A CHARLIE GOSTA do meu verde-prateado tanto quanto eu. Ele é do modelo GT500, de 1968 – custei para achar –, e tipo um filho para mim, mas coloco meu violão em primeiro lugar. Foi mal aí, verdinho.
Quando a gente chega na minha casa, que eu sei que está vazia, por causa do passeio do meu pai e da saída da minha mãe e de Shonda rumo à fruteira, ela se joga no sofá da sala.
— Onde seus pais estão? — ela pergunta, tirando os All Stars amarelos dela com os próprios pés.
Me jogo ao seu lado, colocando os meus pés no colo dela.
— A mãe está na fruteira e o pai... — respiro fundo. — Provavelmente, num barzinho qualquer.
Arrisco um olhar para ela para ver o que acha disso.
Ela mantém os olhos fixos em mim, e eu gosto de olhar para ela. Seus olhos são a coisa mais linda do mundo, de cor castanha. Eu digo que eles são especiais, mas ela nunca dá muita bola. Parece que ela não sabe o valor que cada parte sua tem, mas ela tem, até demais. Fica se gabando por aí!
— Pode dormir lá em casa, se quiser — diz, as mãos delicadas apoiadas nos meus pés de ogro.
— Não, tudo bem. Tenho que cuidar da casa e da minha mãe — me levanto, com a intenção de trocar de posição, pondo a minha cabeça no colo dela em vez dos meus pés, mas aí a campainha toca e começo a escutar uma voz conhecida:
— Dylan, meu filho? Está em casa? Trouxe as suas tortinhas de morango! — É a Louise, minha vizinha de aproximadamente setenta anos.
Acho que alguém vai gostar.
Quase me esqueci dela.
A Charlie começa a rir, e, mexendo os lábios sem emitir qualquer som, me pergunta se é quem é. Faço que sim com a cabeça.
Saio do sofá e caminho até a porta para destrancá-la e abri-la.
— Dylan! — me abraça com vontade, como se eu fosse um dos milhares de netos dela. — Quanto tempo!
Tento não rir.
— Você me visitou anteontem, Sra. Louise.
— Mas, para mim, parece uma eternidade! — É a vez dela de querer rir.
Seu olhar vai até a sala, onde a Charlie nos observa, segurando o riso. Se arregalam assim que a vê, e então adentra a casa e corre até o sofá para lhe dar um abraço apertado, de vó. Nem eu nem a Charlie temos avôs, porque eles já faleceram, então ela é tipo uma parte essencial nas nossas vidas.
— Charlotte! Não te vejo já faz um tempinho — mima ela, apertando suas bochechas em seguida. — Está tão linda!
A Charlie não parece muito contente com esse mimo todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Acontece | Livro 1
Teen Fiction| Livro 1 da Duologia Verbos | Charlotte Hall e Dylan Lancaster são melhores amigos desde sempre: vão constantemente ao píer de Santa Monica, comem pizzas de calabresa na Saint's Pizza e odeiam a família e a escola. Os dois vivem uma vida rebelde, p...