Eram 22:00 da noite, meus pais estavam brigando, eu realmente não poderia ficar mais nem um segundo naquela casa, tudo que fiz foi pegar meus fones de ouvido e sair pela janela de meu quarto. Pra onde fui?, eu também não sei, tudo que fiz foi andar em linha reta, fui parar em um lugar meio deserto, meus pais sempre me disseram que lugares assim eram perigosos principalmente a noite, mas agora mesmo eles estariam preocupados demais brigando, para se preocuparem com onde estou. Ouvi sempre as mesmas músicas que costumo ouvir, de Chopin a Mozart, tudo que eu queria era relaxar, deitada com os olhos fechados sob a grama daquele lugar vazio.
Estava quase pegando no sono quando algo me despertou de vez, eu não ouvi barulho algum, foi apenas a sensação de ter mais alguém ali. Assim que abri os olhos minha reação foi gritar, fazendo o belo ser que me observava de perto se assustar.
- O que raios você está fazendo garoto?
- Te observando - ele me respondeu com calma, num tom de voz que pertencia a um tapete de veludo azul claro, como o céu.
- Sim eu percebi, mas por que isso? você quase me matou de susto, quem é você em?
- Mas se percebera de fato, não teria me feito a pergunta, ou todos vocês daqui são assim?, eu te observava pois se parece comigo, não queria ter lhe causado isso me perdoe, sou Lírio.
- Como assim " vocês daqui ", de onde você veio?
- De lá - disse ele apontando pro céu.
- O que?, tá me dizendo? que é um anjo?
- O que é um anjo?
- Seres divinos que moram com um ser mais divino ainda, do qual muitos aqui acreditam.
- Oh, você acredita? gostaria de conhece-lo.
- Não acredito, muitos gostariam de conhece-lo, entra na fila. Mas por que estou falando com um estranho que apresenta sinais não muito bons em relação a sua saúde mental?
- Quem é esse estranho?
- Você oras, quem mais poderia?
- Como posso ser o estranho? você já sabe meu nome, a única estranha aqui é você.
- Você ter me dito seu nome não significa que te conheço, meu nome é Naomi, mas agora é sério, de onde você veio?
- Eu já lhe disse.
- Como você pode ter vindo do céu??
- Eu caí.
- Então na verdade você é Lúcifer?
- Não, sou Lírio.
- Céus, por que você tem esse nome?
- Não sei, foi a Lua quem me disse.
- Lua é sua mãe?
- Não, minha mãe já é uma flor.
- Okay, você é estranho - me viro e começo a andar de volta pra casa, paro quando percebo que ele está me seguindo.
- Para onde você vai Naomi?
- Pra casa, você deveria ir também.
- Não dá, eu já fiquei por muito tempo lá, agora tenho que cumprir meu tempo aqui, como lírio.
- Espera - respiro fundo e me sento na grama daquele vasto e solitário lugar - venha cá, sente-se e me conte como chegou até aqui.
- Como você é difícil de entender, eu caí do céu oras, fiz até uma cratera como a da Lua no chão, perto de onde você estava deitada, venha ver - ele me puxa pelo braço, sinto certo receio mas não consigo ter medo o suficiente pra sair correndo de lá, andando por uns minutos chegamos a beira da tal cratera, e realmente era um buraco grande e circular, me pergunto se ele é um alienígena - E foi aqui que caí.
- O que é você?
- Olhe acima de você - dito isso olho para o céu completamente estrelado - vê todos esses pontinhos brilhantes?
- Você quer dizer estrelas?
- Sim!
- O que tem as estrelas?
- Eu era uma.
- O que?
- Eu era um pontinho brilhante que você chamou de estrela.
- Do que está falando?
- Oras, do que me perguntou.
- Sim, mas..como? isso não faz sentido.
- Eu não me lembro como, o que é sentido?
- Você está sob efeito de drogas?
- O que são drogas? - ele realmente não estava de brincadeira, os olhinhos dele brilhavam intensamente, era um brilho inumano, os cabelos tão lisos e negros deslizavam o rosto dele, e os lábios pequenos e marcados eram extremamente vermelhos, o fato dele ser tão surreal, me fazia acreditar em cada palavra dita por ele.
