VERDADES NÃO PRECISAS

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Luke respirou de alívio. As suas pernas estavam adormecidas e as suas mãos geladas devido à falta de aquecimento no consultório de Lorraine, em puro Novembro. 

Assim que avistou o carro vermelho da sua mãe, saltou imediatamente para o pequeno veículo, culpabilizando o frio que fazia lá fora. Também culpou a péssima escolha que fez por não ter trazido o seu casaco consigo. Era o que mais lhe faltava apanhar uma constipação em plena época gripal.

- Então. Diz-me como foi a tua consulta com a psicóloga, filho. - A sua mãe perguntou antes de lhe beijar as bochechas. Luke não lhe retribuiu o afecto.

- Mais do mesmo. - O filho de Leiah respondeu sem a olhar, enquanto colocava o cinto de segurança.

Mesmo que Luke não estivesse a olhar a sua mãe enquanto colocava o cinto, podia imaginar a sua figura virada para ele de olho franzido, e com uma data de perguntas prontas a fazer-lhe. Mal tinha entrado no carro, e já se sentia coagido com as perguntas não tão pertinentes de Leiah. Sinceramente, pensou.

- Mais do mesmo? - Leiah repetiu as palavras do seu filho com uma expressão inócua no rosto, porém indignada. Luke revirou os olhos, por ter previsto tal reacção. O quê que Luke e Lorraine dialogavam tanto, para que o resultado fosse mais do mesmo? Leiah queria progressos. 

Ela viu o seu filho encostar a cabeça no vidro do carro indicando-lhe que não lhe iria dar satisfações. Com olhos postos na paisagem gelada que os esperava lá fora, Luke desejou que a sua mãe rodasse a chave na ignição e pudessem seguir caminho em pleno silêncio. 

- Não consigo entender. Gostava, mas não consigo.

- Mãe, por favor! - Ele suspirou e ligou o rádio à espera que a música engolisse as palavras indignadas de sua mãe.

- Luke! A psicóloga Lorraine diz é como não estivesses lá! - Irritada, desligou a música abruptamente. - Nestes últimos meses, não houveram qualquer tipo de melhoras no teu comportamento. Não sei mais o que fazer, sou-te sincera.

O rapaz pensou o quê que a sua progenitora queria dizer com a falta de melhoras ao seu comportamento. Luke requeria tempo, espaço e essencialmente, paciência. Tanto lhe provocava tamanha ânsia e tristeza, que Luke não se sabia decidir quanto à fonte da sua depressão. Acordar, adormecer, sair de casa, falar - tudo lhe causava uma imensa ansiedade. Tudo o que ele não necessitava era Leah impor a sua figura de matriarca e pedir por satisfações a todo o minuto - afinal, ela sabia que Luke tomava os seus ansiolíticos duas vezes por dia, e que não faltava às aulas como antes. O quê que ela queria mais?

- O que te resta fazer é respeitar-me, sabes mãe. - Luke olha-a com ar cínico, mas as suas palavras reflectiam a verdade. Leah teria irremediavelmente de aceitar a depressão do seu filho, que tanto fingiu que não existia.

A mulher não lhe respondeu. Não, por não saber o que dizer mas por a verdade ter sido como uma chapada de luva branca. E oh, como lhe doeu.

E com silêncio a rodear-lhes os pensamentos. Luke ligou o rádio.


CAROLINEOnde histórias criam vida. Descubra agora