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EU ESTOU TRABALHANDO no Le Café nesse sábado, mesmo lugar onde eu tomo café da manhã com a minha mãe, vulgo Letitia Hall, nos intervalos que eu tenho

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EU ESTOU TRABALHANDO no Le Café nesse sábado, mesmo lugar onde eu tomo café da manhã com a minha mãe, vulgo Letitia Hall, nos intervalos que eu tenho... e quando ela pode vir. Tenho quinze minutos com ela e eu não pago, mas também não é descontado do meu salário – eu briguei com certas pessoas, porque o dinheiro que eu recebo aqui eu gasto só com coisas realmente úteis, como pôsteres da série Jessica Jones, a minha preferida, além de receber uma mixaria.

O lugar é rústico e recebe muitos visitantes – muitos deles são turistas, e por isso eu atendo somente os que falam inglês, não me dou ao trabalho de aprender outras línguas quando a nossa é a mais falada do mundo –, devido seus bons cafés, que arrisco dizer que são até melhores que os da Starbucks. Os donos da cafeteria são um casal de velhinhos franceses, que até chegam a ser fofinhos, mas que nunca aparecem por aqui. Quem cuida do lugar são seus netos tão emburrados que chegam a dar medo nos funcionários. A maioria dos franceses deve ser assim.

O Dylan aparece de vez em quando também, quando chega das aulas extras que faz às quartas-feiras. Ele se mostra um pouco chato, mas é até mesmo suportável e justificável, porque ninguém quer fazer aulas extras. A mãe dele que mandou ele fazer, para "ficar ainda mais inteligente".

E, nesse dia, é minha mãe quem vai aparecer. Ela está quatorze minutos atrasada, como sempre. Tentei olhar para os carros passando na rua em frente à cafeteria para me distrair um pouco, mas logo retomei o trabalho para não perder os minutos que tinha. Sabe, eu não odeio ela. Odeio o fato de que quase não tem tempo para mim e para meus irmãos e o jeito com que cede de seus compromissos de enfermeira para dar atenção aos pedidos de advogado do meu pai.

Avisto-a entrando pela porta dupla do ambiente, então me dirijo a ela, a acompanhando até o nosso lugarzinho, já reservado. Quase cancelei a reserva e mandei Mattew, um dos únicos colegas de trabalho com quem converso – na verdade, o único –, deixar para outras pessoas que quisessem realmente estar ali. Mas no fim sempre tenho uma pontinha de esperança.

— O dia está lindo! — diz ela, radiante, enquanto se senta na mesinha redonda e coloca sua bolsa sobre o colo, com os olhos fixos em mim.

A gente gosta de sentar no lado externo do café, e meio que temos um lugar marcado, porque apenas nós sentamos aqui no cantinho, perto dos degraus que dão para a calçada. Raramente eu vejo alguém nesse lugar. Deve ser porque é o único lugar que tem sombra, e o pessoal gosta de pegar um pouco de sol durante o dia, que é o que não falta em Los Angeles. Às vezes fico pensando como gostam de pegar sol se é só isso que tem na nossa cidade.

— É — falo, já sentada, meu olhar perdido nos pássaros que voam no céu da nossa incrível cidade. Tem uma mini praça do outro lado da rua.

Mattew aparece com nossos lattes, que eu mesma preparei, trazidos em uma bandeja prateada. Foi burrice minha tê-los esquecido em cima da bancada.

— Os pedidos de sempre — coloca-a em cima da nossa mesa, e em seguida retira as duas xícaras de café quente, pegando a bandeja novamente e a pressionando contra si. — Tenham um bom dia, senhoritas.

Acontece | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora