Capítulo 2

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-Eu sou uma pessoa muito ocupada e já me encontro atrasado, então a senhoria só iria facilitar as nossas vidas aceitando o cheque que acabei de lhe dar. - o homem na minha frente fala uns segundos depois de ter fixado os seus olhos nos meus.

-"As nossas vidas"? - questionei incrédula e em seguida solto um riso sarcástico - Facilitar a SUA vida quer o senhor dizer! Porque você é que se está a querer livrar da justiça!

-Eu digo nossas porque o valor que lhe passei é 20 vezes mais que o real valor que será o arranjo do seu carro. Aceitando você só fica a ganhar. Veja o dinheiro extra como o meu lamento pelo que aconteceu. - e no fim dá um sorriso de lado, fazendo-me concluir que ele não estava realmente a lamentar o que aconteceu.

Se ele não tivesse sido tão idiota, tão ridículo e tão ordinário, eu até ponderaria em achar aquele sorriso sexy.

-O senhor só pode estar a gozar com a minha cara! - eu finalmente consegui falar após o choque que tive ao ouvir as suas palavras. -Olhe aqui! - e apontei o dedo para a sua cara apesar de eu ser visivelmente mais pequena que ele e claramente falhando na minha tentativa de o intimidar. -Eu não sei quem o senhor é. Não faço ideia o que estava a pensar quando achou que eu aceitaria essa sua atitude corrupta, mas eu sinceramente nem quero saber! Dane-se isso tudo! Agora, o senhor não me conhece e pode ter a certeza que não vai sair daqui até ambos assinar-mos a declaração amigável! Visto que o senhor não se importa de assumir que é o culpado, realmente sendo, assina-se a declaração e SÓ aí é que a SUA SEGURADORA irá pagar o dano do meu carro, que até pode ser pouco porque ele é velho mas é MEU e é o que EU tenho e paguei com o MEU suor. Mas é a SUA SEGURADORA e não VOCÊ que vai pagar! Eu fiz-me entender?? - quando dei por mim estava demasiado perto. Empolguei-me tanto que fui-me aproximando e estava praticamente colada nele.

Rapidamente me recompus, recuando uns três passos e encarei-o esperando uma resposta. Ele parecia surpreso, confuso e irritado ao mesmo tempo. Parece que o "senhor que se acha dono do mundo" não está acostumado que lhe façam frente e não gosta de ser contrariado. Pois temos pena porque eu não sou nenhuma boneca para ser manipulada a fazer o que esta gente quer! 

Ele olhou-me durante uns segundos com uma expressão que eu agora não conseguia descodificar o que lhe pudesse estar a passar pela cabeça, só sei que me senti demasiado observada por ele e aquilo estava a provocar-me sensações estranhas e desconhecidas.

Não teve tempo de me responder, pois um carro preto, bem no estilo do carro do "senhor importante", embora esse agora tivesse um pouco amassado. Ambos olhamos na direção do carro que encosta perto de nós para não atrapalhar o trânsito e um senhor mais velho sai de dentro do veículo e vem na nossa direção.

- Robert, retira tudo de dentro do carro e liga para o reboque. Eles que venham buscar este carro e que façam o que quiserem com ele. Vou só preencher aqui um papel e já seguimos para a empresa. - ele fala para o homem assim que ele chega perto de nós.

-Sim, senhor. - responde simplesmente.

Esse homem, que descobri chamar-se Robert, vira-se e faz uma chamada breve e logo se desloca ao carro amassado e abre a sua porta traseira. Enquanto isso, o imbecil já se encontrava inclinado sobre o capô do carro preenchendo uns papeis que julguei ser a declaração amigável. Ele não estava com uma expressão muito contente. Provavelmente não se conformava com o facto de ter de fazer as coisas à minha maneira, da maneira certa, e não como ele queria que se tivesse resolvido a situação. Pois é, eu não estou minimamente incomodada se ele não está acostumado a ser contrariado ou se lhe deixei o orgulho ferido. Sinceramente, acho que lhe faz bem levar estas chapadas vez ou outra para que pelo menos possa perceber minimamente que o mundo não se molda ao que ele quer.

A Bailarina e o MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora