Uma criatura inferior

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Era fim de tarde, e fazia um pouco de calor, não suficiente para se usar uma regata pois o vento ainda batia forte. Antônio havia acabado de virar a esquina da rua de sua casa, não andava firme e não apresentava qualquer entusiasmo escondido no fundo de suas olheiras.

Na calçada, iluminados pelo pôr do sol cinco cachorros estavam em torno de um saco de lixo, brigavam por uma ocasional mortadela vencida ou um resto de frango ou pizza, os cães destroçavam o plástico negro assim como um grande lobo destroça a carcaça de um cervo.

Antônio ao ver aquela cena, da mais grotesca naturalidade, coçou seus olhos sem acreditar no que via, mas sim, no meio daquele pôr do sol, cinco cães queriam ser lobos novamente. Antônio fora de um tímido andar de fim de tarde para uma paralisia completa, até tentou pensar no que fazer mas sua cabeça estava em brumas, e as pernas eram incapazes de correr.

Os cães ainda comiam do saco de lixo, se esbaldavam naquilo, mas sua atenção mudou ao verem Antônio paralisado na esquina, dizem que os cães podem farejar o medo, é verdade, mas aqueles cães não precisaram farejar para ver que Antônio estava paralisado de medo como se uma arma estivesse apontada sobre sua testa, os cães o fitaram com atenção, observaram cada detalhe, compararam Antônio com as coisas que acharam no saco de lixo, havia uma coisa ou outra que combinava com Antônio, ou seja, para os cães, Antônio era uma novidade enorme, para ser cheirada, vista e apresentada.

O mais jovem dos cães se aproximou de Antônio, cheirou suas pernas, suas mãos e lhe deu uma boa olhada, Antônio continuava paralisado e o stress daquele momento era a única coisa que o impediu de ter um desmaio ali mesmo. O cão jovem chamou todos os outros para examina-lo, os cães se comunicavam entre si, em rosnados e gemidos, diziam coisas incompreensíveis.

Enquanto os cães o examinavam, Antônio teve um lapso de adrenalina, desatou a correr como nunca antes em sua vida, os cães permaneceram parados, a observar seu comportamento, Antônio correra por 3 quarteirões seguidos, até que suas próprias pernas o jogaram no chão, bateu com a cara na calçada, sem conseguir mais mover um músculo a não ser seus olhos. Da escuridão da noite surgiam os cães, não eram mais metódicos e tranquilos, correram ferozes até Antônio, primeiro destruíram seus intestinos, depois aproveitaram o máximo de seus braços e pernas, transformando o pobre Antônio em um pacote flácido de carne dura, uma criatura inferior. 

Os idiotasOnde histórias criam vida. Descubra agora