A neve caía densa naquele inverno em uma pequena vila de Lotus. Anoitecia, todas as famílias estavam em suas casas aquecendo-se em uma lareira, e até os mendigos acolheram-se no abrigo da cidade. O pensamento de minha cama bem quente e macia veio a minha mente, mas com esse carrasco me torturando era impossível me concentrar:
— Preste atenção Kayzer! – Após dizer isso sinto ele bater mais forte com sua espada na minha, quase tirando-a de minha mão.
— Eu prestaria se eu não estivesse só de calça no meio de uma nevasca! – Eu disse durante um ataque de meia lua com a espada. – É pedir muito um avô normal?
— É! – Disse ele voltando com as sequencias ininterruptas de ataque com a espada, dos quais eu quase não conseguia me defender.Desde que meu pai morreu e minha mãe sumiu em uma jornada com minha irmã ainda se formando em seu ventre, eu vim morar no interior com meu avô. Já se passaram cinco anos desde então, cinco anos para me acostumar com as diárias práticas de esgrima e estudo teórico de magia, cinco anos para descobrir o porquê da vila de Lotus ser respeitada por conta de seus guerreiros. Aonde eu estudava meu fundamental inteiro as matérias que mais nos dava pontos eram lutas e códigos de honra.
Agora eu só poderia me concentrar no velho a minha frente que estava me dando uma surra e tentar mudar o jogo.
"Um, dois, um, dois, um, dois; esquerda, direita, esquerda, direita, direita, direita."
Esse padrão nos ataques de meu avô se repetia num intervalo de dez segundos. Eu só precisava de uma estratégia para revidar, uma estratégia que funcionasse contra ele.
"Um, dois, um, dois, um, dois; esquerda, direita, esquerda, direita, direita, direita."
Mais uma sequência, mais uma vez eu me permitiria respirar fundo antes de mais ataques aleatórios surgirem e eu ter que esperar novamente mais dez segundos.
Meu corpo já estava cansado, estávamos ali a mais de uma hora, com neve batendo e me socando ruindosamente. De dentro de mim meu sangue queimava em brasa, mas do meio externo estávamos muitos graus a baixo de zero. Era possível ver o vapor saindo de meu corpo e se dissipando no ar.
"Um, dois, um, dois, um, dois; esquerda, direita, esquerda, direita, direita, direita."
— Kyyaaahhh!! – Um grito foi arrancado do fundo de meus pulmões, e eu investi.
No último golpe da sequência desse velho eu paro a espada dele e começo minha própria sequência.
"Um, dois, três; um, dois, três; um, dois, três, quatro; direita, esquerda, em baixo; direita, esquerda, em cima; direita, esquerda, giro para o lado, e em cima. "
Ele então se defende de todos os meus ataques com a maior facilidade, como se eu não fosse um oponente bom o bastante para lutar contra ele. Essa ira começou a consumir meu peito de tal forma que era impossível controlar, eu darei a ele o troco.
Com um último movimento de espada, eu bato tão forte na dele que ela cai de sua mão voando para longe de nossa vista perante a nevasca. Antes mesmo de perceber, eu já tinha porto a ponta da minha espada em seu pescoço, o que era uma das lições que meu avô me ensinara: "Não dê ao inimigo tempo de reação, ele ainda pode virar a situação a favor dele".
— Bom, muito bom! – Ele toca em minha espada com os dois primeiros dedos da mão a afastando de seu pescoço. – Talvez, talvez você não se machuque muito na academia de magia Arcansia. Agora se vista, nós já estamos de partida.
Fazendo um simples movimento com a mão a espada volta de onde estava e ele se vira para guardar suas coisas, já eu, corro até minhas roupas enfiando-me dentro delas e agradecendo a Primordial da Sorte, Stella Leprechaun, pela sorte que eu tinha ali de ter agasalhos quentes o bastante pra eu voltar para casa ao menos vivo hoje.
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Trindade - Mundo entre Mundos
FantasyRecém-aprovados na Academia milenar Arcansia, os amigos Kayzer, Zyra e Sawako recebem uma importante missão: resgatar a filha de um dos Primordiais, entidades super-poderosas que governam o mundo de Verden . Precisam lutar contra o tempo, pois...