Capítulo Quatro

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Todas as pessoas a nossa volta desapareceram por um instante, a passos lentos ela me circunda, um olhar pesado em lágrimas encara o chão.

-Esta não é primeira vez que nos encontramos. - Os olhos brilham ao encontrar os meus e de repente começo a ter flashes de um passado adormecido.

Eu estava correndo, sendo caçado por outros, eu não podia morrer, mas ainda sim eu lutava pela vida, por anos eu fui morto das mais diferentes formas e renasci todas as vezes, mas toda vez que isso acontecia, parte do meu passado era perdido, no entanto, eu consegui me lembrar do motivo pelo qual eu estava sendo perseguido e pelo qual lutava contra todos tão ferozmente.

Há milênios algo inimaginável acontecera, a morte apaixonara-se pela vida, mas eles jamais poderiam ficar juntos.

Os olhos dela começaram a perder a cor, os cabelos estavam perdendo o brilho e a pele estava ressecando.

-O que está acontecendo com você? Você é...

-Esse breve momento é só o que posso ter para vê-lo. Eu resisti por séculos não encontrá-lo, amanhã tudo será esquecido novamente e passaremos eras e eras vagando sem saber que parte de nós estamos procurando, apenas fazendo com que o ciclo continue.

-Eles nos condenaram a viver presos aqui sem jamais podermos nos aproximar. - Eu estava começando a me lembrar.

-Se quebrarmos o ciclo tudo estaria perdido, tente entender. Isso jamais deveria ter acontecido, mas já que aconteceu nós temos que arcar com as consequências.

- É injusto!

- E seria justo tudo ser perdido por causa de nós dois?

- Não... Mas deve haver uma saída para nós. - Uma imensa tristeza me invadiu, eu me lembrei de como a falta que eu sentia dela queimava como fogo em meu coração.

-Eu te disse tudo que podia, você ainda pode encontrar um jeito de se libertar da prisão na terra, ir embora, ver outros mundos, deixe esse para trás. - Pediu ela com pesar.

-E que sentido teria isso se jamais pudesse vê-la novamente?

Eu não podia chorar com o pesar do adeus, há muito estava acostumado com isso, mas minha tristeza era profunda e agora era como se tivesse uma espada atravessada em meu peito.

- É minha hora, da próxima vez que nos encontramos, se nós encontramos, eu não lembrarei de você. - Ela tocou meu rosto pela última vez antes de uma leve brisa a tocar e levar suas cinzas prateadas para longe. As cinzas brilharam uma última vez no céu antes que a chuva fina começasse a cair e o vento as levasse embora por mais centenas de eras.

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