47-Capítulo

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É oficial, eu não faço ideia de como dizer tchau a New York.

Eu já estava a cerca de 30 minutos parada enfrente a Times Square, dando aquele tchau de filme famoso. Mas não era como nos filmes. Tinha aquele chororô todo e a promessa de retorno.

Eu não tinha essa promessa e não derramei nenhuma lágrima. Por quê? Bom, eu ainda tinha que guardar as energias pra Califórnia.

Segunda-feira. Doce segunda-feira. Havíamos chegando aqui em uma sexta, e minha belíssima apresentação na Broadway fora no domingo, ou ontem. Realmente uma três dias inesquecíveis.

Agora eu passaria uma semana inteira na Califórnia. Um sonho de Matteus que eu resolvi realizar. Não era fácil, realmente não era fácil. Era difícil pensar em alguém e nos sonhos dessa pessoa acima da sua. Todo o meu corpo queria dar um tchau pra Matteus e não pra New York.

Mas eu não faria isso. E meu coração me repugnava por esse pensamento medíocre.

-está pronta?- Matteus perguntou ao aparecer no meu lado segurando firme minha mão

-quem está pronto pra deixar New York? - respondi com um sorriso e repousei minha cabeça em seu peito

-vamos voltar. Vai que eu queria te pedir em casamento no Daniel de novo?- ele disse me fazendo o olhar. Casamento?

-pode deixar que eu estrago a surpresa um dia antes- ele deu um sorriso curto e aproximou nossos lábios

-você não estragaria- ele respondeu antes de envolver nossas línguas em uma sintonia perfeita.

Deixar Matteus? Eu realmente pensei nisso?

Meu coração, e cada célula minha pertencia a ele. Eu nunca pensei em me casar. Mas essa ideia, sendo com ele, não era tão ruim assim.

O que o futuro reserva pra nos? Filhos? Fama? Vida adulta? Mais e mais e mais responsabilidades. O que seriamos de nos se não tivermos as pessoas certas ao nosso lado? Pra nos favorecer os momento certos? Quem seriamos nos, se não fosse o amor, a amizade e lealdade?

Provavelmente pessoas intelectuais, bem sucedidas e melhores.

E muito provavelmente, tristes e solitárias.

A vida é dolorosa demais pra passarmos sozinhos. Ela nos prega peças pra mostrarmos a nos mesmo o quanto somos fortes e que não existe limite pro sofrimento e pra libertação humana.

Quem sou eu pra falar de sofrimento? Posso ter uma doença, e essa doença pode me matar no sono. Mas eu não sou infeliz.

Existem pessoas nesse momento presas em uma cama de hospital, porque não conseguem se livrar de uma doença.

Existem crianças passando fome, porquê o governo é corrupto e não conseguem achar uma forma de ajudar aqueles que REALMENTE precisam.

Sofrimento? Sofrimento é aquela mãe que cuida de uma criança sem um centavo no bolso. E quando encontra uma forma de se sustentar, é julgada com todos os tipo de nome.

Sabe por que? Porquê as pessoas são assim. Elas nos usam, elas usam a si próprios. Elas são se importam com nada.

A garota bonita do ensino médio se mata. Sofrimento? Chamar atenção? Chamem do que quiserem, até que novamente outra adolescente morra por conta de tanta opressão.

Quem sou Eu, pra falar de sofrimento?

Encostei minha testa na de Matteus e fiquei olhando sem conseguir desviar, daqueles enormes olhos azuis. Eu tinha ele. Eu era feliz.

-vamos?- ele perguntou com um sorriso meigo. Meu sorriso se alargou e toquei levemente em suas mãos

-Vamos- respondi firme e fomos a caminho do aeroporto.

Essa era a minha vida. Feliz ou não, continuava sendo minha.

O problema é que as pessoas não percebem isso. Como não percebem o quanto eu, estou viva.

Receio que elas só percebam isso, quando eu estiver realmente morta.

