Capítulo 1

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 – Mariana, por favor, preciso que entregue os relatórios do novo desenvolvimento até amanhã - Pedro fala da porta do laboratório.

-Já falei que não dá tempo Pedro – protesto. Pedro é meu chefe, dono da Frugais Agronômica, apesar de muito rígido, é uma excelente pessoa- Já são oito da noite, meu expediente já encerrou a três horas, estou sobrecarregada de coisas - àquela altura só desejava minha casa, meu templo sagrado de paz e silêncio, desejava o cheiro dos meus incensos e não aquele fedor de uma flor gigantesca que havia sido testada ali naquela tarde.

– E o Giovane? Está te ajudando? - Pedro pergunta e sou obrigada a revirar o olho.

– Foi embora assim que encerrou o expediente, passou a tarde testando aquela maldita planta fedorenta ao invés das batatas do relatório- respondo seca, Giovane era imaturo demais para aquele projeto, mas Pedro o adorava – Pedro, eu sei que você está dando esse projeto porque quer ver o Giovane brilhar, mas eu te imploro, coloca outa pessoa no lugar dele... - olho para ele como uma suplica.

-O projeto já está fechado Mariana, é você e o Giovane, não posso mudar agora – Percebo no olhar dele um tom de decepção - Pode ir embora, eu me responsabilizo pelo atraso do relatório e amanhã terei uma conversa com o Giovane.

Agradeço aos céus por não estar mais chovendo, do contrário, o trânsito estaria péssimo, em menos de 15 minutos chego, enfim, na minha casa, ou no meu templo sagrado como prefiro chamar.

-Que merda é aquilo? - me pergunto enquanto me aproximo da porta. Eu não havia encomendado nada na internet e não deixariam uma correspondência sem eu assinar, não é!?

É! Não era uma encomenda, afinal ninguém encomenda uma criança, ou eu encomendei?

-Merda! Merda! Merda! - com as mãos tremulas mexo naquela criatura que começa chorar – mil vezes merda!

Por que alguém deixaria um bebê na minha porta? O que eu faço com isso?

-Tá bom Mariana, respira! - tento me acalmar, sem sucesso. - Tem um bebê na sua porta, você vai resolver isso, afinal, você sempre resolve tudo!

Pego a cesta e levo para dentro de casa, a criança não para de chorar 1 minuto sequer, pego-a no colo e começo chacoalha-la, mas não resolve nada, enfim vejo uma chupeta ali e coloco em sua boca, o choro sessa e um alivio toma conta de mim.

-Finalmente paz! - quando vou colocar o bebê na cesta novamente, vejo um papel ali.

Enquanto a pequena criatura dorme novamente, sento no sofá.

"Olá nova família,

Eu não tenho um nome ainda, não tenho um registro de nascimento, não tenho nada, na verdade, tenho 2 meses de vida. Eu não fui concebido com amor e a mulher que me carregou em sua barriga está adoecendo, muito em breve não estará mais aqui...

Por favor, cuidem de mim, adoraria ter alguém para chamar de mãe!"

-Senhora, por favor, você não está entendendo – digo impaciente para a mulher do outro lado da linha – Eu cheguei em casa e havia um bebê na minha porta!

– Senhorita, por favor, você terá que ficar com a criança pelo menos por essa noite, amanhã pela manhã eu mandarei uma assistente social e ela se encarregará de decidir o que é melhor para a criança – a calma daquela mulher estava me irritando e o choro do bebê que havia acordado novamente me tirava ainda mais do sério.

- Senhora eu não sei cuidar de uma criança, já lidei com muitas coisas em minha vida, mas com criança não! O que você quer que eu faça? Quer que esse bebê escorregue da minha mão, caia e morra? – a mulher fica em silêncio e percebo que exagerei.

- Mantenha a calma senhorita, amanhã pela manhã a assistente social estará na sua casa – ela diz e desliga o telefone...

-Calma Mariana, não entre em pânico - falo mais uma vez para mim. penso em ligar para Bella, afinal, soube que ela teve uma filha, ela poderia me ajudar... mas já faz muito tempo que não nos falamos

-Por favor, para de chorar - peço para o bebê que me encara imediatamente – o que eu faço com você hein!? Penso em ligar para Bella, afinal, soube que ela teve uma filha... mas já faz muito tempo que não nos falamos, a última vez que a vi foi no velório da mamãe e não trocamos 1 palavra sequer.

Peço por um aplicativo tudo que vejo que bebê precisa, fraldas, chupeta, mamadeira, leite, shampoo, pomada e até algumas roupas e brinquedinhos achei, amém tecnologia por não me fazer sair de casa!

- Tudo bem então garoto, vamos tentar tomar banho. - Levo ele até meu quarto e espero minha banheira encher, quando tiro a roupa dele, uma enorme surpresa, uma explosão de cocô suja minha cama.

Entro no banho com aquela pequena criança, ele se aconchega no meu peito e começo a ensaboa-lo aos poucos, vejo que não é tão difícil quanto parece, ele já não está mais chorando, parece se sentir mais confortável.

- Como Você foi deixado aqui hein? – encaro o bebê – comprei uma casa nesse bairro porque é o mais seguro, não há roubos, nem crianças deixadas na porta, eu não sei o que fazer com você pequena criatura...

- É, vamos lá... –o coloco e na cama e começo a seca-lo com a toalha, fico em dúvida se passo primeiro a pomada depois o talco ou ao contrário, decido pela primeira opção, depois de várias fraldas desperdiçadas, consigo acertar, a roupa que comprei ficou um pouco grande, mas parecia confortável, o choro voltou, ele devia estar com fome, até eu estava.

Fazer o leite foi a parte mais fácil, me lembrei de Terezinha, ela sempre me pedia para fazer leite em pó para ela beber antes de dormir. Uma mamadeira inteira se foi, enquanto ele mamava em meu colo, pesquisei muitas coisas, eu precisava fazer um cercadinho de travesseiros para ele dormir na cama comigo, descobri que a criança precisava arrotar, achei nojento, mas assisti vários tutoriais sobre isso no Youtube, acho que aprendi pois ele arrotou e quando ele finalmente dormiu uma pizza que eu havia pedido chegou.

Acordo no meio da noite com aquela criança berrando, ele deve querer leite, desço novamente e faço outra mamadeira, depois de mamar ele faz cocô e, apesar do nojo, troco-o e coloco para dormir novamente ao meu lado, fico reparando em suas afeições, pele branca, cabelo escuro, passo minha mão pela pequena mãozinha dele e ele agarra meu dedo tento soltar mas ele está segurando firme, então deixo ele dormir assim. 

Família por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora