Capítulo um - Um começo

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      Não é que eu esteja zangada porque sei que Bratt está com a Sophie ou porque não fui convidada para a festa do Bratt. Eu só estou furiosa porque as coisas são sempre as mesmas, mas vou descontar a minha raiva neles.

     Para começar, minha mãe não quer saber de mim. Só quer saber do seu marido, Francis Gilbert, meu padrasto. Meu pai vive em França e é tão ocupado que não tem tempo para ele mesmo. Eu só estou furiosa porque a minha vida é uma porcaria.

     Ainda estou furiosa. Não me arrependo de ter posto fogo na casa da minha mãe. Ela bem que merecia algo assim. Quem sabe com isso, ela passa a ser mais cuidadosa comigo.

     Quer dizer, eu tenho dezenove. Posso ser maior de idade, mas eu continuo sendo sua filha. Os filhos sentem falta dos pais não importa a idade. Eu sinto muita falta dos meus.

     Minha mãe fica observando os bombeiros fazerem o trabalho e chora por causa da sua linda casa. Deve ser uma das mais lindas da cidade. Ela pagou os melhores arquitetos, engenheiros, decoradores, tudo isso para uma casa de sonhos. E desde que chegou, não perguntou se estou bem. Mas eu já estou acostumada com isso.

     — Ellen, a gente pode ir para a outra casa. Vamos ficar por lá até a gente concertar essa. — Francis diz para acalmá-la. Eles nem imaginam que eu sou a culpada de tudo isso.

     — A minha casinha! — Ela chora. — Você não imagina como ela é importante para mim.

     — Mais importante que a sua filha? — Pergunto. — Claro! Você não quer saber se estou bem.

     — Pode parar de ser egoísta pelo menos uma vez na sua vida? Olha como a sua mãe está! — Ele abraça ela. — Vamos para casa, meu amor. Eu cuido de você.

     Eles entram no carro sem mim. Estou tão acostumada que isso deixou de ser triste. Eu só digo que se eu sou uma pessoa sem coração, é tudo graças à minha mãe. Podem agradecer a ela.

    Fico observando a casa ardendo em fogo e sorrio ao pensar que ela nunca vai conseguir fazer voltar como era. Nem comigo conseguirá fazer isso. Um vaso pode quebrar, podem tentar concertar, mas nunca será o mesmo.

     Eu dirijo em direção à outra casa. A casa gigante que meu padrasto comprou para minha mãe. Pelo caminho, eu paro num lugar isolado e escuro e aproveito para ligar para o meu pai, mas ele não atende.

     Às vezes, eu acho que sou inexistente para ele. Não sei o que ele faz o tempo todo no trabalho para esquecer de mim. Eles devem ter me tido por acidente.

    Com raiva, eu desço do carro e fecho a porta. Pego no meu celular e ligo de novo. Mas é a mesma porcaria. Ele não atende. Não quer saber de mim.

    Eu sento num banco e choro. Está muito escuro, então ninguém pode ver as minhas lágrimas ou saber quem está chorando. O sofrimento é cansativo. Eu sei muito bem.

     No outro banco bem distante de mim, vejo alguém fumando. Um homem, mas por causa da escuridão não dá para saber quem é, não dá para ver seu rosto.

     Oiço passos atrás de mim e levanto quando vejo dois homens vindo até mim. Ele estão com um canivete cada um e vêm correndo.

     — Não se mexe, senão eu enfio essa faca em você! — Um deles diz. — Passa para cá as chaves do carro, celular, carteira, tudo.

     — Eu... — Não sei o que fazer a não ser chorar.

     Olho para trás e o outro homem também se aproxima. O problema é que está demasiado escuro para ver o rosto de todos. E o homem misterioso está fumando. A fumaça não ajuda em nada. Acho que também é bandido.

Impiedosamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora