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Quando Changbin recobrou a consciência, estava deitado na areia e só conseguia escutar alguns murmúrios desconexos e um choro descontrolado. Apertou os olhos com força algumas vezes antes de abri-los, e se deparou com o salva-vidas — o mesmo que havia lhe dito que nadar de noite era perigoso — e, para sua enorme surpresa, Lee Felix.

Forçou o corpo para cima, sentando-se. O australiano arregalou os olhos e sorriu, ainda com lágrimas escorrendo pelo rosto bonito. Abraçou Seo com força, murmurando algumas palavras em inglês que o filho de Hades não conseguiu entender. Quando se afastaram, a face do Lee expressava apenas alívio. Changbin quase sorriu com aquilo. Era bom pensar que ao menos uma pessoa se importava consigo.

O salva-vidas fez algumas perguntas, parte do seu protocolo, para Seo, mas ele não conseguiu responder. Afinal de contas, sabia nadar e o fazia perfeitamente bem. Então, como foi possível que se afogasse?

Em seguida, o homem agradeceu Lee por sua ajuda, confundindo Changbin. Até onde sabia, o outro garoto tinha hidrofobia; além do mais, não estava na praia quando chegara. O australiano ajudou o amigo a ficar em pé e lhe entregou sua camiseta, meias e sapatos; agradeceu em um murmúrio baixo. Felix seguiu ao seu lado até que saíssem da praia. Ao atravessarem a rua deserta, puxou-o novamente para um abraço apertado. Os braços do filho de Poseidon se enroscaram ao redor das costas de Seo, que, um pouco surpreso, demorou para corresponder o gesto.

— Você quer conversar? — indagou Lee após alguns minutos de uma caminhada sem rumo.

— Não é algo que eu quero fazer — admitiu. —, mas sinto que te devo algumas explicações, certo?

— Dever é uma palavra pesada. Só quero que fale quando se sentir confortável. — Felix olhou para cima; o céu noturno estava repleto de nuvens que tampavam a luz da Lua. — Não posso te obrigar à nada.

Changbin respirou fundo. Sentia, sim, que precisava se explicar, e queria saber como havia sido achado. Entretanto, não se sentia pronto para aquilo. Seria como se estivesse confirmando a desgraça que sua vida tinha se tornado e concretizando sua ruína. Até aquele momento, Seo havia vivenciado alguns momentos ruins e problemáticos, mas, com muito esforço, aprendeu a conviver com a negligência e com as reclamações dos pais adotivos. Mas, no fundo de seu ser, sabia que agora as coisas tinham um novo tom. Não poderia voltar para casa depois de tudo o que aconteceu. Mesmo que voltasse, seria colocado para fora.

Era bastante provável que o casal Park só estava buscando uma boa desculpa para tirar Changbin de casa. E ele tinha dado a oportunidade perfeita.

Sua cabeça se encontrava num completo caos de pensamentos. Tanto que, quando pulou no mar, não tinha em claro o que queria fazer. Ele havia apenas se rendido à uma vontade maior que o regia e entrado nas águas geladas e ao mesmo tempo acolhedoras. Se nem mesmo Seo sabia o que estava fazendo, como explicaria suas ações para Felix?

Lee, no entanto, não o pressionou. Ficou apenas calado, andando ao lado do amigo coreano, esperando que ele se resolvesse com seus demônios interiores. Confiava em Changbin. A convivência de ambos nas últimas semanas havia provado que poderia, na companhia do filho de Hades, simplesmente fechar os olhos e andar sem ver, porque Seo o guiaria naquela cidade cheia com tamanho cuidado que seria impossível se machucar. E entendia, também, que precisava respeitar seu espaço pessoal. O mais baixo era alguém de natureza quieta e solitária, o que contrastava imensamente com o jeito espalhafatoso e divertido de Felix, e era comum que, de vez em quando, Changbin se isolasse na profundeza da sua mente em busca de algo que só ele sabia.

Só queria que o garoto tirasse aquele peso enorme das costas, mesmo que não soubesse exatamente qual era o peso.

— Depois que você foi embora, eu decidi ir até a casa de um amigo meu, Han Jisung. — declarou, após longos minutos de silêncio. Assim, apoiado na aura acolhedora de Lee, Seo contou exatamente o que havia acontecido nas últimas horas.

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