II

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— Guto. – Eu escutei e já sabia quem era. Jessica era a única que me chamava assim. Ao me virar, me deparei com seu sorriso largo. Como gostaria que todos os seus sorrisos fossem meus. Ela me abraçou e ao retribuir, senti sua pele fria contra a minha.

Controle-se.

— Tudo bem? – Esforcei-me ao máximo para que minha voz não falhasse. Ela se soltou de mim e então pude admirá-la. Jess estava linda. Em nada se parecia com a garota por quem eu me apaixonara. Ela era uma garota bonita e eu não era o único que pensava isso; meus amigos concordavam que a beleza de seu rosto e a delicadeza dos traços de seu corpo, tão perfeitamente desenhado, a tornavam irresistível.

Não apenas por isso. Ela era gostosa e eu não podia negar isso. O fato era que Jess não se importava com aparência. Sua beleza era natural. Naquela noite, contudo, tudo nela estava perfeitamente arrumado: desde o cabelo preto então liso, diferente do ondulado natural, até a maquiagem no rosto, com destaque ao castanho-claro de seus olhos. O vestido preto, tão justo, deixava o corpo e não pude evitar olhá-lo. Mas a melhor, ou talvez pior, parte era o salto, que a deixava mais alta e trazia seu rosto para mais perto do meu.

Contenha-se.

— Alguma coisa errada comigo? – Ela me olhou desconfiada. Não consegui responder, estava hipnotizado por ela. – Guto... – Ela puxou meu braço, chamando minha atenção.

— Desculpa Jess, brisei um pouco. O que você perguntou?

— Você tava me olhando estranho, achei que algo estivesse errado comigo. – ela mexeu no cabelo, como se o colocasse no lugar.

Acalma-se coração.

— Você tá linda – Jess me olhou incrédula e esperou que eu repetisse, mas minha vergonha era tamanha que me mantive em silêncio. Ela então abriu um pequeno sorriso e se virou para entrar na casa. Eu queria controlar meus impulsos, mas ela estava tão estonteante que todo o meu corpo foi puxado e eu a segui pela casa durante os cumprimentos, quase como um guarda-costas.

Todos os seres humanos do tipo XY perceberam sua presença; Jess chamava atenção sem tentar, sem querer, sem saber e meu estômago se revirava a cada novo olhar que ela recebia. Ela não notava – nunca percebera o efeito que causava nas pessoas.

Enquanto ela tão animadamente conversava com nossos amigos, eu pensava maneiras de tirá-la daquele lugar. As intenções dos caras que tão metodicamente a analisavam iriam feri-la. Ela, contudo, parecia saber exatamente o que estava para acontecer e agia naturalmente mesmo com Dennis a abraçando pela cintura, como seu dono.

Nunca tive problemas com Dennis. Apesar de confiar nele, nunca consegui contar para ele a verdade sobre meus sentimentos por Jessica. Tinha medo do que ele faria, não para me ajudar, mas para me atrapalhar. Desconfiava que ele também sentisse atração por ela.

Independente da forma com que Dennis a queria, o fato de ela estar tão mais bonita que o normal claramente aumentara muito o desejo dele; e ele, de tímido e lerdo, não tinha nada. Não fazia nem cinco minutos e ele já estava grudado nela – e por toda a noite seria assim.

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