GRITO

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Em meus braços carrego o sobrepeso

do viver desconjunto, aliado ao medo.

As correntes estralam a cada passo,

o que sou eu? a quem devo?

a consequência inconsequente,

meus atos de morte, sangue ardente.

Caminho pelo meio, sempre fui o meio

Meio termo, meio tudo que faço,

Marco o compasso. O laço se partiu,

Já faz um tempo que minha cabeceira

Está sobrecarregada com os afazeres

Os quais disse que faria ontem.

Vida vampira,

Pálida como quadro em branco.

Exilado estou em prazeres doentes.

Vida larga como quadril de moça;

Vida triste como palhaço sem circo;

Instigante, como cigarro nos dedos.

Me veja agora, comprando, dando o troco.

Levanta-se que não precisa de viagem;

O nada chegou, instalou-se, fez raiz.

Nem mil sorrisos de amada desfaz o vazio,

Bate forte. Quando chega é encruzilhada.

Carrega dádivas para a face do nada.

Desperta-me desse sono real

Tira-me desse consolo sufocado.

Hoje atravessarei a rua sem olhar os lados.

Enfrentarei o inimigo que já me venceu

Só para não perder o hábito de perder,

Rir pela derrota e ao mesmo tempo chorar.

Minha rua cruza a cidade, eu, cruzo

Os braços. Cruzo os olhos em cada frame.

Filmo filmes tristes, cada ator, cada vida,

Sempre um sorriso de canto no rosto.

Amargo, cada ponto de vista é um gosto.

Minha frontal quebrou-se há tempos.

Minha digital está sobre o documento,

Carrego cada marca que corresponde a mim.

Cada detalhe que compõe essa trova triste,

Deixei um post-it em branco na geladeira,

Esperando que alguém me completasse.

Poesia é a vida, eu sou esboço incompleto.

Quem sou eu a face de milhões?

Quem são os milhões diante de mim?

Respiramos o mesmo ar, compartilhamos

Os mesmos nomes, existimos loucamente,

Mas sem atestado não somos ninguém.

Certamente, meu olhar atesta minha fraqueza.

Declamo eu, com certeza única, de que a terra

Comerá toda a minha impotência perante esse

Conflito existencial a qual me coloco,

E me torno inútil, grito! não tenho colo,

A terra engolirá meu grito. o tudo voltará

Para o nada, nada também é tudo.

Quando as Sombras BrilharemOnde histórias criam vida. Descubra agora