- Céus - respirei fundo mais uma vez e decidi acreditar em tudo aquilo, porque pela primeira vez pra mim, algo que não tinha sentido parecia real -.. Lírio?
- Sim Naomi?
- O que está fazendo aqui?
- Vou viver como Lírio.
- O que quer dizer?
- Eu não sei, isso também foi a Lua quem me disse - eu não era capaz de compreender tudo aquilo, tudo parecia a história de um livro qualquer, os olhos tão brilhantes dele me cativaram de uma forma que não sou capaz de descrever, a pele dele também brilhava, mas não como a pele dos vampiros de crepúsculo, era um brilhar singelo e suave que era perceptível em apenas em alguns momentos, eu poderia ficar ali o tempo que fosse preciso apenas olhando para ele, mas me lembrei que deveria voltar pra casa por mais que eu não quisesse, esse garoto além de tudo ainda era um estranho, não sabia que eu era uma vítima tão fácil de sequestros.
- Eu preciso ir pra casa.
- Ah, vamos.
- Que? como assim, vamos?
- Para casa.
- Pra minha casa?
- Sim.
- Como eu poderia do nada aparecer em casa, com um garoto que diz que era uma estrela e que deve viver como Lírio agora?
- Da forma que disse agora parece bom.
- Céus.
- Já é bem tarde, por que estava aqui sozinha?
- Meus pais estavam brigando..longa história, que se repete quase todos os dias.
- O que é brigar?
- Bem, é quando pessoas como eu não conseguem se entender e ficam um gritando com o outro palavras que podem até mesmo magoar, pelo menos é o que meus pais fazem.
- Parece ruim.
- É sim.
- Mas não fique triste.
- Não estou, eu meio que já me acostumei com isso.
- Oh, você é interessante - ele sorriu e seu brilho se intensificou - você foi o que na sua vida passada?
- O que? que pergunta é essa?
- Eu tenho a sensação que te conheço, que estranho, tudo que conheço de fato é a Lua.
- Você é interessante!, eu sou normal.
- Tudo é normal.
- Não, olhe para o que está acontecendo agora, eu tô falando com uma estrela, isso parece normal pra você??
- Sim.
- Como isso?
- Ora, pois eu sou a estrela, nada é anormal o suficiente pra ser considerado extraordinário, você sempre falou com estrelas, a diferença é que elas respondiam de muito longe e por isso você nunca pôde ouvir a resposta. - eu realmente sempre falei com estrelas, sempre me cativaram muito, eu tinha uma preferida que estava sempre ao lado da Lua, mas hoje não a vejo.
- Você tem razão, como sabe que eu falava com estrelas?
- Eu não me lembro, só sei.
- Você não se lembra de nada?
- Não, eu tinha um nome quando estrela, mas já não me lembro.
- Deve ter sido a pancada que levou com a queda.
- Talvez - ele me olhou e sorriu o que fez sua pele brilhar mais uma vez como uma luz de led, não pude resistir e toquei seu rosto, sua pele era extremamente macia, eu me sentia acariciando um pêssego - não devia ter feito isso.
- Am?
- Me tocado, não devia ter me tocado.
- Por que?
- Olhe a ponta dos dedos que tocaram meu rosto - e assim o fiz, e lá vi uma verruga na ponta de cada um dos quatro dedos que tocaram seu rosto.
- Droga, o que faço? - ele riu alto.
- Não se preocupe vou tirar pra você - dito isso ele se aproximou de mim e tocou delicadamente meus lábios com os dele.
- Céus! o que está fazendo?
- Olhe seus dedos agora - olhei, e realmente, não havia verruga sequer ali.
- Como fez isso?
- Sua mãe nunca lhe disse para não apontar para estrelas?
- Sim, mas eu apontei e nunca apareceu verruga alguma.
- É porque o que você não deve fazer é toca-la pela sem permissã , eu lhe concedi permissão por isso elas sumiram.
- Me concedeu permissão, me beijando?
- Então, isso é beijar?
- Bem, não digo que foi realmente um beijo, isso foi mais como um selar.
