A reunião

19 1 0
                                    

   Andando ao lado de Vicent, Alexander percebeu que todos os estudantes que saíam de seus dormitórios, o encaravam e cochichavam entre si. Geralmente seus colegas apenas o olhavam de longe, dando-lhe alguns pequenos sorrisos e cumprimentos em baixo tom, era quase como se alguns deles sentissem medo do rapaz.

   Exatamente no meio de toda a estrutura da escola, existe a Central, onde se localiza a recepção, sala dos professores e a sala da Diretoria. Não é comum os estudantes estarem lá, mas para Alexander, não havia nada de novo nisso, já que seu pai é um dos sócios da Diretoria e as vezes o levava até lá para se gabar da genialidade do filho. 

   Enquanto entravam, Alexander notou que houve algumas mudanças sutis na decoração: agora, juntamente com os quadros dos Dotados mais importantes da história da humanidade, também haviam retratos de alguns humanos que realizaram feitos extraordinários. Isso lhe pareceu estranho, porque apesar de respeitarem muito todos os humanos, não era do feitio deles enaltecer os, como eles chamam, ''comuns''. 

   Chegando a uma porta grande e marrom, Vicent a abriu e deu espaço para que o rapaz entrasse. Eles estavam na sala da Diretoria - um salão amplo, com decoração antiga, diferente do resto da estrutura moderna da escola, com detalhes dourados em todos os lugares e cadeiras estofadas da cor vermelha -  e todos os sócios, incluindo Anderson, estavam com as vestes brancas. Alguns estudantes do último e do penúltimo ano, Alexander percebeu, já estavam acomodados.

   - Fique a vontade - disse Vicent, fazendo com que o rapaz se sentasse em uma das cadeiras.

   Ele tentou evitar olhar para o pai, mas seus olhos, involuntariamente, encontraram os dele. Anderson estava de pé no canto da sala junto aos outros sócios e olhava para ele com os olhos profundos e até cruéis, que o rapaz tanto conhecia. Alexander logo virou o rosto, tratando de focar apenas na sua frente. Entretanto, não pôde deixar de notar que um garoto, o qual ele nunca havia visto, estava encarando-o, admirado. Por alguns segundos, ele tentou ignorar o estranho garoto, mas quando não pôde mais evitar, Alexander virou-se, encarando-o com seu olhar frio que costuma desestabilizar as pessoas:

   - Algum problema? - Perguntou, indiferente.

   - Não, não mesmo! - Respondeu o garoto, tremulo - É só que... você é, tipo... genial... - Alexander gostaria de rir, mas permaneceu com sua postura impecável. - Eu nunca tive a chance de ficar assim, tão perto de você. Ah, eu tenho tantas perguntas! Mas, é claro, não quero incomodá-lo! - o garoto começou a passar dos limites, gesticulando os braços, suando e falando cada vez mais alto - Eu sei como seu pai cobra de você, quer dizer, parece muito que cobra. Bom, é o que dizem! Não que seja, necessariamente verdade. - Alguns dos estudantes começaram a observar a cena e o rapaz começou a se irritar com a petulância do tal desconhecido - Eu até tento, sabe. Sou muito inteligente, é o que dizem! Mas não habilidoso... ah, habilidoso não...

   O garoto ajeitou os óculos ao rosto magricela e sorriu, tímido. Alexander respirou fundo, se acalmando, pois acabara de perceber que o garoto não fez por mal, era apenas idiota. Com a voz baixa e controlada, ele perguntou:

   - Qual é o seu nome?

   - Meu nome é Fred. - Fred olhou em volta e muito envergonhado, percebeu quanta atenção ele atraiu - Ah... me desculpe por isso.

   Fred não era nem do último, nem do penúltimo ano, era do antepenúltimo, ou seja, ele estava no oitavo ano. As crianças ingressam nas Escolas para Dotados aos oito anos de idade e se formam aos dezoito, ou seja, Alexander estava no nono ano.

   - Fred - disse o rapaz - fale mais baixo e pausadamente - alertou.

   - Tudo bem, quem sabe na próxima. - ele sorriu, grato - Obrigado pelo conselho.

O Escolhido das Sombras Where stories live. Discover now