unilateral love ❛✿| stony

5.

Assim terminava de ler mais uma, de incontáveis outras cartas que lhe foram entregue. O papel estava amassado, como se fosse guardado de qualquer jeito dentro do envelope ao seu lado, contendo outras folhas ainda não abertas, parecidas com aquela que estava em mãos.

Secou o rosto molhado com a manga da blusa, fungando.

O cheiro daquele material era familiar demais.
O odor do Whisky era nostálgico demais. 
Mesmo emanado de um material, guardado a anos atrás, ele podia reconhecer facilmente esse cheiro vindo de todo o conteúdo abaixo de si.

Afinal, passou mais de uma década de sua vida convivendo com um consumidor de garrafas e mais garrafas daquele produto em específico.

Nunca aprovou do vício do colega mas não adiantava o quanto falava, a teimosia — assim como a inteligência e o grande ego — caracterizavam o amigo de longa data.

Assim como a dor em seu peito, caracterizava o loiro nesse momento.

E também a culpa.

"Steve?" olhou para Thor, quando este abriu a porta, se encostando no batente. A aparência sempre alegre e espontânea do amigo estava ausente. Assim como ele, o Odinson teve dificuldades para lidar com tudo o que se passava. Queria dizer que seu bom-humor voltaria depois que tudo fosse superado, e que todos voltariam a ser felizes como antes.

Mas não existe meio de superar isso.

"Já estou saindo, retornarei daqui alguns dias para ajudar a organizar o resto das coisas" sua voz estava rouca e falhava conforme falava. "Loki está segurando as pontas, mas não sei por quanto tempo mais aguentará resolver tudo sozinho" ele tosse, seco, e esfrega o rosto numa tentativa de tentar afastar um pouco sua aparência precária, mas seus olhos caídos denunciavam sua agonia.

Ele retornaria a sua nave para ajudar o 'irmão'. E apesar de não morar no complexo, de vez em quando saía de seu lar e passava algumas semanas — ou dias, dependendo do caso — na terra visitando os amigos e levando coisa ou outra para os companheiros e irmão, que já nos visitou uma vez. Entretanto, as coisas se complicaram, e o Deus travesso buscou pelo auxílio do Odinson.

"Vai ficar bem enquanto estou fora?"

O Deus e o soldado se tornaram muito íntimos. Ele sabia da existência dos sentimentos de Steve e a julgar pelos acontecimentos recentes, o apoio que recebia do mesmo o ajudou a não se entregar de vez a todo esse pesadelo.

" 'Bem' ninguém está Thor... é impossível de se estar" respondeu com a voz fraca. Tentava não se irritar quando lhe perguntavam seu estado, mas era praticamente impossível. Afinal o que queriam? Que ele superasse o acontecido e fosse ao cinema ver algum filme famoso do momento? Fingir ter uma vida normal como um cidadão qualquer? Ou quem sabe esquecer da existência dessa tragédia como se nunca tivesse acontecido?

Mas — infelizmente — sabia que era inevitável lhe perguntarem isso. Principalmente vindo de seu amigo, que lhe dava todo o apoio necessário. Passou a mão pelos cabelos, não ligava que o outro visse suas lágrimas, afinal aquilo não era uma novidade para ele que durante esses anos viu o loiro em situações bem piores. Mas tendo em vista que seu coração foi despedaçado novamente por sua culpa, ele merecia aquela dor. Todos foram atingidos por isso e o causador daquilo, era ele. E mesmo que não fosse, ele poderia impedir tudo isso.

Mas foi cego.
Só via o que passava em seu próprio coração e acabou se distraindo de olhar o do outro.

Não se impediria de chorar, não mais.
Esconder o que pensava foi a causa de muita dor em sua vida, e já estava na hora de parar. Machucava não somente a si, como também os outros a seu redor.
Cansou de ser como um robô o tempo todo. Atitudes sempre bem calculadas, sentimentos escondidos no fundo de sua alma.