- Sim! é essa a palavra, eu selei sua permissão, pode me tocar quando quiser agora.
- Céus, essa frase soou perversa - corei ao olhar para os lábios dele, eu não sabia que eu era tão pervertida.
- Por algum motivo quero fechar meus olhos.
- Isso se chama sono, mas onde você passará a noite?
- Na minha cratera, e você?
- Bem, o certo seria eu voltar pra casa mas..
- Mas?
- Posso ficar na sua cratera?
- Sim! vai ser divertido.
- Sabe o que é " divertido "?
- Não tenho certeza, mas meu cérebro projetou essa palavra - rio da forma inocente como ele diz.
- Quero te mostrar algo que me salva.
- Certo, me mostre - Pego meu celular coloco meus fones no ouvido dele e coloco Pour Elise de Beethoven - a reação dele foi arregalar os olhos.
- O QUE É ISSO? - ele me pergunta gritando por não ter a noção do tom de voz que está usando, pauso a música sorrindo.
- Se chama música.
- Eu gostei disso.
- É maravilhoso não é?, eu sei tocar essa música no piano.
- Oh, toque para mim.
- Agora não dá, mas tocarei um dia.
- Certo, espero que como Lírio eu possa ouvir música.
- O que quer dizer com isso?
- Eu não sei, ou não me lembro se sei.
- O quão misterioso você pode ser? mas vai, deita aí vamos dividir os fones - tiro um dos fones do ouvido dele e coloco no meu tirando a música do pause e entrando em transe mais uma vez, uma transe tão profunda que me faz adormecer, o quão louca posso ser adormecendo ao lado de um estranho que possivelmente é esquizofrênico, ou talvez eu seja esquizofrênica.
Logo que amanheceu me acordei, senti como se minha mãe houvesse aberto a janela, quando percebo estou em minha cama, no meu quarto, sem entender, deduzo que tenha sido um sonho, me levanto, faço tudo como normalmente e vou até a cozinha tomar meu café da manhã, quando chego lá meus pais estão em completa harmonia como se nunca tivessem brigado.
- Bom dia filha.
- Bom dia querida - olho estranho.
- Bom..dia?
- A propósito quem é aquele garoto em? - meu pai me pergunta.
- É seu namorado? ele é bem bonito.
- Que garoto?
- Um garoto trouxe você até aqui ontem, qual era o nome dele mesmo querido?
- Era algo com L
- Logan?
- LÍRIO!
- SIM! - exclamaram os dois ao mesmo tempo.
- Mãe, pai, eu já volto.
- vou até a garagem e pego minha bicicleta, então não foi um sonho, "mas em que momento ele me trouxe pra casa? será que ele ficou bem sozinho naquele lugar?", esses eram meus pensamentos enquanto eu pedalava o mais rápido que podia, ao chegar no lugar em que eu estive com ele pela primeira e última vez, larguei a bicicleta e comecei a procurar por ele.
- Lírio? - chamei por seu nome enquanto me aproximava da cratera, mas tudo que encontrei foi uma flor branca, bem no centro daquele buraco, me aproximei dessa flor e aspirei o perfume dela rapidamente assim que fechei os olhos, a imagem do garoto surgiu em minha mente - Lírio... - ao dizer seu nome quase como um sussurro a flor simplesmente brilhou - então, era isso que você queria dizer com " agora vou viver como Lírio ",e agora nesse momento, olhando pra você tenho a plena certeza de que você é a estrela com a qual eu conversava, faz todo o sentido ao pensar no fato de que você era próximo da Lua, você não vai mais poder me ouvir como uma estrela, mas espero que possa me ouvir como flor, mesmo que não possa me responder - assim que eu disse isso a flor brilhou mais uma vez, o fato de que eu não ouviria mais a voz dele, de que eu não veria mais o sorriso e nem poderia mais tocar na pele brilhante dele era um tanto triste, mas eu estava feliz em saber que tudo aquilo não havia sido apenas um sonho bonito que tive.
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O Lírio que caiu do céu
Fantasi" Nada é anormal o suficiente pra ser considerado extraordinário "