IV

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Já era a terceira dose de tequila que Jess virava em menos de uma hora – eu estava realmente contando, pois ela já tinha bebido muito mesmo antes de mudar para a tequila. Uma vez Jess me contara que não gostava de beber e quando bebia, era muito pouco. Naquela noite, parecia que Jess estava a fim mesmo de morrer. A parte mais perturbadora era que aquela era a mesma garota que minutos antes me olhara perdida, como se o mundo dela tivesse desmoronado.

No meio da pista de dança, havia um show composto apenas por ela e a música. Eu estava no backstage, tentando inutilmente tirar os copos da mão dela ao mesmo tempo em que afastava com dificuldade os outros caras dela. Eles sim estavam gostando de seu momento de loucura e estavam me dando cada vez mais trabalho.

Como era difícil gostar de Jessica...

— Ela tá muito louca, não? – Dennis gritou perto do meu ouvido. Esperei que ele concluísse seu pensamento. – É hoje que eu pego ela de jeito. – Não aguentei. Empurrei-o para longe. – Qual é o seu problema?

— Não fui eu, me empurraram. – menti, torcendo para que ele acreditasse. Por sorte, Dennis não desconfiou da mentira e logo seu humor voltou ao normal. Álcool torna as pessoas bipolares, essa vai ser a tese do meu mestrado, se eu sobreviver a essa noite. O loiro abriu um sorriso e me abraçou novamente.

— Me ajuda? Preciso pegar essa gata! – Controle-se, controle-se.

— Vai lá, se vira! Tenho meus próprios problemas para me preocupar. – Fingi que iria para o outro lado, desviando dele, mas não me mexi... Precisava ver. Precisava ter certeza que ela ficaria bem. Dennis estava na frente dela, dançando com ela... Por que ele tinha que escolher Jessica, por que não podia ser qualquer outra? Eles estavam cada vez mais próximos.

Não vou aguentar...

Dennis segurava Jess pela cintura, os corpos já grudados. Dali só faltava mais um passo. Dennis disse no ouvido de Jess e então ela passou os braços em volta de seu pescoço. Eu não quis ver o resto. Dirigi-me para longe da pista de dança. Jess não precisava mais de mim.



Quatro da manhã. Hora de voltar para casa. A casa já não estava mais tão cheia como antes. Foi um dos poucos a ficar até o final, não porque eu quisesse, mas por uma força maior. Felipe foi o primeiro a ir embora, às duas horas; saiu com uma garota. Depois dele, a maioria dos meus amigos voltou para casas às duas e meia. Dennis se despediu por volta das três horas, aborrecido por ter gastado a noite toda com uma garota só e não conseguir mais do que um selinho de amizade.

Essa foi a melhor parte da minha noite.

Fiz questão de ficar até que Jess se satisfizesse – eu a acompanharia até casa. O que eu não sabia, no entanto, era o estado no qual eu a encontraria. Deveria ter imaginado: uma garota que praticamente nunca colocara uma gota de álcool na boca, beber tanto de uma vez só... O resultado não poderia ser diferente. Ela quase não conseguia ficar em pé ao caminhar. Ao ver-me, Jess abriu o que deveria ser um meio sorriso.

— Finalmente te achei. – Soou mais como um grunhido. E foi tudo que sua consciência conseguiu me dar. Depois disso, Jess caiu em cima de mim. Meu reflexo foi rápido e consegui segurá-la. Desmaiada. Como ela iria para casa daquele jeito? Não poderia levá-la assim. – E eu também não sabia direito o caminho até a casa dela. Única solução? Levá-la para minha casa.




Jess não era pesada, mas não fora nada fácil levá-la do táxi até meu quarto. Juntou a preocupação de ela vomitar em mim com o medo de machucá-la e o cansaço do meu corpo e algo que deveria ser tão simples se tornou quase uma missão impossível. Mas consegui... E até suspirei em uma mistura de alívio e satisfação quando a coloquei deitada em minha cama.

Ela estava acabada. A maquiagem já havia saído completamente e o cabelo estava todo desarrumado, mas ela continuava linda. Ajeitei-a na cama e a cobri com um cobertor, imaginando o que ela pensaria quando acordasse de manhã. Não consegui evitar e passei um bom tempo apenas observando-a, sentado no chão ao lado da cama. Segurando a mão dela, notei que eu seria a primeira coisa que ela veria ao abrir os olhos, assim como ela seria a primeira coisa que eu veria quando abrisse meus próprios olhos. Apesar de estar completamente desconfortável naquela posição, aquela parecia uma ótima razão para adormecer ali.

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