<> Hospedeiros <>
10 de fevereiro, 6h45min
A notícia do acidente do dia passado se espalhou tanto em Rosen quanto na capital.
"... No total houveram três mortes confirmadas, dentre elas, Clint Jones. Outra vítima foi encaminhada em estado grave à capital..." após isso, o motorista do táxi desligou o rádio.
- São muitas tragédias ocorrendo simultaneamente. Não é, garoto?
- Do que o senhor está falando? Houve mais algum acidente ultimamente? - Perguntou Nathan, receoso.
- Não ficou sabendo? Um casal foi assassinado a pouco tempo. Ambos eram policiais. Alguns especulam que seja obra de algum grupo terrorista.
- E o que você acha?
- Acho muito estranho. Clint Jones foi assassinado a algumas semanas. Eu duvido que sua morte tenha sido forjada. O caso foi abafado e talvez tenham deixado para noticiá-lo agora... eu sempre acabo ouvindo uma conversa ou outra dos meus passageiros. Em uma delas, ouvi claramente que ele era culpado de tal assassinato.
- O senhor me parece um homem muito inteligente.
- Garoto, não confunda inteligência com sabedoria. Eu sou apenas alguém que já viveu bastante e tem uma boa adição.
- Me chamo Nathan - disse ele, olhando para a face do idoso. Ele aparentava ter, no mínimo, sessenta anos.
- Não tenho um nome, mas pode me chamar de John. Todos me chamam assim.
Após olhar ao redor e notar onde estavam, Nathan pediu para que o John parasse. Após descer e agradecer cordialmente, ele recebeu um cartão com o número de contato do senhor e se retirou. Para a sorte de Nathan, John disse que ele não precisaria pagar. Pelo menos não desta vez.
<> × <>
10 de fevereiro, 23h
Nathan andava pela casa, que agora estava muito mais vazia e monótona. Ainda naquela tarde ele recebeu uma notícia de sua mãe do hospital. Como ainda não possuíam dinheiro suficiente para o tratamento, enganou o máximo que pôde e se esquivou de eventuais perguntas durante a ligação.
Era sábado. Provavelmente Daeniels estaria em alguma festa, então ele decidiu não ligar, por mais que precisasse conversar com o amigo.
Naquele momento, ele estava escorado no parapeito da janela de seu quarto, no segundo andar, quando decidiu comer algo antes de deitar-se. Acendeu o fogão, fez um macarrão instantâneo e rapidamente devorou-o com grande voracidade.
Ao terminar sua refeição, ele levou a louça para a pia e quase pressionou o interruptor para fechar a luz, mas ficou estático no momento em que, novamente, sentiu um tipo de formigamento na mente. Em poucos segundos, alguém bateu na porta de sua casa.
Ele esperou que, quem quer quem fosse, decidisse entrar.
Não poderia ser um ladrão, a menos que fosse tolo de bater na porta. Não poderia ser um cobrador, pois o mês mal havia começado. Então, antes que pudesse adivinhar quem era - o que, de fato, seria impossível -, sua visita inesperada abriu lentamente a porta.
"Garoto, saia daí!"
- Pai? - Disse ele, quando a luz clareou o rosto dele.
<> × <>
- Filho? Que bom que te achei! Pensei que nunca fosse lhe encontrar.
- Pai? Como...
"Saia daí agora!"
- Calma, filho, depois te explico. Vem cá, estou morrendo de saudades. Estou tão feliz por você ter sobrevivido.
Mesmo com sua mente confusa com os pensamentos paralelos aos seus, Nathan, passo após passo, se aproximava de seu pai.
"Tolo! Pare com isso, não sabe o que está fazendo."
- ELE É MEU PAI! ISSO JÁ BASTA! - Gritou Nathan para si mesmo, tentando afastar aqueles pensamentos.
Quanto mais próximos, mais sua cabeça latejava e seu corpo tornava-se resistente aos seus movimentos. Lágrimas caíram de seus olhos e correram-lhe o rosto. Nem tanto pela comoção, mais por algum ódio involuntário que sentia de si. Em particular, pelos pensamentos, que insistiam cada vez mais.
"Pense bem. Você ouviu a notícia daquela mulher e no rádio daquele carro, ele está morto! Está brincando com algo que está fora do seu controle, garoto, e se eu fosse você, o que, de certo é irônico de certo modo, pois sou, escutaria o que tenho a dizer"
Nathan não entendia o porquê, mas quanto mais se afastava de tais palavras em sua mente, mais elas ficavam claras. E o pior de tudo, cada vez mais faziam sentido.
Mas ele lembrou-se de que não havia visto o momento do acidente. Só acordou no hospital. As notícias do rádio poderiam ter sido precipitadas. Ele decidiu continuar em frente e acreditar em si mesmo. Estava tentando enganar-se.
Quanto mais ambos se aproximavam, mais calor Nathan sentia, porém, não era algo que pudesse sentir fisicamente. Quando abraçou o pai, sentiu-se aliviado novamente. E o calor queimou-lhe por dentro.
- Vejam só que belíssimo espécime temos aqui! - disse seu pai, quando aplicou-lhe um soco em seu estômago que o deixou sem fôlego, fazendo-o cair de joelhos, e depois, despencar lateralmente no chão, se contorcendo de dor. - Que belíssimo hospedeiro você arranjou, não é mesmo? Vocês juntos são uma verdadeira aberração! - Disse ele, gargalhando e dando-lhe um chute que arremessou Nathan contra a parede.
- Desgraçado, como me encontrou? - As palavras saíram da boca de Nathan, mas não havia sido ele quem as pronunciou. Em seguida, mesmo resistindo, mais palavras tentavam sair. - Se quiser me matar, venha, mas não será fácil.
- Você mal conseguiu dominar esse corpo por completo e ainda me diz uma coisa dessas? Está brincando comigo, não é? - Disse seu pai, ou, pelo menos, o corpo dele.
Nathan perdeu por completo o controle sobre seu corpo e agora sentisse flutuando em um vácuo dentro de sua mente. O homem, que um dia chamava da pai, pegou uma cadeira e a ergueu sobre seu corpo. Ele pensou em tantas coisas e ao mesmo tempo não conseguia focar em nada. Não queria acreditar nos seus olhos e na sua incapacidade perante a morte.
Em milésimos de segundo a perna de Nathan se mexeu e acertou o joelho do homem, torcendo-o. Após ele perder o equilíbrio e cair por cima de Nathan, sua mão se mexeu rapidamente, puxou a tesoura que ainda estava no bolso de seu casaco e começou a perfurar vorazmente o corpo do seu pai.
Em poucos segundos ele perdeu a consciência, mas antes disso ele ouviu uma voz...
"Nathan, precisamos conversar."
Aqueles pensamentos realmente não eram dele, afinal, ele era apenas um hospedeiro.
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Inanis, Dentro De Nós
Mystery / ThrillerO que você faria se encontrassem alguém que já morreu, vivo novamente? Após um acidente de trânsito, somente ele sobreviveu, toda sua vida mudou diante disso e em meio meio à todos os problemas de sua adolescência surgindo diante seus olhos, outro a...