Quarto 93.
Somente lá, eu me sentia blindada de qualquer tipo de lembranças ruins, traumas do passado, ou até mesmo dores de cabeça cotidianas. Nesse quarto de hotel conseguia me encontrar plenamente livre, apenas por estar com ele. Nossos encontros, apesar de não tão frequentes quanto gostaria, são regados de muita conexão e paixão.
Meses se passaram desde a nossa primeira noite, e cada vez mais ele se torna mais importante na minha vida
Algum tempo depois, sonolento e levemente alcoolizado, após um dia exaustivo, prestes a se render de vez ao cansaço, Dimitri se aninhou a mim e disse com todas as letras:
- Eu te amo, minha flor.
Após ouvir sua confissão, custei para dormir, com um sorriso no rosto saboreando a inédita sensação de estar em um relacionamento onde os sentimentos verdadeiros e recíprocos. Não demorou para eu acreditar com toda a minha alma no coração de Dimitri. Ele me transmitia a segurança e o conforto que eu necessitava mais do que imaginava.
Cada vez me sentia mais certa de que o destino o colocou em minha vida não foi atoa.
Eu o amei.
E quando tive plena certeza disso, falei em voz alta. A sensação de explodir de felicidade parecia bastante real naquele momento. Ele me pegou no colo, soltando a gargalhada mais gostosa do mundo.
- Eu sabia que esse era o seu início e o meu recomeço, flor. Eu sabia disso! - seus olhos brilhavam e para mim, seu sorriso estava mais radiante do que o sol naquele fim de tarde.
Por muito pouco chorei de emoção. Com meu coração surrando meu peito e bochechas ressaltadas pelo sorriso, eu não me recordava de me sentir tão bem.
Pensei ter encontrado carinho, compreensão, desejo, proteção e, principalmente, amor nos braços de Dimitri.
Entretanto, quando eu menos esperava, a fase turbulenta do meu conto de fadas se iniciou.
Dimitri não é perfeito, porém, percebi então que para uma apaixonada de primeira viagem é duro demais aceitar isso, especialmente, estando absurdamente entregue como eu estava. Os encontros com Dimitri altamente alcoolizado se tornaram dolorosamente mais recorrentes. Vê-lo naquele estado, a princípio encarei como algo normal. Afinal, ele é médico, sabe o que faz, isso é só uma forma de extravasar de vez em quando, não é mesmo?
Entretanto, um ciclo se instalou em nosso relacionamento, não sei dizer quando ou como começou, apenas sei que sugou toda felicidade que estava sentindo.
Nós apenas nos encontrávamos durante a noite, no quarto de hotel e apenas quando ele me ligava. Com o decorrer da nossa relação, passei a não viver enquanto ele não me ligava. Sentia meu coração acelerar a cada notificação do celular e ao ver que não era ele, murchava imediatamente. E quando ele me ligava, muitas das vezes estava tão embriagado que eu precisava buscá-lo e jogar fora a garrafa de whiskey que ele carregava consigo. Era só a bebida chegar ao fim que ele me puxava para perto. Me doía vê-lo daquela forma, mas confiei que poderia ajudá-lo assim como ele me ajudou.
Poxa, eu estava beirando a depressão, e ele tirou isso de mim, certo? Posso fazer o mesmo por ele.
Acreditei veementemente que não passava de uma fase ruim e que nós iríamos superá-la juntos. Porém, toda a racionalidade que pensei ter para suportar o que estávamos vivendo, ia para o ralo quando ele se tornava ridiculamente mais carinhoso mesmo nesse estado. Me doía demais perceber isso. Por mais difícil que fosse admitir, eu amava todos os momentos ao seu lado, mesmo que fosse o ajudando lidar com os efeitos do álcool, seja dando-lhe um banho frio, preparando-lhe um café, mantendo-lhe hidratado ou cuidando do seu mal estar.
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Sober
RomanceUm conto de fadas moderno, mostrando a vida real com dores e magoas, sem promessa de felicidade duradoura, amor verdadeiro ou finais felizes. "Você não sabe me amar quando está sóbrio."