Cansou.

Eles podem chamá-lo de herói mas esquecem que, apesar dos apesares, ele ainda era humano.

Um humano que estava farto de fingir.

"Posso aguentar ficar um tempo sozinho sem problemas, não se preocupe com isso. Você precisa ir, adiou esse retorno por tempo demais, Loki vai acabar com você quando o vir" sorriu sem humor.

Os dois se encaravam em silêncio.
Dois olhares quebrados que tentavam sustentar as mágoas um no outro e superar.
Os dois querendo juntar seus cacos porém, já não havia estilhaços seguros no qual juntar.
Acabariam se cortando.

Thor aguentaria.
Tinha que se manter forte.
Se ele fraquejasse o amigo iria também, não podia permitir que isso acontecesse. Não enquanto ele estivesse por perto.

Não houve despedida. Afinal em 2 semanas o Deus voltaria, não precisavam prolongar aquilo afinal. Só seria pior para os dois.

Quando ouviu a porta bater, tornou a ler a letra bonita, entretanto escrita de forma tremula, sob o papel.

E em meio ao silêncio, somente na companhia de seu gato e o cheiro forte de chá de maçã, ele notou o quão aquilo tudo era real.

Aconteceu e você não pode fazer nada para mudar.

Se tivesse prestado mais atenção nele do que em si, talvez notasse algum sinal do que aconteceria.

Mas era sua culpa.
Ele deveria ter prestado atenção.
Foi tarde demais.

Não era para nada disso ter acontecido.

Não era.

Seu apartamento, antes o lugar que mais tinha liberdade para agir e sentir verdadeiramente, nunca lhe pareceu tão sufocante quanto agora. Lendo aquelas palavras, rabiscadas em dezenas de papéis espalhados por sua cama e observando os pertences do outro, fazia-o querer gritar o mais alto que puder. Querer se jogar de algum lugar alto e, se possível, socar a si mesmo no rosto. Mas para sua infelicidade, não tinha mais forças. Soluços e fungadas saíam cortando sua garganta e ecoavam pelo quarto, assim como as lágrimas que caiam das íris azuis, molhavam seu rosto amassado e corado.

Queria tanto voltar atrás, e dizer o que guardou esses anos todos somente para si.

Enquanto ainda chorava, o ar frio da noite, entrava suave pela janela, e fazia um jornal repousado no criado mudo, balançar o conteúdo de suas páginas conforme a fraca corrente de ar agia.
Impresso no mesmo, havia uma foto de seu eterno amor — que agora sabia não ser unilateral — na manchete que havia destruído sua sanidade à duas semanas atrás.

E que ainda lhe causava, e eternamente causaria, a mesma intensa dor instalada em seu coração, desde o momento em que lia a matéria.

"Tony Stark mundialmente conhecido como o recém-aposentado, dono das Indústrias Stark e também o Homem de Ferro, foi encontrado morto no dia 23 de julho nas instalações de sua casa em Manhattan. A perícia  revela que a causa da morte foi devido a uma tentativa de suicídio do mesmo, através do consumo de medicamentos e líquidos inflamáveis. A notícia choca a população e causa uma tristeza imensa, tanto nos mais velhos quanto nos jovens e crianças. Em seu testamento, o eterno herói doou sua fortuna para diversas ONGs de ajuda humanitária e sua indústria será herdada para um amigo de confiança do mesmo, que até então, a identidade não foi revelada. Suas realizações mudaram o mundo em que vivemos e seremos eternamente gratos a ele que[...]"

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1290 palavras yay

obrigada pra quem me acompanhou até aqui, e espero sinceramente que tenham gostado.

o que acharam do final?
alguém ja sabia o que ia acontecer?
se tiverem alguma dúvida podem perguntar
à vontade.

obrigada a todos que acompanharam e deram uma chance a essa estória, agradeço de coração por todo o apoio que tive até agora. 

Até a próxima ;)