CAPITULO 1

978 33 56
                                    

(Não há lugar como o lar)

Lily Evans era uma crédula.

Para ela, tais coisas como acaso não existiam. Não passavam de ideias mirabolantes criadas pelo homem para que ele sentisse que tinha algum poder sobre a vida ou o universo. Em sua concepção, tudo se tratava do Destino e as coisas que ele tinha a oferecer. 

Lily Evans acreditava que tudo acontecia por um motivo, e mesmo que ela não pudesse entender qual fosse, era assim que as coisas funcionavam. Se tratava de um fato consumado tal como o sol nascer no leste e se pôr no oeste, e que após os dias vem as noites.

Ela era, sim, uma romântica incurável, de histórias de amor com meios sofridos e finais felizes, mas pessoalmente ela não acreditava que aquilo a classificasse como uma pessoa ingênua. Muito pelo contrário, ela tinha plena consciência de que o Destino poderia ser uma vadia, e sentia tanta raiva disso quanto qualquer outra pessoa sentiria.

Ainda assim, Lily não conseguia entender como qualquer pessoa que vivesse o mesmo mundo que ela e visse todas as coisas que ela via pudesse ser menos que um crédulo, porque a cada dia primeiro de setembro, desde o ano de mil novecentos e setenta e um, lhe parecia muito óbvio que a existência de todas as pessoas e que tudo que se passava em suas vidas era causada por uma série de fatores pré-determinados.

Todos os anos, de junho até setembro, ela ia se deitar com medo de acordar no dia seguinte apenas para descobrir que os últimos anos de sua vida haviam sido um fruto muitíssimo bem estruturado de sua mente fértil. E todos os anos, assim que seu pai a deixava no trêm que saía da Plataforma 9¾, em King's Cross, Londres, com lágrimas nos olhos e um abraço apertado, Lily respirava aliviada e tinha suas crenças reafirmadas e concretizadas.

Sua vida não era uma fantasia, delírio, sonho, ou qualquer outra coisa que a tornasse menos real. E ali estava ela mais uma vez, no expresso a caminho da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. 

Ainda havia resquícios do que fora um verão muito quente e sufocante, mesmo que em poucas semanas a estação fosse embora para dar lugar à paisagem dourada típica de outubro, portanto, a comitiva estava calorosa e abafada devido ao sol que entrava pelas janelas empoeiradas. Por todos os lados, ela ouvia gritos excitados de adolescentes animados, e vez ou outra gritava uma repreensão para alguns alunos mais jovens enquanto caminhava pelos corredores, cumprindo sua função como monitora.

– ... Eu não estou realmente triste com isso, na verdade – ia dizendo seu companheiro de cargo tranquilamente – Porque você sabe que eu nunca fui um preparador de Poções tão bom assim, então não foi um choque tão grande.

Remus Lupin era, assim como Lily, um sextanista da Grifinória. Em seu aspecto físico, ele era muito alto e magro, com cabelos em um tom que variava entre castanho muito claro e loiro anormalmente escuro que tornava difícil realmente categoriza-lo. E ele tinha cicatrizes. Várias. Pelo rosto e braços, e ninguém (bem, quase ninguém) sabia exatamente de onde elas vinham. Elas não deixavam Lily esquecer que, sim, o Destino poderia ser uma grande vadia cruel e desalmada.

Agora, por dentro, Remus era definitivamente uma das pessoas favoritas de Lily naquela escola. Ele deveria ser o ser humano mais gentil a pisar na face da Terra, com uma aura de paz e tranquilidade irradiante, além de responsável, inteligente e divertido para se ter por perto – como o irmão que qualquer pessoa gostaria de ter. Como o sol em um dia frio: quente e acolhedor.

– Eu poderia ter te ajudado com Poções se você tivesse pedido - ela respondeu, sinceramente. - De verdade, Remus.
A resposta dele foi um sorriso de lado.

– Eu sei que poderia. Mas de verdade, James fez tudo o que podia. Eu só não sou um talento natural como vocês.

– Talvez eu tivesse sido uma professora melhor que o Potter... – ela respondeu, em um tom brincalhão que o fez sorrir.

Storms AheadOnde histórias criam vida. Descubra agora