iria me encarar e dizer que não importa o quanto eu tentasse, nunca ia concertar as coisas. Nem eu mesma sabia porque tinha feito tanto estrago. Mas tudo o que eu imaginava parecia cada vez mais estar mais distante da realidade, Ellie parecia tão longe.

Foi quando achei que tudo tinha acabado que a vi entrando em um carro perto da avenida principal. Pedi para que o motorista a seguisse e o deixei me levar até a Salmon Weir Bridge. Paguei o homem que gentilmente me ofereceu um sorriso e desci do veículo devagar. Ela estava sentada na beirada da ponte com casaco enorme e um cigarro na mão. Meu coração saltou para fora do meu corpo e eu senti uma vontade enorme de chorar. Fui até lá e continuei de pé atrás dela. Só o que eu queria era que ela não tivesse notado a minha presença e me tivesse deixado ficar lá a observando.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2018 ⏰

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After The Sunset//Uma História de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora