Capítulo único

16.2K 1.7K 2.1K
                                    

❄️🌸❄️🌸

Bakugo permanecia quieto enquanto via que estavam sem alimento. Na sala, Midoriya chorava chamando por sua mãe. Não era de se esperar um comportamento distinto, pois o mesmo não entendia o que acabara de acontecer. Apenas o moreno estava ciente de tudo que estava acontecendo, mas buscava manter a calma.

Caso se desesperasse, assustaria o mais novo.

E ele, sendo o mais velho, prometeu cuidar do outro menininho. Era o seu dever protegê-lo, então teria que agir como um adulto. Ainda nevava forte e cada vez mais aquela montanha de neve cobria a porta e as janelas. Todos os aparelhos eletrônicos haviam parado de funcionar e a única fonte de luz eram as velas que Bakugo tinha encontrado.

Quantos dias se passaram desde que aquela tempestade havia surpreendido todos? Quanto tempo passou desde a última vez que escutaram o doce som das vozes de suas mães? O loiro não queria pensar nisso, caso contrário sucumbiria ao medo e seria muito pior.

Fazia tanto frio.

— K-kacchan. — Midoriya chamou-o fraco. — C-cade a mamãe? Você me disse que ela estava chegando!

— E você vai duvidar das minhas palavras?! — disse firme. — Ela está chegando, oras! Só precisamos esperar mais um pouco!

Izuku ainda era jovem demais para entender o que estava acontecendo. Entender que ele e seu melhor amigo estavam presos naquela casa. Que suas mães não iriam chegar por conta dessa montanha de neve que cobria todas as saídas. Por isso acreditava no que Katsuki dizia, porque para o garoto, Kacchan era forte e sabia o que estava fazendo.

— Por que a gente não pode abrir a porta? — perguntou apertando a coberta em seu corpo. — Temos que perguntar as vizinhos se eles viram a mamãe!

Bakugo apertou os punhos com força. Era doloroso demais ouvir isso de um simples menino de cinco anos. Ele mesmo queria chorar e gritar por ajuda, porém não podia. Se ele, o grande herói de Midoriya, se mostrasse fraco, o que aconteceria? O de olhos rubi era um exemplo, então era seu dever agir como tal.

— Porque a neve vai entrar aqui dentro Deku. — explicou tratando de soar suave. — Estamos mais seguros aqui, entendeu? — deu uma olhada no quarto e encontrou bonecos espalhados pelo chão. — Hey! Que tal brincarmos de super-herói? Dessa vez eu deixo você ser o herói!

— Mesmo?! — os olhos esmeralda brilharam com a informação. Era a primeira vez que ele era o herói e não a vítima. — Woah! Obrigada Kacchan!

Então, ambos meninos começaram a correr pela casa. Bakugo havia se escondido em um dos quartos enquanto Midoriya tinha a missão de encontrá-lo. O sardento gritava alto, igual ao seu herói favorito, o que delatava onde ele estava. Katsuki tinha que segurar o riso quando escutava as tentativas de falar inglês do esverdeado.

Um momento só deles.

Mas realmente fazia frio.

Quando menos percebeu, o moreno estava tremendo e batendo o queixo. Antes não estava dando tanta atenção ao frio que sentia, porém agora estava sendo um incomodo. Quando finalmente Deku o encontrou, a expressão que viu não foi de alegria. De imediato Izuku correu e jogou um lençol nele, abraçando-o em seguida.

— Você está tremendo muito Kacchan! — exaltou-se preocupado. — Por que não me disse que estava com tanto frio?

— Eu não queria atrapalhar a brincadeira. — estralou os lábios. — Mas eu acho que você já está sendo meu herói. Me ajudando a passar o frio.

Midoriya o encarava tentando repreendê-lo, todavia Kacchan notou que o menor havia gostado de ter sido elogiado.

— Estou com fome. — falou colocando a mão no estômago. — Onde você disse que tinha comida mesmo, Kacchan?

O moreno paralisou. Não podia deixá-lo ver que não tinha mais nada nas gavetas. O que diria para distraí-lo?

— Eu estou com muuuito frio! — disse alto, atraindo atenção do sardento. — Por favor não sai de perto de mim Deku!

Midoriya o encarou confuso, mas cedeu. Voltou a abraçar aquele que tanto admirava e amava. Como um bom herói, deveria priorizar os outros antes de si mesmo. Quando Bakugo estivesse melhor comeria, mas agora o foco era o seu melhor amigo.

— Kacchan. — chamou-o. — Pode dar espaço? Eu também estou com um pouco de frio.

Katsuki fez como pedido e abriu aquela coberta com figuras de animais. Em seguida abraçou o mais novo com força, deixando finalmente aqueles sentimentos ruins o dominarem. E assim, Kacchan chorou. Chorou porque estava com medo, porque sabia que talvez...

Morreriam.

— Kacchan. — sussurrou segurando suas próprias lágrimas. Se Bakugo estava chorando, era porque algo muito grave iria acontecer. — Por que está chorando, Kacchan?

— Me conta uma história Deku. — soluçou. — Me conta a história mais bonita que você tiver.

Midoriya engoliu seco. Respirou fundo e sorriu de canto, começando a contar uma história que sua mãe contava todas as noites. A história de um menino que sonhava segurar uma estrela, apesar delas estarem muito longe. Houve partes que ele pulava por não se lembrar, e outras que inventava por não gostar.

O frio estava ficando cada vez pior.

As cobertas já não os ajudava a ficarem aquecidos. Entretanto, mesmo assim, Midoriya continuava contando a história. Batendo o queixo e travando, mas continuava. Bakugo também tremia muito, mas não soltava o pequeno dos seus braços.

— E foi assim que o próprio menino se tornou uma estrela. — finalizou trêmulo. — K-Kacchan? Oi, Kacchan?

— V-vamos dormir, ok? — sussurrou fraco. Sua visão estava tornando-se embasada.

O pequeno Deku paralisou. Não sabia o porquê, mas tinha medo de dormir. Começou a chorar enquanto chacoalhava o moreno na tentativa de mantê-lo acordado, porém Katsuki estava muito fraco.

— N-não dorme não Kacchan! — soluçou assustado. — Não dorme!

Bakugo, com as últimas forças que lhe restaram, derrubou ambos e o abraçou com muita força. Só aí Midoriya parou de falar, mas mesmo assim chorava no peito da pessoa que o fazia se sentir protegido.

— E-estou com medo Kacchan. — murmurou fechando os olhos.

— Eu também. — sussurrou fazendo carinho na bochecha do sardento. — Dorme, Deku. Dorme que amanhã sua mamãe e a minha vão chegar e tudo vai passar.

— J-Jura? — disse com uma faísca de alegria.

— Juro. Mas para isso a gente precisa dormir, tá bom?

Ali, ambos estavam grudados um no outro, com medo de dormirem e não acordarem mais. Um com a ilusão de que amanhã tudo estaria bem e o outro com a completa noção do que estava acontecendo. Mas, no fim, Bakugo estava feliz. Estava feliz por poder compartilhar os últimos momentos com seu querido e amado Midoriya.

O frio era tão intenso, que havia consumido o corpo
daqueles menininhos

*****

Olá! Bem, essa foi a minha primeira tentativa de algo mais triste e melancólica. Torço para que tenha saído
como o planejado!
Bom, espero que tenham gostado e até logo!

• Frio • | Bakudeku |Onde histórias criam vida. Descubra agora