QUATRO

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   Faziam alguns minutos que se encaravam e o silêncio parecia ensurdecedor enquanto os olhos fixos se mantinham um no outro.

Mel estava confusa. Sentia-se num emaranhado de perguntas e respostas desconexas, uma loucura total. Mal sabia porque tinha aceitado aquilo, e, por mais que seu coração acelerasse e a saudade apertasse, queria saber por qual fodido motivo estava de frente para Marcelo sentindo os olhos dele pesarem sobre si.

Talvez fosse culpa.

Talvez.

Respirou pesadamente pela milésima vez e então se arrependeu de ter cedido a culpa, a saudade, ou qualquer coisa que a tivesse levado a estar naquele momento, mas não voltaria atrás, não mesmo, ainda mais se pudesse estar sentindo o cheiro dele, tão conhecido, tão perto.

Era como estar em casa outra vez. Era como estar em seu próprio, e certo, lugar. Seu lar.

Marcelo apenas observava os pequenos movimentos e reações de Mel, desde mexer no cabelo nervosamente, até as dúvidas que passavam pelo olhar dela. A conhecia como ninguém, isso não tinha mudado. Podia desvendar cada pensamento dela, inclusive sobre estar arrependida por aquele momento, que mesmo não sendo constrangedor, era estranho.

Sabia que precisava quebrar o silêncio, falar tudo o que queria, aliás, tinha pedido a ela que o escutasse, então por que não conseguia?

Ele sabia.

Não queria nem por um segundo sentir o abismo entre eles como sentiu durante aquela briga, se estendendo por dois anos. Podia parecer desespero, ele não ligava, amava ela desesperadamente, sem por ou tirar da época em que estavam juntos, ainda sentia o mesmo, ainda que estivesse confuso sobre tudo relacionado a eles.

– Estou aqui para ouvir. – A voz dela, baixa demais, chamou atenção dele.

Marcelo concordou, levando a mão aos cabelos num ato de nervosismo e então se arrumou no sofá antes de começar a falar, fitando os olhos escuros dela.

– Eu queria falar coisa pra caralho, mas eu vou falar, falar, falar e não vai adiantar nada. Nada que eu disser vai resolver o que aconteceu, nada vai reparar o que nós dois sentimos, mas você pode mudar o que vai acontecer.

Uma grande alerta se instalou na mente dela, que poderia rir de nervoso, mas engoliu seco, arregalando os olhos e achando o jogador ainda mais louco do que imaginava.

– Você é maluco, sabe disso? Marcelo, tem dois anos quem nem sequer trocamos uma mensagem, o que diabos você está falando? Enloqueceu?

– Enlouqueci desde que você entrou na minha vida, e depois me expulsou dela como se eu não fosse nada. – Falou se exasperado. – Mas eu sei que eu sou, e eu sei que você sente o mesmo que eu. Por que você prefere sofrer do que ficar comigo? Puta que pariu, você me deixa maluco!

Mel sentiu o coração pular rápido demais e o ar faltar. Como da última vez, os olhos inundaram e o peso do passado foi maior.

– Passaram dois anos, Marcelo, você não pode ter certeza de nada.

– Dois anos não foram suficientes para você mudar o que é. Você é a mesma e me ama, assim como eu te amo. Eu posso ver nos seus olhos, Mel.

Melissa riu. Podia amá-lo, mas do que servia o amor? Ele só machucava, sempre machucou, e agora não seria diferente.

– Me diz o que aconteceu, do que tem medo. – Falou aproximando-se dela. – Me deixa ficar ao seu lado e te amar, para de fugir.

A proximidade fez qualquer resistência dela se dissipar. O cheiro dele era inebriante, e a atmosfera sobre eles, quente demais, era confortável para o que ele faria a seguir. Passou os braços pelo corpo dela, trazendo-a para si enquanto passava o nariz desde o ombro até a nuca arrepiada da morena. Olhou ela nos olhos e então foi diminuindo lentamente o espaço entre os rostos, juntando os lábios e iniciando uma valsa que há muito tempo não dançavam.

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