Juro por tudo o que é mais sagrado que ouvi sussurros em uma língua que não identifiquei, ouvi também risadas debochantes. Vi nas paredes vultos que pareciam pular e dançar a luz vermelha das velas, tinha também um cheiro forte de enxofre ou algo muito podre que não sei descrever mas que me deu muita ânsia de vômito.
Minhas pernas travaram e senti um medo que jamais senti antes. Fechei a porta, sai de lá e prometi nunca mais voltar.
Pensei em contar para Agenor, mas achei que não seria correto. Apenas fui para casa tentar dormir.
Nessa noite lembro que não dormi, tive pesadelos a noite toda com o tal gato e o zelador.
No dia seguinte, na minha caixa de correio estava um papel, nele estava escrito:
"Não se meta com o que não se deve detetive. Há forças bem maiores do que a força humana pode imaginar."
De algum modo o zelador sabia que eu iria vasculhar. Se foi o dono ou o guarda quem contou para ele eu não sei, e fiz questão de nunca saber. Nunca mais passei nem perto do cemitério, nunca mais nem ouvi falar do tal José Carlos, nem o vi novamente e espero que assim seja pelo resto dos meus dias.
As vezes quando passo na antiga casa de Agenor e Célia eu vejo um gato preto sentado na escadinha que fica à frente da porta de entrada, e ele me encara com os mesmos olhos vermelhos que Célia descreveu em seu caderno.
FIM

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Os Olhos Do Inferno
Short StoryUm corpo. Um mistério sem solução. O relato de um detetive particular sobre um caso sem resolução.