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As pessoas são perversas

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As pessoas são perversas.

Não todas. Não se pode generalizar. Mas é incrível até que ponto a maldade pode chegar.

Sou uma santa? Óbvio que não. Longe disso. Minha pretensão não me deixa me fazer de vítima. As vezes me sinto uma pessoa horrível, mas sei que há piores.

No momento estou dentro de uma cabine do banheiro da escola. Se eu fosse uma pessoa alheia à situação, provavelmente estaria totalmente perplexa, mas infelizmente, olhar as paredes do banheiro feminino da Southwood High School e ver palavras e frases ofensivas, já não é tão raro.

Já não sei mais como devo me sentir. Não consigo escolher entre ficar aliviada por não ser vítima ou intimidada com a ideia de que pode não demorar para que eu me torne uma.

Prefiro pensar que algum dia a direção da escola abrirá os olhos para a real situação de seus alunos, em que meninas como Bonnie Clark se sentem com poder e direito para desprezar meninas fora dos seus padrões ou que não pertencem à sua "classe selecionada de seguidoras".

Penso que não sou tão qualificada pra debater assuntos delicados como esse, mas se não falarmos usando nossa voz, quem falará?

- Ah vai, não seja chata - Grendha persiste em tentar me convencer a ir numa festa com ela - vai ser muito legal.

- Pela milésima vez, Grendha - falo pausadamente - eu não gosto de festas, não quero ir.

- Mas é uma das festas do Matt, não podemos perder! Então me dá um motivo convincente para que você não queira ir - ela diz em desafio.

Apenas fico calada. Que motivos eu tinha? Ter medo? Medo das pessoas? Medo de que Nicholas estivesse lá? Ele vai estar. Ele sempre está.

- Viu? Você não tem nenhum bom motivo - ela cruza os braços.

Dois segundos depois ela me olha como se tivesse acabado de pensar na coisa mais absurda do planeta - Ai, Meu Deus! Não me diz que é por causa do Nicholas.

Eu sabia que era, mas ouvir aquilo em voz alta era apavorante. Saber que depois de 4 anos ele ainda exercia poder sobre minha mente.

Mas que saber? Dane-se. A meta não é esquecê-lo?

- Sabe, Grendha? Eu mudei de ideia. Vamos para essa festa - falo em tom decisivo.

Grendha sorri e bate palminhas - Eba! Eu sabia que ia te convencer.

Então ela me ajuda a me arrumar. Coloco um vestido justo preto, com manga comprida e caído nos ombros. Ia calçar um tênis ou uma sapatilha, mas Grendha me olhou como se eu fosse louca e me entregou um salto alto preto com solado dourado. Fiz alguns cachos no cabelo, tentando deixar o mais natural possível e fiz uma maquiagem rápida - nada muito exagerado - dei uma conferida no look olhando no espelho.

Me surpreendi com meu próprio reflexo. A última vez que tinha me vestido assim foi no casamento da minha tia Ellen há uns dois ou três anos.

Despertei do transe com Grendha dizendo que eu estava linda e não precisava me preocupar, o que me faz relaxar e perceber o quanto estava tensa antes disso. Retribuo o elogio com um sorriso e saímos.

A casa está lotada de adolescentes - alguns já bêbados - mas é uma festa de Matt Davies, que tem fama de quem dá as melhores festas.

A música alta e a grande quantidade de pessoas me incomoda, não me sinto muito confortável em festas. Mas tento ser só mais uma adolescente normal e me enturmar.

Chegando na cozinha, vejo a bancada repleta de bebidas. Onde estão os pais desse menino? Como eles deixam litros e litros de bebidas alcoólicas na mão de estudantes de ensino médio assim?

Hildegard, para! Você não está aqui pra ficar reparando na irresponsabilidade das pessoas, e sim para se divertir. Relaxe e tente agir normalmente.

Nunca bebi álcool na vida, então tento começar com algo leve. Pego um copo e sirvo cerveja. Vou para o quintal onde tem uma piscina e várias pessoas estão de biquíni. Vejo Grendha - que tinha ido ao banheiro - e ela me puxa para a pista de dança. Eu sei dançar? Provavelmente eu pareço um ganso sendo eletrocutado, mas ei, eu tentei!

- Oi meninas - um garoto se aproxima de nós e passa o braço ao redor da cintura de Grendha - Como vão?

- Oi amor - Grendha responde após depositar um beijo rápido em seus lábios - Hild, esse é o Andrew, meu namorado.

- Oi Andrew - sorrio, simpática.

- Eu vim pegar a Grendha emprestada um pouquinho, pode ser?

- Claro, eu vou ficar bem - digo ainda sorrindo - até mais e divirtam-se.

Sirvo mais um copo de cerveja e continuo dançando. Depois de cinco músicas e copos de cerveja que já perdi a conta, me dá uma enorme vontade de fazer xixi. Então resolvo subir para o segundo andar e ver se encontro um banheiro.

Quando chego ao topo da escada, avisto uma porta no final do corredor, onde deduzo ser o banheiro. Não estava trancada, então imagino que não estivesse ocupado. Giro a maçaneta e entro no ambiente escuro, encontro o interruptor e, assim que acendo a lâmpada, percebo que era um quarto - provavelmente do Matt - ao mesmo tempo que uma cena inacreditável invade meus olhos.

Lá está Nicholas se agarrando como se não houvesse amanhã com Bonnie Clark.

Quando percebem que alguém entrou no cômodo, se desgrudam e me olham como se eu estivesse com uma faixa de "Miss Inconveniência".

Ao conseguir processar a situação, com um sentimento ruim se infiltrando em meu corpo, apenas digo:

- Me desculpem.

E saio correndo em direção ao andar de baixo novamente.

As lágrimas ameaçam cair, mas não vou permitir que eu derrame mais lágrimas do que as que eu já derramei por Nicholas Fremont. Isso não vai mais acontecer.

Só a cerveja não seria mais suficiente. Sirvo uma dose de tequila e viro de uma vez, sentindo meu corpo queimar por dentro enquanto o líquido percorre o caminho pela minha garganta até o estômago.

Um shot de tequila, duas doses de vodka e mais alguns copos de cerveja depois eu já não sinto mais meu próprio corpo, não consigo raciocinar direito. Vejo o que parece ser Grendha e outro garoto falarem comigo, mas não consigo responder. Minha cabeça começa a girar, meu olhos pesam e, de repente, eu não sei onde estou, não escuto mais a música alta e a escuridão toma conta.

 Minha cabeça começa a girar, meu olhos pesam e, de repente, eu não sei onde estou, não escuto mais a música alta e a escuridão toma conta

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