Fenay correra em direção a lojinha de doces que estava extraordinariamente longe de sua escola, mas mesmo assim ela insistia em comprar bolinhos e balinhas todos os dias antes de ir estudar. Quando chegou na janela da loja viu um amontoado de pessoas furiosas reclamando que a loja não deveria demorar tanto para abrir pois quase metade da vila comprava seus doces para o café da manhã lá.
O gerente furioso anunciou que já poderiam comprar e que seria mais preciso apenas comprarem ao invés de se atrasarem com reclamações inúteis. Fenay concordara com o gerente, afinal se demorasse muito na fila chegaria atrasada em sua escola que era muito rígida por ser integral. " Será que essas pessoas não se cansam de tanto reclamar? Sempre estão aqui na porta bem cedo prontas para desencantar a doce aura dessa confeitaria..." - Pensou consigo mesma sem questionar o fato de se perguntar isso todas as manhãs também. Talvez ela seja um pouco hipócrita...
Enquanto Fenay estava na fila de doces, provavelmente do outro lado do planeta um jovem 5 anos mais velho que ela estava no sótão da casa de seus pais, que haviam saído temporariamente, tocando guitarra com a caixa de som num volume altíssimo. Mesmo com seus dedos doendo e sangrando ele continuava a aumentar intensamente o som. Ele sentia uma dor que aquelas notas não poderiam expressar para ninguém, porém fechou seus olhos com força e balançou sua cabeça para baixo e para cima. Agonia, angústia, fúria e desespero eram umas das coisas que ele substituiu no lugar daquelas cordas de aço, seu suor começou a escorregar por todo o corpo, sua garganta ficou seca como o deserto, mas seus olhos encharcados por lagrimas.
Ali ele já não sabia se aquele líquido eram lagrimas ou suor, se a dor e o sangue eram do corpo ou do seu coração, mas tinha certeza que haviam de estar relacionados. "Por que raio estou a sentir-me dessa maneira? Foi apenas uma garota qualquer."- Gritou alto em meio aquela furiosa música. Ele afirmou com seus pensamentos que tinha um coração para sentir tudo aquilo por isso se encontrava assim, então decidiu joga-lo para fora aos berros. Jogou de mal jeito sua guitarra no chão e caiu junto com ela em profunda tristeza repetira para si mesmo que não se apaixonaria mais dali para frente...
Finalmente chegou a vez de Fenay ser atendida, ela pediu dois bolinhos de frutas vermelhas e cinco balinhas de maçã verde enroladas em um plastico transparente para viagem, sendo bem específica. O atendente sorridente colocou tudo pedido em um plastico transparente e em seguida em uma sacola de papel com o logotipo da loja, pediu para que a mesma que se dirigisse ao caixa para pagar e assim o fez.
Quando olhou para sua mão, viu um conjunto de moedas misturado com pedaços de papel, botões da blusa que usara e um alfinete para suas costuras. "Mas que pobreza..." pensou consigo, porém no mesmo instante olhou para fora e viu entre duas árvores um floco de neve caindo no nariz de um filhote de cervo que observava-a. Curiosa ela separou rapidamente os botões, os pedaços de papel e o alfinete do dinheiro e entregou a funcionária que olhava estranhamente para garota que correra para fora da loja. Colocou suas mãos no chão quando caiu ao tropeçar numa caixinha no meio da rua, olhara atentamente aquela caixinha branca com dois galhos pregados na tampa e percebeu que pareciam com chifres de um cervo adulto. "Sim! O cervo que vi!" disse na esperança de vê-lo, no entanto vira que já não estava mais ali, então pegou a caixinha que estava em seus pés e segurou-a em suas duas mãos enquanto sentava na grama coberta de neve. Sentiu o ar ficar mais denso, os raios de luz quase inexistentes surgiram do nada em sua visão, o frio ardente que passava por sua respiração ficou mais doce e acolhedor, trouxe consigo também o perfume de um jardim de flores como se fosse primavera e Fenay sorriu alegremente por essa sensação mágica, deixando longe a frustração da fila de madrugada.
Certamente o momento não durou muito, afinal aqueles raios de luz eram do amanhecer, significa ela estava atrasada para a escola. A escola cujo ela na verdade não deveria sair nunca.
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Lanterna
Fantasy"Pessoas passam por nós todos os dias e não conhecemos tais... Não consigo entender nem descrever como é a sensação de desejo profundo por aventuras e serenidade, mas ainda preciso me desprender dos bons momentos passados..." Quem estará lá para...