O amor

7 0 0
                                    

A lua ilumina-me como o sol nunca o fez.
A noite dá-me a clareza que o dia tão egoistamente me roubou.
A vida tirou-me tudo o que alguma vez tive, por isso tenho medo que a tua presença desapareça no meio dos raios de sol, que lentamente queimam tudo o que me pertence.
Estou em pé, a gritar por tudo de volta como se tivesse perdido as linhas ténues que ligavam a minha vida ao fim dela.
Mas no meio de todos aqueles gritos arrepiantes, apareces-te tu, saíste do meio daquele nevoeiro noturno que tudo apagava.
A faca caiu no meio dos arvoredos, antes de conseguir cortar a última linha que ainda me pertencia.
Morria aos poucos, enterrada na minha própria ignobilidade, sem saber que ainda respirava.
A minha morte travou e tudo à minha volta estava a acelerar, o onírico formava-se em algo que parecia irreal.
Eu caia aos bocados enquanto tu seguravas aquela linha que esvoaçava na brisa leve de uma noite de verão.
Quando tudo deixou de ter solução, tu reapareces-te, tu que viveste sempre na minha realidade onírica, nos confins da minha mente molesta e soturna.
A escuridão já me tomava, o brilho já desaparecia, a lua já se despedaçava juntamente com toda a minha alma que já saia do meu corpo para a realidade onde os demónios andam lado a lado comigo. Mas tu seguraste o indivisível e abraças-te todos os meus pedaços perdidos, os sentimentos restabeleceram o meu corpo e a lua brilhou mais uma vez, iluminando todo aquele conjunto corpóreo que formávamos, a noite acordou-me e o sonho formou-se naquilo que estava diante de mim quando eu finalmente consegui abrir os olhos.
O amor que achei inexistente e impossível preencheu as falhas que tinha e lentamente me derramo nas lágrimas felizes que nunca tive.
A tua luz foi a única que consegui aguentar, aquele coração pulsante que me lembrava do valor desta maldita vida. Aquela simples forma de vida que me lembrava que a morte  não era a única possibilidade, que a soturnidade não era o único sentimento e que toda a consternação poderia desaparecer.
A esperança alinhou-se juntamente com as estrelas, e o abismo transformou-se em algo que só poderia estar presente nos meus sonhos noturnos e divagantes.
Quando finalmente consegui dizer algo, quando finalmente consegui exprimir tudo o que via, a única coisa que consegui dizer foi algo que de tão simples e soturno se transformou em algo tão único e honesto: Eu amo-te.
E estas foram as primeiras palavras da minha verdadeira existência, as palavras que superaram a morte que sentia dentro de mim, as primeiras palavras da minha vida.
E aos poucos as cicatrizes vão desaparecendo...

Endless moments Onde histórias criam vida. Descubra agora