Em chamas!

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Olhei para o pincel na minha mão, a tela branca. O vento frio da madrugada entrava por uma das janelas da galeria. Faziam três dias que eu tentava iniciar a pintura que estava na minha mente desde que eu havia visto aparecendo em Velaris, minha casa, em chamas. Simplesmente não sabia por onde começar.

A culpa me tomou na terceira noite, quando percebi que estava passando mais tempo procurando sobre Erilea na biblioteca e tentando descobrir quem era aquela mulher do que ajudando Rhys em suas diversas atividades como Grão Senhor. Mesmo percebendo meu interesse naquela Terra, naquela Rainha, ele não me culpou e disse que saber sobre qualquer um que possa facilmente entrar e sair do nosso lar era tão importante quanto às outras coisas que devíamos fazer. Aquilo também era tarefa de um Grão Senhor e uma Grã Senhora ele dissera. Eu o amei ainda mais por isso e agradeci de formas que o faziam rugir meu nome em nossa cama. Pensar naquilo aqueceu meu ventre.

Aelin havia aparecido próximo ao rio Sidra, os gritos nos alcançaram primeiro. Rhysand a encontrou antes de mim, a mulher gritava para que as pessoas ficassem longe, fogo a cercava em um raio de quinhentos metros, mas não queimava. Ainda assim as pessoas corriam assustadas para longe, alguns curiosos tentavam se aproximar mesmo com o aviso da feérica.

Usamos nosso poder sobre ela apenas o suficiente para ajudá-la a contê-lo. Ela não tentou nos impedir. Rhysand se aventurou extinguindo as chamas que tomavam conta de sua mente fazendo com que ela tomasse novamente o controle de seu corpo, do seu fogo. Não conseguimos chegar muito perto enquanto ela incendiava a si mesma. Ainda assim, me preocupei quando a levamos em um restaurante depois de ajudá-la a acalmar seu poder e a Rainha nos implorar por comida e bebida, e ela nos disse que aquilo, aquele fogo que a tomava, era apenas uma pequena onda de poder que havia escapado enquanto ela viajava entre os portais. Como se aquilo não fosse nada demais.

A mulher de compridos cabelos dourados brevemente nos contou sobre seu reino, Terrassen, e sobre seu Rei consorte e parceiro, Rowan. E que ele e Aedion provavelmente a matariam quando voltasse. Pelo rosnar e as presas que ela mostrava, me perguntei se ela dizia aquilo no sentido literal, e fiquei curiosa sobre como a parceria funcionava naquele lugar. Então ela nos encheu de perguntas questionando se nunca havíamos ouvido falar sobre a herdeira do fogo de Mala, A Rainha de Terrassen, herdeira de Brannon, quando respondemos que não, ela assumiu uma expressão de desapontamento.

Rhysand brevemente nos apresentou. E não contive o riso quando ela nos perguntou se Grão Senhor e Grã senhora era o equivalente a Rei e Rainha. Eu não sabia como responder essa pergunta e nunca havia pensado em nós daquela forma, talvez algo próximo a isso, mas Rainha... Aquela palavra parecia carregar um peso maior. Seguindo o caminho mais fácil para seu entendimento brevemente respondi que sim. Ela encarou minha mão, a tatuagem que eu tinha, gêmea a de Rhysand, então nos observou, admirando nossas tatuagens.

-Os machos da minha corte iriam gostar disso – Comentou de forma casual.

Machos, não homens. Interessante, Rhysand pareceu notar o mesmo.

Pelo caldeirão, como aquela mulher comia. Nunca vi ninguém comendo tanto tão rápido, ela simplesmente devorava prato após prato, ainda assim elegante, ainda assim tinha a postura de uma Rainha. Em seguida ela nos agradeceu pela refeição e se levantou saindo pela porta da frente. Assinei a conta, em meu nome e a seguimos caminhando novamente em direção ao Rio Sidra. Aelin andava na defensiva, em determinado momento uma adaga apareceu em sua mão tão rápido que eu não pude ver de onde havia surgido, ela a balançava como se fosse um brinquedo.

Rhysand abriu sua mente para mim, queria levá-la, arrancar qualquer informação dela e se certificar de que não era nenhum inimigo, eu pedi que ele vasculhasse a mente dela em busca de informações. A resposta de confirmação chegou um segundo depois, meu parceiro havia confirmado toda a história de Aelin, e disse que ela provavelmente estava em uma grande confusão com seu parceiro e Aedion, seu primo. Ela não nos ofereceria problemas, e estar ali era mera coincidência, mas algo como preocupação refletiu em seus olhos.

"O que foi?" Perguntei enquanto seguíamos Aelin que parecia ter decorado onde cada rua ou viela daria, ela olhava as lojas com admiração e curiosidade. "Eu não consegui ir mais fundo em sua mente, é como se visse apenas o que ela quer mostrar. Mas eu senti verdade em cada informação." Antes que eu pudesse responder, Rhysand fechou sua mente para mim.

Então com muita naturalidade e como se tivesse feito aquilo diversas vezes, Aelin simplesmente nos pediu que levantássemos nossos escudos ao redor da cidade, e retirando três pedras de um bolso em seu vestido se preparou para partir. Eu tomei a liberdade de convidá-la para voltar, com seus amigos, recebendo em resposta um olhar curioso de Rhysand e um arranhar em minha mente, mas não o permiti entrar. Ela disse que nos encontraria em uma semana, no mesmo lugar. Então segurou as pedras e com um enorme impulso de poder, sumiu.

Desde então a pintura surgiu. A feérica e suas cicatrizes visíveis mesmo através do vestido verde de camurça que ela usava no dia. Tantas cicatrizes, nas mãos, pescoço, fora as que claramente eram cobertas pela sua roupa. Os olhos, aqueles olhos turquesa com um fio dourado. Eu percebi que Rhysand também os notava com curiosidade.

Já haviam se passado um mês desde então, Rhysand havia fortalecido as fronteiras e Amren, Mor, cassian e Azriel estavam preparados caso sofrêssemos uma invasão. E não conseguia pensar em Aelin como uma ameaça e me entristecia com a ideia de jamais vê-la novamente. Uma amizade entre a Rainha de um reino e uma grã senhora.

"Curioso" – Ouvi aquela voz sensual e familiar em minha mente. "Porque não vem pensar sobre isso em nossa cama, Feyre querida". Eu sorri com a preguiça na voz de Rhysand. "Volte a dormir." Respondi e rapidamente ergui meus escudos para ele.

Então, como se precisasse de apenas um estalo de ideia eu sabia por onde começar, quais cores usar, e qual nome daria para aquela tela. Usando uma quantidade generosa de tinta vermelha eu fiz o primeiro risco, começaria pelas chamas. 

CORTE DE ESTRELAS E CHAMAS!Onde histórias criam vida. Descubra agora