HORMÔNIOS EM FÚRIA. É essa a frase que me vem à cabeça quando passo pelos corredores da escola amontoados de adolescentes malucos, meio que impossibilitando que eu me mova aqui dentro para chegar até o meu armário. Eu diria que essa pequena frase pode descrever qualquer adolescente, até mesmo – ou definitivamente – eu.Outra coisa que eu não paro de pensar: é como voltar ao inferno, só que você já está nele. O ano letivo não é lá uma coisa legal para mim, o que torna a escola um pesadelo, o meu maior pesadelo. Eu até já tive o intenso desejo de incendiá-la, com todos esses alunos chatos e irresponsáveis dentro. Mas nunca – nunquinha – tive vontade de incendiar Los Angeles, uma cidade nos Estados Unidos na qual eu moro, porque é uma das poucas coisas de que eu curto na minha vida. Tem paisagens legais, lugares legais e pessoas famosas legais.
Os desejos nunca sumiram, mas faz cinco anos que diminuíram um tiquinho. Eu tenho o meu melhor amigo, Dylan Lancaster, que me ajuda a seguir em frente e oferece tantos outros tipos de ajuda que eu sou incapaz de retribuir tudo o que ele faz por mim. É uma das poucas pessoas que me entendem nesse terrível e vasto planeta. A gente tem muita coisa em comum, como odiar nossos pais – e a escola, claro.
— Câncer nos pulmões, lembra? — lanço um olhar cortante a ele, enquanto eu pego alguns materiais dentro do armário e coloco outros.
Recostado no armário ao lado, ele revira os olhos.
— Não me importo — diz, se endireitando para irmos comer alguma coisa no refeitório.
Nos conhecemos quando nossos pais estavam apanhando um do outro no corredor da minha sala, no Colégio Católico de Los Angeles, quando eu estava no sexto ano e o Dylan estava no sétimo. Eu o puxei para um canto qualquer, para fugir daquilo, porque sabia que ambos achávamos aquilo chato, entediante e inapropriado. Parece que foi um reencontro daqueles dois, um belíssimo reencontro.
Não coincidentemente – porque éramos e somos grandes amigos –, saímos daquela escola e viemos para a Crenshaw, para fazer o ensino médio juntos, como dois bravos guerreiros lutando contra as calúnias escolares.
O Sr. Hall continua odiando o Sr. Lancaster porque ele é um bêbado, praticamente. E por causa dessa rixa entre os dois, meu pai não apoia nossa amizade e avisou "ele não entra dentro dessa casa enquanto eu estiver vivo". Achamos uma solução para aquela calúnia – calma, não era matar o meu pai –: meu melhor amigo começou a entrar pela janela do meu quarto, porém tenho que subornar Sophie, minha irmã de onze anos, para que não conte nada a ninguém.
No início, o Dylan tinha uma quedinha por mim, e me levava toda semana, na escola, um buquê brega, e, claro, minha mãe entrou em êxtase e começou a me fazer milhares de perguntas – como se não fosse normal uma paixãozinha boba de criança. Não gostava nem um pouco disso, e, por isso, escondida, dava as flores de presente para a minha diarista, que se chama Dolores e que fala espanhol. Durou menos de um mês, porque percebemos que seria mais vantajoso se formássemos uma dupla de amigos.
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Acontece | Livro 1
Teen Fiction| Livro 1 da Duologia Verbos | Charlotte Hall e Dylan Lancaster são melhores amigos desde sempre: vão constantemente ao píer de Santa Monica, comem pizzas de calabresa na Saint's Pizza e odeiam a família e a escola. Os dois vivem uma vida rebelde, p...