O Escravo

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"Misericórdia, senhor!"
Pediu o escravo, em um sussurro.
E em um esforço Hercúleo, levantando a mão.
Esperando não ser em vão.
Enquanto de dor, morria.
Pelas chicotadas do dia.
O senhor, contrariado, recolheu a mão.
"Que isso não se repita, Sebastião!"
E o escravo assentiu, desesperado.
Esperando se livrar do tronco.
Ele sabia que aquela noite, não dormiria.
De tão atormentado que estava.
A sorte foi que não morreu, igual a Maria.
Que ficou no tronco durante o dia.
Sem comida ou bebida.
Apenas apanhando, quando o Senhor queria.
Ele fechou os olhos e pediu aos orixás.
Para logo o levarem dali.
A sua esperança era a carta de alforria.
Aquela que o seu Senhor prometia.
A carta que, a sua liberdade marcaria.
Mas Sebastião sabia que sua carta não receberia.
Sabia que, do jeito que as coisas iam,
Ele logo morreria.
Dito e feito.
No outro dia, mais uma vez foi amarrado.
E também chicoteado.
Sem piedade ou misericórdia.
Dessa vez, não teve pena que o salvasse.
E nem o seu Senhor que parasse.
E com um último suspiro.
Sebastião deixou a família que precisava do pão de cada dia.
E sua esposa chorou
Ao saber que Sebastião a deixou.
E ninguém ligou.
A vida ainda continuou.
Até porque Sebastião não foi o primeiro.
E nem o último.
Que a escravidão matou.

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