1º Capítulo

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'' Corram. ''

'' Saltem. ''

'' Mais rápido. ''

'' Mexam-se. ''

'' Vamos, mostram-me do que são capazes. ''

A voz do tenente Cameron Graham, encarregado de nos treinar, vibrava ferverosamente por todo o campo de treinos, enquanto cinco dos vinte caloiros completavam uma serie de obstáculos, de maneira a que seja uma maneira de nos preparar fisicamente. Isto é, para quando formos para território inimigo. Eu fazia parte dos cinco testados. Eramos os 5 últimos do grupo a enfrentar estes obstáculos.

Poeira nos meus olhos e na boca, cada vez que caía, mais difícil se tornava voltar-me a pôr-me de pé. Não conseguia saltar muito alto, devido aos metros já corridos por todo o perímetro do campo, assim caía sempre que aparecia-me uma barreira. Nada facilitava-me, o meu longo cabelo amarrado, começava a descair, fazendo com que pequenos fios colassem-se à minha testa suada. Conseguia sentir o divertimento estampado na cara de quem assistia. Eu não tinha força, não tinha resistência física ou mental, nem tinha agilidade. O quê que fazia aqui afinal, perguntavam-se eles. Pois, a resposta só eu sei e é comigo que ela vai continuar.

Eu era um caso perdido.

Tomei balanço e cheguei ao ultimo obstáculo, depositei toda a minha força nas minhas pernas e saltei para a rede, onde irei ter que escalar para poder dar de terminada a este pequeno treino. Assim que os meus dedos envolvem-se em torno dos fortes fios verdes escuros da rede, o meu corpo é projetado para trás devido ao meu peso, magoando assim as minhas costas. Não me posso queixar, penso para mim, ao escalar aquela rede cheia de fortes dores. Finalmente, chego ao topo e os meus pulmões doíam-me com a dificuldade em respirar. Os meus olhos percorreram rapidamente o ponto de chegada, vendo todos lá, onde uns olhavam-me e outros estavam simplesmente sentados no chão com a cabeça por entre as pernas.

- Sou outra vez a última. - Murmurei para mim e volto a descer pelo outro lado.

Esta descida estava a ser dolorosa e já sentia os meus braços a tremerem, assinalando falta de força. Fechei os olhos e respirei fundo, olhando para o céu descoberto e solorento, para piorar as coisas. O meu descanso teve fim, quando ouvi o som estridente do apito do tenente. Isto era mau sinal.

Basicamente, desde o dia número, todos os nossos treinadores deixaram-nos a acontecer que quando o som do apito era ouvido, significava que tínhamos feito algo muito mau e, como tudo na vida, iriam-nos ser impostos castigos. Isto é, se o som soar cinco vezes.

Com todo o pânico a apoderar-se de mim, atiro-me para o chão e aterrei de pés na possa de lama mesmo em baixo da rede, fazendo com que as minhas botas pretas, tornassem-se agora castanhas. As minhas mãos impulsionaram-me para a frente e comecei outro sprint até ao ponto de chegada, ignorando por completo o meu cambalear devido a uma caibra no meu pé esquerdo. Só para verem o meu medo do castigo. O quarto apito tinha acabado de ser dado quando cheguei ao pé de todos e coloquei-me logo em posição. Corpo direito e rígido, mãos perfeitamente pressionadas nas minhas laterais, cabeça erguida e rosto neutro, focando o meu olhar num ponto.

Pelas laterais dos meus olhos, conseguia ver todos a olharem-me curiosos com o que me aconteceria. O tenente guarda o apito e coloca as suas mãos atrás das costas, andando disciplinadamente até mim, de forma a demostrar quem mandava ali. Este para à mina frente, fintando-me nos olhos por uns meros segundos e depois volta a andar outra vez, mas desta vez à mina volta, como se de um tubarão a rondar a sua presa. Não vou mentir, ele intimidou-me um pouco e sei que ele faz isto a todos para este mesmo prepósito. Libertei um pouco de ar pela minha boca, entreabrindo-a o menos possível, de forma a suspirar o mais discretamente que conseguir.

Victoriam || l.tOnde histórias criam vida. Descubra agora