III

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Não tive chance de conversar com Jess por um bom tempo. Sempre havia alguém por perto. Era melhor assim. Eu não queria tomar nenhuma atitude. Preferia ficar o mais distante possível para não sentir tamanha confusão de sentimentos, mas algo inexplicável me mandava ficar por perto.

Só pude finalmente chegar mais perto quando Dennis se levantou do sofá, com a desculpa de ir buscar uma bebida para ele e para Jess... Claro, uma bebida! De onde eu venho isso se chamar ficar com alguém. Uma vez que a morena era difícil e ele não queria sair zerado em hipótese alguma, foi se garantir.

Melhor para mim!

Ela abriu um meio quando percebeu minha presença ao seu lado, mas continuou conversando com Felipe, que estava sentado do outro lado. Senti-me completamente ignorado. Minha presença era irrelevante. Ela sequer me olhou em momento algum; mesmo quando eu estava falando, seu rosto continuava virado para o outro lado. Nem mesmo riu das minhas piadas. Era como se não me quisesse por perto, como se estivesse me evitando... Com todos os outros a nossa volta ela era a Jessica por quem me apaixonara, a minha Jessica.

Minha cabeça girava com os vários motivos pelos quais ela não me dava atenção, mas não consegui encontrar nenhum razoável, nenhum que realmente explicasse. Algumas horas antes ela me abraçou como sempre. Teria sido alguma coisa que falei? Ou então, que não falei? Será que o problema foi a minha falta de ação?

Preciso de ar puro.

Estava prestes a me levantar, quando ela, ainda sem me olhar, colocou sua mão sobre a minha. Assustei-me – não fazia sentido. Ela não estava me ignorando? Jess realmente me queria ali? Então por que não me olhava? Respirei fundo e segurei a mão dela, sem pensar em mais nada. Minha pequena satisfação, contudo, durou pouco. Senti mais que escutei seu celular tocando em sua bolsa. Ela se levantou, pedindo licença, e saiu correndo da casa para atender. Quando ela se afastou do grupo, foi como se eu entrasse em um abismo. Era como se o ânimo de todos tivesse saído da casa junto com Jessica.

— A Jess tá muito gata hoje, não? – Felipe perguntou enquanto meu olhar a seguia por afora. Sem responder, apenas escutei aos comentários dos outros; não queria me pronunciar. O assunto logo mudou, mas não consegui prestar atenção. Quanto mais o tempo passava, menos eu interagia com meus amigos e mais ficava preocupado com Jessica, que demorava a voltar.

Quinze minutos.

Vinte minutos.

Meia hora.

Será que algo tinha acontecido com ela, algum dos caras que estavam por lá não estaria atormentando ela? Será que ela estava ficando com alguém?

Quarenta minutos.

Uma hora.

Meus olhos não se desgrudaram da porta, esperando que ela entrasse a qualquer momento, estonteante e apaixonante. Ela não veio. Aflito, levantei-me, preparando-me psicologicamente para resgatá-la de algum sedutor. No entanto, quando passei pela porta, não a encontrei.

Havia várias pessoas na frente da casa, mas nenhuma delas era ela. Desci a pequena escada da entrada e dei a volta na casa. Talvez ela estivesse no jardim dos fundos. Não, o jardim estava vazio. Teria ela ido embora sem se despedir? Foi então que eu a vi deitada, no meio do jardim, sozinha. Ela estava passando mal?

— O que você tá fazendo aqui? – Jess estava de olhos fechados, como uma morta, mas ao ouvir minha voz, abriu os olhos lentamente e, já perto, vi que eles estavam inchados. Ela estava chorando.

— Eu precisava de um pouco de ar.

— E deitar no chão era a melhor maneira de conseguir isso? – Como ela fazia essas coisas sem parecer que estava querendo aparecer? Para mim, vê-la daquele jeito me parecia tão... Natural.

Jess soltou uma risada envergonhada, mas mesmo assim não se levantou. Pelo contrário, pediu que eu me sentasse ao seu lado. Aquela situação toda era estranha... Entretanto, meu corpo não resistia a um pedido dela; era como tentar impedir o sol de nascer.

— Quando você sabe que tá na hora de tomar uma decisão? – Jess soava confusa, mas não parecia que estava falando comigo; era como se perguntasse a si mesma. – Quero dizer, quando você sabe que tá na hora de parar de deixar rolar e fazer alguma coisa? – Ela se sentou. Dava para ver em seu rosto o quanto estava angustiada. Eu não sabia como ajudar. – Quando você sabe que algo acabou e que é hora de seguir em frente?

— Tá preocupada com o que? – Se eu não abrisse minha boca naquele momento, Jess iria se desfazer na minha frente. Ela desviou o olhar e encostou a cabeça nos joelhos. Por que ela tinha que ser tão complicada? Passei meu braço por cima de seus ombros, puxando-a para perto de mim. Isso ai garoto, ótimo avanço, mas você vai mesmo abusar de uma garota fragilizada? – Você quer voltar pra casa? Eu chamo um uber. – Jessica levantou a cabeça como se tivesse acordado de um transe. Limpando os olhos, ela me olhou.

— Voltar para casa? Você tem problemas? Não vou perder uma noite dessas. – E ai está a prova de que eu estou apaixonado por uma garota com problemas mentais. Ela se levantou, com um sorriso que eu não conhecia, parecia outra pessoa. Era um sorriso malicioso que arrepiou minha nuca. – Venha, vamos curtir. – Ela estendeu a mão para mim.

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