Capítulo 2

5 3 0
                                    

     Uma semana depois, enquanto voltava ao píer para ficar ali sonhando acordado até o amanhecer, viu um garoto, ele não devia ter mais do que 13 anos e Marcelo já o havia visto antes na escola. O garoto rastejava os pés como um zumbi e se aproximava cada vez mais da água. Ele iria mergulhar.
        Marcelo correu até lá, sentindo que precisava impedir o garoto, do que quer que ele estivesse prestes a fazer. Mas não teve coragem, então escondeu-se entre as barracas de feirantes que ficavam no píer e ficou observando o que o garoto fazia. Ele se abaixou, parecia estar decidindo se pulava ou não. Então marcelo viu algo saindo da água e indo para cada vez mais perto do garoto. Entregou as costas das mãos sobre os olhos, de perguntando se ainda não estava dormindo. A mulher que chamava o garoto, parecia ter... Escamas. E então tudo aconteceu rápido demais, ela puxou o garoto para a água com uma força assustadora, apertando os dedos longos ao redor do pescoço dele. Eles afundaram. Marcelo, a contragosto, pulou na água logo em seguida, ele sentia precisava salvar aquele garoto. Ele nadou cada vez mais fundo, num mar sombrio e ameaçador. Ele procurou pelo garoto, mas não conseguia ver nada além do breu e a água salgada estava fazendo seus olhos arderem. Algo lhe puxou pelo braço, ele se debateu pensando que poderia ser mais uma daquela critatura que atacou o menino, e estava certo. Enquanto esmurrava o monstro, sentia as escamas escorregadias. Outra mão o agarrou, mas desta vez no calcanhar, puxando-o para baixo. Ele sentia como se fosse ser partido ao meio, tamanha era a força das criaturas, puxando em lados oposto.
       Ele já estava começando a se afogar, quando foi libertado. A criatura que o puxavam para cima mergulhou e desapareceu junto da outra e ele conseguiu nadar até a margem. Afundando as mãos na areia ele conseguiu arrastar o corpo mais para cima. Algo agarrou seu calcanhar mais uma vez, ele chutou e se debateu e então virou-se. Um arrepio correu por todo o seu corpo, um linda mulher com dentes afiados, garras que perfuravam sua pele e escamas. Uma sereia. Assustou-se quando ela o puxou com força para si e viu em seus olhos algo que o deixou apavorado: fome. Voraz urgente.
        Lembrou-se das vezes em que pensou na própria morte, nunca havia cogitado virar comida de sereia. Outra criatura emergiu da água e veio em sua direção, estava morto, foi o que pensou. Então algo inimaginável aconteceu, a sereia nadou e atacou àquela que o segurava, esta por sua vez, arreganhou as presas para a outra e mergulhou, deixando Marcelo como prêmio para ela. Ele correu até a onde as ondas não alcançavam, a sereia não se moveu. Ela o encarava de longe e nem se quisesse ele poderia decifrar aquele olhar enigmático. Respirou aliviado, estava a salvo, ela não sairia da água, pensou consigo. E foi o que aconteceu, a sereia mergulhou, a calda longa, parecendo a nadadeira de um peixe, espirrando água por todos os lados.
         Marcelo caiu de joelhos e afundou o rosto na areia. Estava exausto. Sentia como se tivesse jogado uma partida de futebol ininterrupta por uma semana. Cad músculo seu gritaria de dor se fosse possível. Ele se levantou, limpou o rosto na camiseta molhada e olhou mais uma vez para o mar. Viu um corpo boiando, sendo carregado pelas ondas até a margem. Mesmo dominado pelo medo ele o arrastou até mais em cima, para que ficasse longe do mar. Virou o corpo do garoto. Seu primeiro instinto foi virar de lado e vomitar o almoço e a janta do dia. Os olhos do menino foram arrancados de suas órbitas. A roupa estava rasgada e na barriga havia um enorme buraco, onde elas haviam se deliciado com suas entranhas. Havia cortes nos membros também e ele então viu que também tinha cortes muito parecidos com aqueles nas pernas e braços e supôs que era devido as garras das sereias. Ele se levantou. Olhou para o garoto mais uma vez. Se ficasse ali, os moradores da cidade iriam achar que ele havia feito aquilo. Então correu. Correu de volta para casa, entrou pela janela, vestiu roupas limpas e quando a mãe surgiu a porta de seu quarto, tentou esconde o máximo que pôde  o pânico que o dominava.
- Está tudo bem? - perguntou a mãe.
- Sim - respondeu sem tirar os olhos do Notebook.
       Ela se sentou ao seu lado para checar se o filho não estava navegando por sites inapropriados e se surpreendeu.
- Sereias, é?
- É, são... São... Fascinantes - disse, se sentindo um completo idiota.
- São amedrontadoras isso sim - disse a mãe séria - sabia que os mais velhos acreditavam que os pescadores que sumiam no mar, na verdade eram levados por sereias.
- E estão todos mortos... - disse sentindo um tremor por todo o corpo. E não era o frio.
- Talvez nem todos - A mãe sorriu, seu sorriso sempre o fazia se sentir bem.
- Como assim? - perguntou confuso. Havia uma maneira de escapar daquelas garras enormes? Tudo bem que ele mesmo tinha escapado, e ainda nem conseguia acreditar.
- Ah, nada. É apenas uma história. É melhor você ir dormir, parece cansado.
        Ela sorriu deu-lhe um beijo na testa e se levantou - e filho, é melhor não sencobrir tanto, vai acabar morrendo de calor.
         Marcelo assentiu e depois que a mãe se foi, trancou a porta do quarto e analisou melhor seus ferimentos. Ia ter trabalho para esconder tudo aquilo. Mas como, como ele poderia contar a mãe que tinha sido atacado por sereias? Com aquela conversa ela já havia demonstrado que não acreditava nessas coisas. Ele demorou muito a cair no sono. Enquanto dormia, sonhou que estava na praia, que estava sendo atacado  por criaturas lindas e ao mesmo tempo monstruosas e que o corpo a ser encontrado na praia, morto, fora o dele.

Creatures Of Ocean'sOnde histórias criam vida. Descubra agora