Sexta-feira, 17h, o Sol ainda iluminava a cidade de São Paulo e as pessoas que voltavam para casa após um dia de trabalho, ansiosas pelo final de semana. Rodrigo que saia da Biblioteca, próximo à Estação Carandiru, voltava para casa na Zona Leste da cidade.
Quando a mulher anunciou a "Estação Vila Matilde", ele fechou o livro que estava lendo, e desembarcou. A Lua Cheia começava a aparecer no céu quando ele abriu o portão de sua casa, entrou, seus pais ainda não haviam chegado.
Rodrigo foi para seu quarto, tomou banho, retirou uma mala que estava embaixo de sua cama quando o portão de sua casa abriu.
_Rodrigo meu filho, já chegou? - Rosa perguntou ao abrir a porta da casa.
_Já sim mãe. - Falou Rodrigo no quarto
Ele saiu do quarto, dirigiu-se até ela.
_Benção minha mãe, vou viajar este final de semana. - Disse o rapaz.
_Mas de novo meu filho? Esteve viajando muito esses finais de semana, não tem mais tempo para sua família. - Respondeu Rosa - Não tem mais ido na missa de Domingo, já faz um tempão também.
Rosa está na missa todos os finais de semana, é uma mulher muito fervorosa e como uma família clássica todos dever seguir as tradições, inclusive ir à missa aos finais de semana.
_Sim mãe, preciso viajar à negócios, prometo que irei assim que possível! - Rodrigo falou olhando nos olhos da mãe.
Um carro buzinou na frente da casa, o que tirou a atenção de Rodrigo, ele pegou sua mala e trancou a porta do quarto.
Rosa que há um tempo vem tentando entender o motivo das viagens de seu filho, fica pensando em várias maldades que seu filho possa estar fazendo na cidade.
_Oh, meu Senhor, livre meu filho do mal, livre ele meu pai das forças do Diabo, ele é um bom menino, se ele estiver roubando, matando, não é culpa dele, é da força que está sucumbindo-o. - Rosa sempre falava isso quando seu filho saia aos finais de semana.
Rodrigo nunca foi muito aberto na sua casa, evitava falar as coisas de sua vida para seus pais, principalmente porque Rosa sempre falava que o problema acontecia por ele não ter ido na Igreja.
Sábado, 10h. O telefone tocou, Rosa saiu da cozinha e correu para atender.
_Alô, Dona Rosa? - Disse a voz do homem do outro lado da linha.
_Oi, é ela mesma, quem está falando? - Disse a senhora.
_Sou Samuel, amigo do Rodrigo! - Disse o rapaz. - Da Igreja.
_Ah claro, Samuel meu filho, tudo bem? - Respondeu Rosa - Sua mãe como está?
_Ela está bem Dona Rosa, estamos todos bem. - Falou Samuel. - Estou ligando, porque ontem o Zé me ligou perguntando se eu sabia onde estava o Rodrigo e que vocês começaram a pensar que ele estava fazendo alguma coisa de errado.
_E você lá sabe onde ele está, menino? - Perguntou Rosa.
_É exatamente para isso que estou ligando... - Um silêncio na linha. - Posso lhe levar no local onde ele está, esta noite. Passo aí às 18h, pode ser?
_Meu filho está fazendo algo de errado? - Perguntou Rosa.
_Posso passar para lhe buscar? - Falou Samuel. - Se sim, preciso que me prometa, não importa o que ver, vai ficar quieta e não vai sair correndo e gritando o nome de seu filho.
_Ai meu bom senhor, que Deus o tenha, eu prometo sim rapaz, lhe espero então. - Disse Rosa desligando o telefone.
Rosa ficou o dia inteiro pensando o que seu filho poderia estar fazendo, e a cada 30 minutos, ajoelhava e fazia uma oração.
Às 18h, Samuel tocou a campainha. Rosa que estava ansiosa, aguardava-o sentada no sofá.
Passava das 20h quando ele estacionou o carro.
_Não importa o que a senhora encontrar lá, não irá interferir. - Falou Samuel abrindo as portas do carro. - É ali no final da rua.
Samuel e Rosa subiram a rua, estava toda enfileirada de carros dos dois lados, havia um som de pássaros nas árvores, pessoas conversando, pessoas cantando em uma língua que ela não reconhecia e ao fundo o som de tambores tocando.
_Para onde está me levando, menino? - Perguntou a senhora.
_Você verá, agora vamos. - Falou Samuel.
Conforme iam se aproximando os tambores soavam mais altos, quando chegaram no final da ladeira, os dois se encontravam nos portões de uma grande casa branca. Ao lado dos portões havia dois pilares com dois pombos brancos em cima. E o caminho de pedras brancas que levavam para as portas de um grande salão. De lá vinha o som dos tambores e das pessoas cantando.
Rosa caminhou rapidamente pelas pedras brancas, ela já havia entendido, o que ela nunca admitiu que acontecesse na família dela. Foi fazendo sinais da cruz até as portas do salão. E parou quando chegou, perplexa com o que estava vendo.
Os atabaques em um canto soando forte, os homens e as mulheres cantavam, todos formavam um grande círculo em volta de um homem, que aos olhos de Rosa, era Rodrigo. Grande e forte, carregava um pote com fogo na cabeça, um machado na mão direita, e dançava girando por todo o barracão.
_Kaô Kabecilê! - As pessoas da roda gritavam.
Ela estava encantada com o filho, ele foi girando e dançando até parar na frente dela. E foi o brado de Xangô, o que Rosa ouviu pela última vez.
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Dois Sentimentos
Historia CortaContos de uma pessoa bipolar... Um escritor que vai se expressar quando estiver preparado para...