Eu costumo acordar sempre uns minutos antes do despertador tocar, esse é o meu momento de reflexão, penso como vai ser meu dia e decido que a cama é mais importante, hoje vai ser o primeiro dia de aula do ensino médio estou muito animada... Como sempre vai continuar o bullying que os Regulares sofrem pela Elite, por não possuir poderes, e eu claro, sou um dos maiores alvos... Pior que nem tenho como fugir porque estamos em uma maldita ilha que só tem duas escolas, uma para o fundamental e outra para o médio...
Respiro fundo, levanto e vou direto para o banheiro pra ver o ninho que eu chamo de cabelo e como sempre está fedendo a óleo, quando nos mudamos pra casa em cima da loja de pastel há seis meses eu gostei por que a casa era maior do que o apartamento de dois quartos que tínhamos antes e eu teria meu próprio quarto separado das minhas irmãs gêmeas, mas não pensei o quanto a oleosidade se infiltraria pelas paredes velhas da casa, e como resultado? Tudo fedendo a óleo e sempre tenho que lavar os cabelos a cada manhã!
Tomo meu banho e lavo bem meu cabelo para tirar o cheiro (não com muitas esperanças) e vou me vestir.
- Ana, já acordou? Vem logo, o café já tá na mesa - grita minha madrasta antes de ir chamar as gêmeas que ainda estão dormindo.
Eu corro pra escovar meu cabelo e agradeço por conseguir fazer um corte decente (eu mesma) nele, meu cabelo é aquele cabelo ondulado que por qualquer ventinho fica frisado e em ruivo laranja que me faz chamar a atenção mesmo quando eu não quero. Ainda mais por ter puxado os olhos da minha mãe, uma cor que podemos chamar de lavanda ou lilás pra ser mais exata, não me leve a mal são bonitos, mas por aqui normalmente só a elite tem olhos de cores exóticas, agora regulares costumam ter olhos dos mas diversos tons de castanho e alguns poucos azuis e verdes, sei que isso é diferente no continente mas aqui em Pherses - uma ilha de 28.000 km² que é praticamente dividida em cinco províncias distintas, Rutilo, Turmalina, Abalone, Euclásio e Jaspe, onde eu moro - todos se conhecem e não entra gente nova na ilha nunca, então não adianta ficar divagando as coisas são assim mesmo.
- Bom dia Ana - diz minha irmã Andréia bocejando.
- Bom dia gente - chega alegremente Sandra sua gêmea - Animadas para o primeiro dia de aula?
- Não sei como, vamos estar cheirando a óleo - retruca Andréia provocando com sua voz sonolenta ainda.
- Ah fala sério o cheiro nem é tanto assim, fica um pouco no cabelo mas isso não é nada comparado a ter seu próprio quarto - fala Sandra - Você deve estar super animada né Ana, vai começar o ensino médio!
- Não, nem um pouco... - digo vendo Sandra fazer cara de decepção ao meu comentário - Como posso dizer, no ensino médio eles fazem divisão sabe, onde as criancinhas da elite deixam de ser Crisálidas e viram especiais, ganhando seus poderes só para ficar mais metidos e pisar na gente... E você sabe que eles amam me incomodar por ter essa cor de olho né?
- Sei... Mas eles não são tão ruins assim!
- Eles são - falamos eu e Andreia em coro.
- Mas.... Poxa... - ela tenta se recuperar - Cara nem vai ser tão ruim... É só ficar quieta que eles nem te notam - eu só a encaro - Ah Ana não sei porque seus olhos te incomodam tanto também... Sabe que eles são super bonitos e legais!! Pensa assim você pode ter algum ancestral da elite e puxou dele esses olhos.
- Na verdade ela puxou os olhos da mãe dela, eram da mesma cor - fala meu pai chegando na cozinha.
- Sério pai? Será que ela não era uma garota da elite disfarçada - fala Sandra animada
- Não - ele ri - Eu até achei que ela era da elite quando a conheci, mas ela odiava ser confundida com eles, ficava falando “Sou uma regular, porque é tão difícil entender?” Com um tom, que realmente dava medo - diz meu pai.
Eu gosto quando ele fala da minha mãe, porque ela morreu quando eu nasci, então não tive chance de conhecê-la, não sei como se parecia, nem tenho nenhuma foto, o pouco que sei sobre ela é o que meu pai ocasionalmente fala, o que ele tenta evitar, pois a Sara minha madrasta fica com ciúmes, quando eles se casaram nem tinha feito um ano da morte da minha mãe, às vezes eu acho que meu pai tentou superar a morte da minha mãe se envolvendo com a Sara, o que eu não posso reclamar pois ela me trata como se fosse sua própria filha.
- Meninas, porque ainda estão aqui? Se não forem agora vão chegar atrasadas! Querido você também!! - diz Sara apressando todo mundo - Não se esqueçam de estar em casa às cinco horas para vermos o eclipse anual em família!
O eclipse lunar marca o dia do cristal, o dia que os crisálidas recebem seus poderes e a ilha cintila ao brilho de vários cristais presentes no solo, é um fenômeno lindo, esse eclipse é a única coisa que considero maravilhosa aqui.
Deixo as gêmeas e o meu pai irem na frente já que vamos para lugares diferentes e vou para o meu quarto arrumar rapidamente minha mochila, sempre esqueço de arrumar antes e tenho que correr que nem uma louca de manhã para arrumar tudo… Pego meu material e de última hora pego minha bolsa de maquiagem, não vai dar tempo de dar uma melhorada na sardas em casa, mas posso fazer isso no coletivo.
- Ana! Que bom, você ainda não foi - diz Andréia voltando pra casa.
- O que foi?
- Eu voltei pra me despedir de você direito - diz ela me dando um abraço apertado.
- Porque? Vou voltar na hora do almoço, não vou sair nem nada - falo confusa.
- Eu não sei.... Senti que precisava fazer isso… - ela murmura - Desde ontem estou com um sentimento estranho… Parece que não vou te ver mais... por um longo tempo…. Tudo vai mudar Ana, Eu não sei se vai ser para melhor ou pior... Só sei que vai mudar.
- Que conversa é essa Andréia? você está me assustando.
- Eu não sei, é só um sentimento pode ser que não aconteça nada… Mas por favor por mim se cuida - ela fala olhando para os meus olhos e pondo uma mão no meu rosto, nesse momento minha irmãzinha nem parecia ter apenas 13 anos...- Tá bom….
Esse dia começou mesmo diferente.
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A Ilha
RomanceEm uma ilha fora do mapa, onde só se pode chegar quem realmente sabe onde ela está, existe uma sociedade extraordinária, onde uma classe possui poderes inimagináveis, a elite, enquanto os regulares, outra classe sofre por não tê-los. Todos da elite...