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Tornou-se uma atividade comum na vida do jovem filho de Poseidon. Apesar da sua terrível e irracional fobia de grandes quantidades de água, Lee Felix dirigia-se, toda sexta-feira à noite, para o píer da cidade, onde Seo Changbin estava a sua espera.

O australiano sentava-se na velha madeira e sentia-a ranger sob si, mas Seo assegurava que estava tudo bem e que o pier não iria simplesmente desabar.

— Além do mais, — dizia antes de entrar na água. — se você caísse, eu iria te salvar. Sou um ótimo nadador, tão rápido que você nem teria tempo de ter um ataque de pânico. — e, com essas palavras soltas no ar, Changbin retirava sua camiseta, geralmente de alguma cor escura, jogava-a para Felix e então pulava no mar gelado.

Seo fora "obrigado" a acreditar em mágica, considerando o fato de que seu pai biológico — e pai biológico de muitas outras pessoas — era uma divindade. No entanto, ao ficar submerso, a respiração presa e os olhos cerrados, sentindo apenas o movimento de vai e vem do oceano, Changbin não podia deixar que achar aquilo mágico, mas de um jeito diferente. A calmaria que aquele ecossistema lhe trazia era gigante. Podia, enfim, organizar seus pensamentos, geralmente confusos e caóticos, e dar algum sentido à eles.

Quando voltou a superfície, ofegando, pode perceber um pequeno sorriso no rosto de Lee quando o mesmo lhe anunciou que havia batido seu recorde. Comemorou ainda dentro d'água, arrancando mais sorrisos do rapaz mais novo. Ver Lee Felix sorrir era, decididamente, tão satisfatório quanto bater o próprio recorde.

Subiu novamente na estrutura de madeira, balançou os fios escuros para os lados e esperou que o vento secasse, pelo menos um pouco, seu torso molhado. Ele e o filho de Poseidon mantiveram-se no mais completo silêncio; apenas as ondas quebrando na praia e a respiração ofegante de Seo quebravam aquele clima.

— Por quê? — indagou, de repente, o australiano.

— O quê, exatamente?

— Os desafios. O ato de segurar a respiração. A sua paixão pela água. Tudo. — deu de ombros, constrangido. — Já te falei tanto sobre a minha vida, agora eu quero saber da sua.

Sem rodeios, pôs-se a explicar o que conseguia. Sempre soube da praia da cidade, é óbvio, e, quando pequeno, costumava ir na mesma junto da sua família. Changbin era capaz de recordar de dias em que passavam horas revezando entre mergulhar no mar gelado e descansar sob o sol quente.

Com um certo pesar, aquelas memórias de dias tão bons haviam sumido, admitia. Com o nascimento dos gêmeos, a vida do jovem tomou um rumo completamente diferente e extremamente doloroso. Quando sua mãe o deixou no orfanato, Seo era pequeno demais para entender o que se passava. Ele sequer tinha lembranças da mulher, muito menos sabia seu nome ou coisa parecida. Assumia que seu sobrenome fosse Seo, já que, num pedaço de papel colocado entre as roupas do garoto, estava escrito seu nome e sobrenome. Pelo menos ela tinha se dado o trabalho de dar um nome ao filho.

Via-se constantemente pensando se aquela mulher sabia que estava grávida da divindade Hades, ou se foi apenas um caso de uma noite e ela sequer sabia quem era o seu parceiro. Fosse o que fosse, o filho que estava em seu ventre não era bem-vindo, e, portanto, acabou num orfanato.

Passou os próximos cinco anos lá. Quando fazia algum amiguinho, ele logo era adotado. Sua amizade mais duradoura foi com Han Jisung; na realidade, ambos ainda mantinham contato e constantemente andavam por aí juntos.

Mas eis que, aos olhos de uma criança de cinco anos que não se sente amada e que não sabe nem os nomes e nem os rostos de seus pais, a sorte decidiu beneficiar o menino. Ele, finalmente, fora adotado, e agora podia contar com pais de verdade, que cuidariam dele como todo o carinho possível e compensariam aqueles tristes anos de sua infância perdida.

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