O GUARDA-COSTAS (CAPÍTULO ÚNICO)

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Mesmo no último andar do prédio mais alto da cidade, as luzes dos imensos letreiros ainda incomodam a visão.

A cidade de Las Vegas é feita de luz. Mas nenhuma tão intensa quanto o azul dos olhos dele.

Ele está sério. A expressão fechada, o braço apoiado no parapeito. Encara a cidade pela sacada de vidro, varrendo os prédios vizinhos com o olhar atento. Sei que algo o incomoda.

- Eu sei do que você precisa... - digo me aproximando sorrateira, deslizando a mão por cima do tecido de sua camisa.

- Se realmente soubesse não estaríamos aqui agora. - ele não olha pra mim. Permanece com o olhar fixo no horizonte.

Eu daria tudo para saber o que se passa em sua mente.

Depois de suspirar demoradamente, seus olhos azuis me engolem. Sua maneira de me olhar... É algo arrebatador.

- O que eu preciso é ter você em segurança. - sua voz é baixa, rouca. Como se algo dentro dele doesse.

- Você me tem. - respondo espalmando seu peitoral. Preciso sentir o calor da sua pele.

Seu corpo está tenso sob meu toque. Ele sorri contrariado, balançando a cabeça em negativo e mordendo o lábio inferior. Entende o duplo sentido da frase. Ele é o único que me entende. O único que sabe exatamente quem sou e o que quero.

E o que mais quero agora é que ele me toque.

- Não posso mais e você sabe disso. - não sei quanto tempo mais suportarei a distância que ele impõe entre nós.

- Não me importo. - sei que digo isso com raiva, o que faz ele se virar de costas pra mim, colocando as mãos na cintura.

- Não. Você não se importa. Mas eu sim. - quando me encara novamente um sentimento que não consigo decifrar perpassa seu olhar. - Eu só aceitei voltar se você desistisse da turnê. E olha onde estamos agora!

- Não vai acontecer nada. Ele se foi. Você... o... - não termino a fala. Ele sabe muito bem o que fez. Eu também. -  Estou segura agora. - me limito a afirmar.

- Não! Ele tinha um cúmplice, você sabe disso! Não sou feito de aço, não posso te salvar de tudo! Não consigo te proteger nem de você mesma! Isso me mata! Aliás, quase me matou de verdade!  - ele passa as mãos pelo cabelo e depois ajeita o coldre de sua 38 por instinto. Está nervoso. Isso acaba comigo.

- Não fala isso! Se você tivesse... - eu não consigo nem mesmo terminar a frase. Dói. - Se algo tivesse acontecido com você, eu não estaria mais aqui.

Ele sabe que falo a verdade. Se ele tivesse morrido para me salvar, eu morreria também.

A fama pode ser algo tão intensamente perigoso. Eu tinha um perseguidor. O homem tentou fazer da minha vida um caos. Mas o caos tem olhos azuis. E eles me olham agora, me arrastam para seu inferno pessoal.

- O que nós temos é doentio! Precisamos nos tratar! Parar com isso... Foi um erro eu ter voltado! Eu te coloco em risco. Ele tem razão. Meus sentimentos por você interferem no meu trabalho.

- Ele não sabe de nada! Não me conhece! Não me ama! Ele não é nada pra mim!

- Ele é seu marido apenas.

Silêncio.

Eu não posso lutar contra os fatos. Isso machuca.

- Eu sou sua. - corro até ele num ato de desespero.

Ele segura os meus braços e me afasta. O inferno poderia congelar com a frieza do seu olhar.

- Você não é. E sabe disso. Chega. Não posso mais.

ROLLERCOASTER LOVEOnde histórias criam vida. Descubra agora