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  Sempre pensei que distopias não pudessem se tornar realidade, assim como utopias. Que estaríamos em um universo neutro à esses dois lados. Mas eu estava completamente errado.

Eu estava chegando em casa, era uma sexta-feira. Meu dia tinha sido normal, como os outros, eu acordei, comi, fui para a escola e estava voltando para casa.

  Abri a porta e vi minha mãe na cozinha, retirando uma lasanha do fogão. Entrei em casa e fui deixar meu material escolar no quarto. Quando voltei para a sala, minha mãe falou:

-Kaio, lave as mãos antes de ir almoçar. -Ela fala se dirigindo a mesa da sala com a lasanha.

-Cer...- Não consegui terminar a frase.

  Uma bala arrebentou o vidro da sala da minha casa e penetrou fundo no crânio da minha mãe, fazendo-a cair. Me deitei rapidamente no chão e cobri minha cabeça com minhas mãos, logo depois metralharam minha casa. Balas voaram por toda a parte da casa: sala, cozinha, quartos e banheiros. Algumas ricochetearam na parede e rasparam em meus braços e pernas. Depois disso, pude ouvir sons de carros derrapando peneus e pessoas gritando fora da casa. Um tempo depois os sons pararam, e um silêncio ensurdecedor invadiu o local.

  Rastejei até onde minha mãe estava deitada para ver se ela ainda estava viva, mesmo sabendo que haviam poucas chances disso acontecer. Ela tinha morrido na hora que levara o tiro.

Fiquei um tempo junto dela, querendo que o tempo retrocedesse, que tudo aquilo não tivesse acontecido. Não consegui conter uma lágrima que insistiu cair, mas não derramei nada mais do que isso. Tinha que fazer algo sobreviver o máximo possível.

Deixei o corpo dela onde estava e fui rastejando em direção ao meu quarto. Lá eu tranquei a porta e olhei para a janela a procura de mais pessoas, mas não havia ninguém no local.

  Depois que não vi ninguém comecei a ter medo. Minha mãe tinha acabado de morrer e eu quase morri também, além disso eu não conhecia mais ninguém para cuidar de mim. Fiquei desesperado, abri meu armário, entrei dentro dele e tentei desesperadamente ligar para a polícia, mas não obtive nenhuma resposta, o que me deixou em pânico.

Levou algum tempo até eu me acalmar e voltar a pensar normalmente.

  Abri, lentamente, a porta do armário e comecei a pensar em coisas para colocar na mochila e fujir de casa, pois as pessoas que fizeram isso poderiam voltar para roubar as coisas que restaram da casa, ou até me sequestrar. Saí de onde estva e comecei a agir. Peguei algumas roupas limpas, alguns salgados e sucos de caixa e os coloquei na mochila, por fim pus um saco de dormir e uma caixa de primeiros socorros e alguns remédios do lado da mesma. Depois, troquei minha roupa, coloquei uma calça preta, que possuia vários bolsos, e uma camisa de mesma cor. Peguei meu canivete e prendi o mesmo num dos buracos para passar o cinto, fiz o mesmo com uma lanterna, prendi um cantil a minha bolsa e, por fim, esterelizei e coloquei gaze nos ferimentos mais profundos.

  Peguei tudo que tinha separado no meu quarto e coloquei no sofá da sala. Depois comi alguns pedaços da lasanha que estava em cima da mesa. E, após dar uma ultima checada nas coisas que tinha pego e dar uma ultima olhada na casa, resolvi sair.

  Todas as casas ao meu redor estavam no mesmo estado da minha, ou pior. A rua estava deserta, só existia o barulho do balanço das árvores e da minha respiração pesada. Comecei a andar.

  Eu estva com um nó na barriga e não parava de olhar para os lados, com medo de receber uma bala perdida ou de me encontrarem e me torturarem. Minhas pernas e braços ainda doíam por causa das balas que rasparam neles, e isso dificultava a movimentação.

A QuedaOnde histórias criam vida. Descubra agora