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Não conversamos muito sobre o que tinha acabado de acontecer. Ambos estavamos cansados e só queriamos uma cama para dormir. Mas antes, resolvemos fazer um reconhecimento rápido do local e nos alimentar, pois estávamos com muita fome.

  O estacionamento em que estávamos aparentemente não possuía câmeras de segurança, isso já me acalmou mais, e suas luzes estavam apagadas. Ele era subterrâneo e relativamente pequeno, pois só possuia um andar com cerca de 50 vagas.

Logo após isso, organizamos como seriam as rondas e fomos dormir. Foi decidido que cada ronda duraria uma hora, começando por mim, e dormiríamos das dez horas às sete da manhã.

  Ao amanhecer, nós fizemos uma contabilização e redistribuição nos recursos, água, comida e armas que tínhamos. Nós possuíamos, de comida, cerca de cinco litros de água, dez garafinhas de suco e sete pacotes de salgadinho. Já de armas, tínhamos cinco pistolas e 57 balas, distribuídas em dez cartuchos, e o lança granadas que estava com quatro granadas. Ao redistribuir as armas, decidimos que nós dois ficaríamos com quantidades iguais, tanto de armas quanto de cartuchos, e guardaríamos o lança granadas e a pistola que havia sobrado para uma emergência.

  Depois de tudo isso, nós fomos verificar como estavam os três "prisioneiros". Mas, antes de me levantar para ir para a porta, Bianca me interrompe:

-O que você acha que pode ter sido? -Ela pergunta.

-Não faço ideia... -Falo e depois me levanto do chão. -Só pensei no óbvio.

-Que eles planejaram isso há muito tempo? Sim é muito óbvio. -Ela responde se levantando também.

-Falei. -Disse para ela indo em direção à porta do caminhão.

  Mas, antes de abrir a porta, notei algo estranho. Os três estavam muito calados, não haviam falado nada desde à noite passada, e havia um certo cheiro no ar que estava me incomodando.
Abri o contêiner sem pensar em mais nada e me deparei com algo que não gostaria. Cledson estava morto e seu corpo fedia muito, e os outros dois haviam vomitado todo o local e estavam desmaiados.

-Ei, ei, ei! -Falei entrando e arrastando os outros dois para fora do caminhão. -Traz água e as luvas! Rápido! -Gritei para Bianca, enquanto colocavá-os no chão.

-Aqui -Ela fala se abaixando para me entregar a água. -Eles estão mortos?! -Ela pergunta espantada ao ver os dois de olhos fechados na minha frente.

-Felizmente não, mas eu já não posso falar a mesma coisa do que está lá dentro. -Falei sinalizando para o caminhão, enquanto colocava as luvas que tinha deixado dentro do kit de primeiros socorros.

-Que? -Ela fala e fica com um olhar aterrorizado no rosto.

-É, provavelmente ele morreu pela perda de sangue, desidratação e desnutrição. -Falo ainda sem notar a sua reação. -E por causa do vômito dele os outros também vomitaram e desmaiaram.

-E-eu... eu... -Ela fala juntando as mãos perto do rosto para conter o pânico que sentia.

-Você... -Falo e olho para ela, notando que estava quase surtando. -Ei, ei, não venha surtar agora. Ele já está morto, ninguém pode fazer mais nada. -Falo sendo direto e voltando minha atenção para os dois que estavam desmaiados.

-EU MATEI ALGUÉM! -Ela berra ao meu lado. -É CLARO QUE EU VOU SURTAR AGORA, EU SOU UMA ASSASSINA! EU NÃO NASCI PARA MATAR, EU NÃO QUERO MATAR! -Ela fala se levantando violentamente, derramando algumas lágrimas, e saindo.

Eu não sabia que resposta dar, ou o que falar. Não tinha sentido a mesma sensação que ela ao ter matado o cara que iria matá-la, nem ao dar um tiro na cabeça do guarda costas no shopping. Para mim, matar tinha se tornado um ato banal, desde que eu estivesse protegendo a minha vida e a dela. Não sei se minha mãe se sentiu da mesma forma que ela ao matar alguém pela primeira vez, ou se ela pensou da mesma forma que eu, na verdade eu nem sei se minha mãe chegou a matar alguém. Nunca perguntei isso.
Resolvi deixar os dois no local que estavam e ir atrás dela. Eles não iriam ter nenhuma utilidade por enquanto, pois estavam desmaiados. Peguei algo que havia guardado, após ter retirado as luvas e lavados as mãos, e percorri o estacionamento até achá-la detrás de um pilar que sustentava o local. Ela estava chorando de cabeça baixa e tremendo muito.

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⏰ Última atualização: Jun 17, 2020 ⏰

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