Votre corps, mon écran

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"Te espero no meu quarto, pequeno Jack". Aquela frase ecoou na mente de Louis o resto do dia. A voz grave de Harry, a forma com que seu sussurro parecia uma melodia viciante para qualquer um que pudesse ouvir, tudo conspirou a favor de que o prodígio pintor das ruas de Paris estivesse fascinado na voz de um britânico qualquer que ele sequer conhecia. Como isso é possível? Como alguém tem esse poder sobre outra pessoa tão de repente assim? Perguntas eram formadas a todo vapor na cabeça de Louis, que não conseguiu pintar mais nada depois que Harry se foi, embora ele estivesse extremamente inspirado. O sussurro grave do garoto, suas covinhas e todo o resto simplesmente não saíam da cabeça de Louis, a inspiração para novas telas berrava dentro dele, mas não eram telas qualquer, eram telas do seu mais novo cliente, e Louis imaginou tanta coisa, tantas formas lindas de pintar Harry, e só o que ele queria agora era agradar o moreno, ou até mesmo explorar muito além do que a arte pede. Não é novidade para Louis que Harry tenha despertado algo dentro dele, algo além da inspiração e amor pela pintura, é uma coisa estranha, coisa esta que ele não havia sentido até hoje por ninguém que tenha lhe pedido uma caricatura. Seria só a surpresa pela ação de Harry fazendo Louis imaginar coisas? Ou será que ele realmente quer ir muito além do que as tintas podem o levar? Nem mesmo ele sabe a resposta, mas talvez esteja disposto a descobrir. Um cliente a mais, um a menos, o que Louis tem a perder na sua miserável vida artística? Nada.
Naquela tarde, Louis voltou para o seu apartamento. Era tão simples, sequer tinha móveis para se aconchegar. Uma televisão pequena num dos cantos dos poucos cômodos do seu apartamento, uma luz velha que piscava na sala, ameaçando de queimar a qualquer momento, uma cama no quarto e uma persiana velha para cobrir a janela que dava visão para uma rua qualquer, de um bairro qualquer de Paris. Ele sempre soube que não seria fácil, mas também nunca imaginou que seria tão difícil. De qualquer forma, por mais simples que seja seu apartamento, ele é completamente colorido, e as paredes que outrora foram brancas, hoje servem de tela para o pequeno pintor parisiense, que cobre cada canto branco das paredes, e não importa se o apartamento é pequeno ou de uma simplicidade quase que miserável, o que realmente importa para Louis é que ali é feliz, independente dos altos e baixos, aquele é seu cantinho, e ele adora aquilo. Com as tintas guardadas na bolsa e as telas enfiadas em baixo dos braços junto ao seu cavalete, que foram guardados com muito cuidado assim que Louis chegou em seu apartamento. O dia foi tão parado, mas ainda assim ele estava completamente cansado, algo exigiu demais dele, talvez a adrenalina em ter lábios tão convidativos sussurrando ao seu ouvido, ou até mesmo sentir os dedos longos e repletos de anéis do seu cliente chegando o mais perto possível do seu corpo só para lhe entregar um papel, não se sabe ao certo, mas Louis estava exausto fisicamente, e por isso ele simplesmente passou a tarde jogado no sofá velho que tinha na sala do apartamento. O papel que Harry lhe entregara, agora surrado, estava nas mãos de Louis, que acabou o amassando de tanto que alisava e apertava entre seus dedos. Ele estava tão tentado a ligar para Harry, queria combinar um dia ou horário para que ele pudesse pintar seu mais novo modelo, e depois de horas em silêncio, apenas encarando o número do garoto escrito no papel, Louis apanhou seu celular, que não era dos mais modernos, mas ainda assim dava para o gasto, e num ato quase que impensado ele discou o número de Harry, ouvindo uma voz grave do outro lado da linha, a mesma voz que o encantou há poucas horas atrás.*

-Alô? -Disse o sotaque britânico inconfundível, fazendo o coração de Louis bater mais forte naquele momento.

-Oi, é o Harry? Aqui é o Louis, aquele pin... -O garoto foi cortado pela voz animada de Harry do outro lado. Com o nervosismo o corroendo por dentro, Louis não parava de amassar o papel em sua mão.

-O meu pintor predileto, claro! Por que demorou tanto para me ligar? Já estava pensando que ia me dar um bolo... -Harry disse num tom quase decepcionado, numa clara brincadeira, mas que deixou Louis sem resposta por um tempo. -Alô? -Ele insistiu, depois de um tempo de silêncio da parte de Louis.

Draw me like one of your french girlsOnde histórias criam vida. Descubra agora