Então ai, mãe, doutor, resto do mundo.. vocês poderão dizer o quanto estavam certos.

***

1 coisa sobre mim que acabei se perceber

Odeio altura.

Eu poderia ter pensado nisso quando fui pra New York. Eu realmente podia ter parado pra pensar que talvez eu não fosse uma amiga querida da altura.

Mas eu devia estar tão contente com o lugar que eu estava indo, que esquece onde eu estava indo.

E agora que percebi, eu tenho a certeza que vou morrer.

A vista era realmente impecável, mas toda vez que eu olhava pra maldita da janela, eu imaginava que o avião ia ter algum problema e ele iria despencar dessa altura e todos iriam morrer.

Ou talvez caíssemos em um oceano, a água entraria pelos dutos de ventilação e a maioria morreria afogada. A minoria que conseguisse nadar pra fora, morreria também. Por quê ? Simples, a gravidade levaria cada vez mais pra baixo dependendo da profundidade que caíssemos. Quando mais fundo, mais você é sugado pra baixo.

E eu aposto que um avião com mais de 100 toneladas, caindo em uma velocidade exorbitante que nem eu poderia imaginar.

Chegaríamos ao fundo do oceano facinho.

E se alguém tivesse alguma boia e conseguisse chegar na superfície? Também morreria.

Um tubarão ou qualquer animal aquático que estivesse com fome te mataria. E se não morresse por um animal poderia morrer de desidratação. E se conseguir chegar em uma ilha? Bom, a não ser que você saiba pescar, escalar montanhas, montar um bom lugar pra dormir e se preparar com um armamento bom pra animais que possivelmente moram na ilha... você provavelmente também iria morrer.

Ou seja. Eu vou morrer hoje. Queria lembrar a minha querida mãe o quando eu amo, mas as vezes tenho desejo de me matar pra não ficar próximo dela. E meu querido irmão Josh, por favor, não tenha filhos antes dos 30.

-você precisa se acalmar- Matteus sussurrou em meu ouvido enquanto minha respiração estava arruinada.

- e você precisa se concentrar em orar pra sairmos vivos daqui. Essa maquina pode cair a qualquer minuto. E se subir tanto que a latitude vai esquentar os motores do avião, e se houver uma falha técnica? E se uma porta for aberta e o ar todo entrar no avião, fazendo com que o duto de ventilação fique sobre carregado e exploda? E se um raio cair aqui e quebrar todo o sistema de comunicações e ficarmos perdidos no céu? Ou pior! E se cairmos?- disse rápido o suficiente pra mulher a minha frente olhar pra trás indignada.

-perdão moça, ela é uma negativista bastante inteligente- Matteus respondeu a mulher que revirou os olhos.

-eu não sou negativista- respondi e Matteus me olhou com aquele olhar de "teimosa então?"

-como só foi descobrir agora que tem medo de altura?- Matteus perguntou como se fosse uma idiotice

-as únicas viagens que fiz foi das Carolinas. É pequeno o percurso e se você fechar os olhos, você chega. Pra New York eu estava mais concentrada pra onde eu estava ido e não aonde eu estava. Agora pra Califórnia que eu percebi o quanto essa máquina é perigosa.

-relaxa. Essa máquina não cai quebrar tão fácil.

-é uma construção humana Matteus. Homens são falhos. O que te garante que um deles não estava com muita ressaca ao fazer o projeto? Ou esqueceu de um zero na hora dos cálculos pra distancia e força? E se um deles estivesse pronto a noivar e estivesse nervoso a ponto de esquecer ou trocar de colocar uma peça?- Matteus riu se deitando novamente na sua cadeira.

-se morremos, não acho que será alguma novidade- ri sozinha e deixei-o dormir.

Essas piadas são terrivelmente pesadas. Mas quando se tem um humor extremamente estranho, você se acostuma.

Se Não Fosse VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora