3º Capítulo

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Os minutos passavam e eu ficava cada vez mais impaciente para o fim da aula. As salas de aula deste colégio eram quase que sufocantes, uma vez que a turma era enorme e as aulas pareciam demorar mais que o normal. Desde a primeira vez que cá entrei, senti-me um pouco posta de parte ou, talvez, diferente, pelo simples facto de eu ser das poucas alunas com um uniforme militar e não com um uniforme colegial. A minha turma era constituída por 31 elementos e, ao contrário da outra escola, só havia raparigas. Todas elas estavam bem arranjadas, com as suas saias engomadas e direitas e as suas camisas e gravatas a condizer com as cores do colégio, enquanto eu - e todos os militares que frequentavam ainda o ensino secundário - usávamos um macacão quente, com padrão exército, cabelo amarrado num coque e sem qualquer tipo de maquilhagem para corrigir qualquer imperfeição que possamos ter. Sim, definitivamente não me sinto tão segura de mim mesmo, como dantes, mas também tenho que admitir que sou mais respeitada e tenho um outro estatuto, tudo isto por causa da farda que envergo todos os dias. A minha bota pesada cria uma harmonia constante no ferro de suporte da mesa, mostrando a minha grande ansiedade.

A minha atenção à aula era nula, o meu pensamento estava em outro lugar. Sempre, constantemente, 24 horas por sete dias sempre a pensar no que vi a tempos num bairro perto do centro de Windsor. A pergunta era a mesma: Quem era aquela mulher e aquela criança? Obviamente não podia permitir-me a gastar o meu tempo sempre a pensar na mesma coisa que, se calhar, no fim das contas, não será nada de especial. Provavelmente, é mais uma mãe em dificuldades com uma criança pequena para alimentar. Quem sabe.

Com o passar de alguns minutos, deu a hora de sairmos e os corredores começavam a abarrotar com alunas desesperadas para apanhar um pouco de luz solar antes da próxima aula delas, mas, para mim, seria a última por hoje. Juntei os meus únicos dois cadernos, coloquei a caneta num dos bolsos das calças e caminhei apressadamente até ao pátio da escola. Junto ao portão era visível a popularidade dos rapazes da escola ao lado com estas alunas. Eles tornavam-se instantaneamente mais atraentes por serem portugueses- maior parte deles - e por envergarem o fardamento militar, que lhes dava outra postura, pelo menos à frente delas. Eles esperavam por nós e no estacionamento à frente de cada escola estavam sete jipes, prontos a partirem para a base militar, onde uns iam receber mais treinamento e outros iam receber o seu part-time do mês. Eu integrava-me nos que iam receber o trabalho. Não planeava alistrar-me ao combate, apenas queria cumprir o serviço militar cá em Inglaterra e receber salário como soldado. Não achava necessário tanto treino.

Mostrei o meu cartão da escola e, assim, o segurança deixou-me sair, dirigindo-me de seguida para o meu jipe.

Ao longe observava Matias Antunes. Ele também aceitou este desafio, mas, tanto quanto sei, não planeia inscrever-se para o campo de batalha. Apesar de já nos conhecermos desde muito cedo, não significa que nos tornarmos melhores amigos desde que viemos para cá. Falamos quando nos convém ou quando não temos mais nada para fazer, o que é meio complicado, porque desde que pisamos o solo inglês, só temos tido trabalho e mais trabalho.

Ele, juntamente com um grupo grande de rapazes, estavam babados e entretidos com um outro grupo de raparigas, pelos vistos não estavam muito habituados a ter assim tanta atenção das raparigas como têm agora.

- Sabes conduzir aquele carrão? - Perguntou uma, falsamente impressionada, e dá uma pequena corridinha até ao capô do jipe, sendo seguida por Matias.

- Claro. - Ele inclina-se sobre o capô, gabando-se das suas técnicas de condução que aqui eram das melhores coisas que um rapaz tinha de ter para impressão alguma rapariga.

- Wow, quando podemos dar um volta nele, meu soldado? - Pergunta ela baixinho, tentando seduzi-lo - o que estava a resultar - e sobe para cima do capô, prendendo-o por entre as pernas.

Victoriam || l.tOnde histórias criam vida. Descubra agora