07.1 Tragédias

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Tudo que eu quis
São coisas que eu já tive antes
Tudo que eu precisei, nunca precisei tanto
Quanto preciso agora
Todas as minhas perguntas
São respostas para os meus pecados
Todos meus finais estão esperando para começar... 
Circle | Slipknot

MAXINE WOODS

Quando acordei na sexta-feira pela manhã, duas boas notícias apareceram.

Depois delas, as portas do inferno foram abertas, me arrastando diretamente ao seu dono.

El Dorado era um restaurante de comida mexicana localizado no centro comercial de NiKho e caro demais para que eu soubesse como funcionava exatamente. Não me lembrava de ter deixado algum currículo lá, mas talvez pudesse ter sido Minna ou Shawn. De qualquer forma, o retorno por e-mail que recebi pela manhã enquanto chegava ao hospital foi como o pequeno empurrão que instigou ainda mais meu desejo de permanecer ali. Não seria um salário grandioso, mas já era um pequeno começo.

Peguei o elevador direto para o CTI, onde fui informada que Carter pôde ser trocado de leito e levado para a ala de internação comum do hospital. Precisei descer apenas um andar, encontrando um maior movimento de pessoas, provavelmente por ter horários de visitas mais flexíveis do que a ala na qual estávamos.

— ...em dois dias, se tudo estiver certo, vamos transferi-lo. Só é preciso algumas assinaturas finais para que o procedimento ocorra.

Jonathan conversava com o médico ao lado da sala onde Carter foi internado. Ele apenas concordava com os braços dobrados e a postura rígida. Esperei que eles terminassem e assim que notou minha presença, anuiu ao médico que preparasse tudo e seguiu em minha direção.

— Como ele está? — perguntei.

— Na medida do possível, bem — respondeu Jonathan. — O doutor disse que assim que chegar em Phaune vão tirar a sedação para que ele acorde.

— Mas já? Não é perigoso?

— Os médicos de lá vão avaliar o estado dele depois da transferência e ver se podem realmente parar a sedação. O problema é que só vamos saber das sequelas neurológicas depois de vários dias da suspensão desses sedativos — lamentou com um suspiro pesado. — O médico avisou que temos que nos preparar para o pior.

Eu estava preparada para o pior. Com a cabeça aberta e o rosto banhado em sangue, meu irmão praticamente morreu naquela noite. E precisaria de muita força e um pouco de misericórdia para voltar a viver.

— Eu posso vê-lo?

Quando Jonathan assentiu, abri a porta ao lado e me aproximei de Carter. O aperto no peito foi inevitável vendo-o com todos aqueles hematomas que pareciam bem piores de perto. Seus olhos ainda estavam inchados e o violeta se estendia em dégradé até suas maçãs do rosto. Enfiei meus dedos cuidadosamente por seus cabelos ralos e parcialmente raspados por causa da cirurgia, me perguntando se ele era capaz de me ouvir enquanto eu lhe sussurrava que sentia muito e que o amava demais. Desejei que ele pudesse abrir os olhos e me contar quem era o desgraçado responsável por aquilo, o motivo ou o que havia acontecido, porque a cada segundo olhando-o naquele estado meu desejo de vingança aumentava ainda mais.

— Max — Jonathan se manifestou após longos minutos. — O médico também disse que ele vai poder ser transferido daqui a dois dias. Eu vou comprar as passagens hoje à noite e é melhor terminar de empacotar suas coisas, precisamos esvaziar a casa até amanhã para os novos moradores. O caminhão da mudança vai chegar hoje à tarde.

Ergui a cabeça para encará-lo. Sua voz estava mais grave, as olheiras haviam voltado e seus olhos pequenos estavam pesados, fazendo-me perceber que eu não era a única sem conseguir dormir direito.

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