LEONARDO
O link que dizia ensinar sobre sonhos lúcidos foi muito útil em me deixar curioso, pois apenas falava muitas besteiras.
Ouvi o barulho do sininho da porta de entrada da loja, era meu vizinho de trabalho. Douglas era gerente na sorveteria ao lado e estava sempre me fazendo companhia, era ótimo porque durante semana era bem difícil ter movimento na loja.
– Bom dia, Doug. – eu disse ainda olhando pro notebook e minimizando a tela.
– Ótimo dia, Léo! Ótimo dia... Se não fosse pelo fato de que já começamos a semana com problemas técnicos... – sua voz era aguda e animada sempre, até mesmo de manhã e até mesmo quando havia problemas.
Cocei a cabeça e sorri, já me levantando.
– Não precisa nem dizer nada. Eu resolvo.
Doug riu, me esperou passar, deu um tapinha nas minhas costas e seguiu quando fui em direção a sorveteria. Todos sempre esperavam de mim esse tipo de ajuda pois eu tinha uma boa relação com a tecnologia. Acho que esqueci de apontar um detalhe... A engenharia que estudo é Engenharia da Computação.
– Eu não sei o que se passa com esse sistema...
– Não é o sistema em si, é algo mais simples... – disse enquanto me abaixava procurando o modem. Ergui o cabo que estava solto para que ele pudesse ver. – o sistema precisa de internet, e o cabo estava desconectado do computador.
– O que seria de mim sem você? – Doug riu – Ainda bem que existe quem entenda, se fosse depender de mim iamos ficar sem sistema.
Fomos até a calçada e ficamos conversando em frente a loja de forma que eu pudesse ver se entrasse algum cliente lá.
– Você está com uma carinha diferente hoje, noite difícil?
– É... Não dormi muito bem – expliquei – , muitos mosquitos.
Douglas era ótimo amigo, sempre preocupado, sempre atencioso, gostava de quase tudo nele, com apenas uma exceção.
– Mosquitos, né? Bom, se precisar de um ambiente diferente por uns dias você pode dormir lá em casa...
Olhei para Doug sem graça. Ele estava sempre me cortejando de formas sutis.
Se me lembro bem, a última vez que perguntei Doug tinha dito ter 28 anos, mas para mim seu físico aparentava ser uns 4 ou 5 anos mais novo e sua mentalidade 10 anos mais velho, mas nada disso impedia que ele fosse um bom galanteador. Eu não sabia lidar muito bem com cortejos masculinos, talvez por não ter interesse em homens.
– Ok, ... – sorri e mexi meu corpo de forma estranha – obrigado. Bom, preciso voltar a loja. – disse gesticulando e apontando para a loja, e quando Doug voltava para dentro da sorveteria observei ele para que pudesse te descreve-lo.
Eu não sabia ao certo como era seu cabelo, pois ele estava sempre usando chapéu daqueles redondinhos com aba, e cada dia um diferente. Seu corpo era magro, ele era alto, provavelmente quase 1,80, a pele cor de oliva, e os olhos, se me lembro bem, eram castanho escuro.
Quando entrei na loja novamente voltei a pensar sobre o assunto dos sonhos. Comecei a lembrar de alguns flashes.
Deve ter sido confuso pra você, Enrico ter me chamado de Mauro, não é? É até nojento pra mim admitir, mas já houve um dia em que eu estava acostumado a ser comparado com ele – não tenho nada a ver com ele, aquele ser horrível. Mas não quero falar sobre isso, não quero te contar sobre isso, não quero nem que você saiba sobre o tempo em que fomos próximos... Está bem enterrado no meu passado e gostaria que ficasse assim. Como Enrico sabia disso?
Decidi pesquisar sobre Enrico, mas também não achei nada que fosse de alguma utilidade. Não existia nenhum estudo que comprovava ser possível entrar no sonho de alguém.
Felizmente achei coisas interessantes sobre perceber estar em um sonho, mas pra minha surpresa não parava de entrar clientes. O resto do expediente foi bem corrido, principalmente depois que almocei, então separei os links que achei e me enviei pelo WhatsApp da loja para que eu pudesse abrir no celular mais tarde.
Alguns minutos antes de meu expediente acabar o outro funcionário chegou para assumir o seu horário. Quase um milagre ele não estar atrasado.
Me permiti sair uns minutos mais cedo, já que sempre saia mais tarde, esperando ele.
Fui caminhando para casa, eu devia ir direto para lá, comer algo, me arrumar pra sair pra faculdade, contudo, como dessa vez eu tinha um tempinho sobrando, atravessei a avenida e fui andando pelo calçadão da praia, por mais que depois tivesse que atravessar de volta.
Meu celular vibrou no meu bolso esquerdo.
"Alicia <3" mostrava o visor. Ver a foto dela me fazia amolecer um pouco, sei que Mauro se apressou em lhe contar sobre ela na minha frente, gostaria de dizer que ela não é minha namorada, mas é como se fosse... temos um negócio meio indefinido.
– Oi, gata...
– Léo – ela me interrompeu com uma voz bem séria e tremula –, eu não vou pra aula hoje, parece que meu pai sofreu um acidente no transito, já estão levando ele pro hospital, eu estou correndo pra lá.
O hospital ficava na mesma avenida do meu trabalho. De imediato respondi a ela que a encontraria lá.
Atravessei a avenida da praia de volta e fui pegar um ônibus.
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INCUBO - O Mundo Violeta (REESCRITA)
FantasyHistória em processo de reescrita. Acompanhe os rascunhos. 🏅 • Longlist em Wattys2018 •