2

4.7K 342 63
                                    

Nadine

— Ei, Dine! - a voz rouca do velho Joseph soa do outro lado do balcão, e quando olho para ele, vejo um sorriso cansado, mas genuíno. Joseph é um dos nossos clientes mais antigos, daqueles que quase fazem parte do bar. — Será que você pode cantar aquela música pra mim? - ele pede, com um brilho de saudade nos olhos.

Sei exatamente a qual música ele se refere: "Por Amarte Así." Era a favorita da esposa dele, que já não está mais aqui. Toda vez que Joseph vem ao bar, é quase um ritual pedir para que eu cante essa canção, uma forma de manter viva a memória de quem ele tanto amou.

— Claro que sim! - digo com um sorriso, tentando esconder o nó na garganta que sempre surge nesse momento. — Só um minutinho.

Retiro meu avental e pego o violão que guardo atrás do balcão, ajustando rapidamente as cordas. No Dínamo's, música sempre foi uma parte essencial do ambiente. Meu pai criou essa tradição desde o dia em que abriu as portas do bar; qualquer um que quisesse podia pegar o violão e cantar. Não importava se era bom ou ruim, o que valia era a intenção e a interação entre todos.

Depois de afinar o instrumento, puxo uma cadeira ao lado de Joseph. Seu sorriso se alarga, e vejo em seus olhos a gratidão de alguém que vive cada verso como uma lembrança preciosa.

— Siempre serás la niña que me llena el alma... — começo a cantar suavemente. Joseph acompanha, fazendo uma segunda voz, sua entonação cheia de emoção, mesmo que um pouco fora de ritmo. Cantamos juntos, sem ligar para as notas erradas ou se as vozes desafinavam. No Dínamo's, é o coração que conta, não a técnica.

Quando termino a canção, volto para trás do balcão, tentando esconder o quanto aquele momento mexeu comigo. É então que Manuel aparece, chegando silenciosamente e assistindo à cena.

— É impressão minha ou você está cantando cada vez melhor? - ele comenta com um sorriso brincalhão, tomando seu lugar habitual no balcão.

— Ah, você se acha, né? - digo, tentando parecer indiferente, enquanto sirvo uma cerveja para ele.

— Claro que sim! 6 ele responde, balançando a cabeça de um jeito convencido antes de beber um longo gole da bebida.

Eu sorrio, um daqueles sorrisos que você tenta esconder mas acaba escapando. Para disfarçar minha felicidade, finjo que deixei algo cair e me abaixo para pegar, aproveitando o momento para respirar fundo.

A verdade é que, embora eu nunca tenha seguido a música como carreira, sempre amei cantar. Quando era mais nova, cheguei a fazer algumas aulas de canto, mas desisti ao perceber que minha professora não acreditava em mim tanto quanto acreditava em outra aluna, Karol. Karol acabou indo mais longe, assinou com uma gravadora, mas sua carreira foi interrompida quando a gravadora fechou por estar envolvida em lavagem de dinheiro. Hoje, Karol é médica, uma escolha bem distante dos holofotes da música.

Ao contrário de Karol, eu nunca tive um sonho muito claro. Desde cedo, sempre soube que acabaria ajudando meu pai no bar, e foi por isso que estudei administração — para cuidar do negócio da família. O plano era simples e certeiro, até que meu pai faleceu, e tudo começou a desmoronar. As contas do hospital eram absurdas, e como se não bastasse, o bar foi assaltado, levando quase todo o nosso estoque.

Com a abertura do novo bar no fim da rua e a diminuição do movimento, nossa situação ficou ainda mais complicada. Por sorte, o prédio é nosso, o que nos poupa do aluguel, mas as contas continuam a chegar e o dinheiro, a faltar.

— Sabe, estava pensando em procurar outro emprego. - digo de repente, encarando Manuel.

— Outro emprego? Que tipo? - ele pergunta, claramente surpreso.

— Talvez algo de meio período, para que eu ainda consiga continuar ajudando aqui no bar. Estava vendo na internet, tem muita gente procurando babás. Posso cuidar de crianças durante o dia e vir para cá à noite. - explico.

— E você tem experiência com crianças? - ele questiona, arqueando uma sobrancelha.

— Ah, acho que todos esses anos cuidando de você já contam como experiência, não acha? - brinco, rindo enquanto ele me mostra o dedo do meio em resposta. — Sério, Manuel, eu preciso de dinheiro para ajudar a minha mãe a manter o bar aberto. As contas não param de chegar e, do jeito que as coisas estão, não sei por quanto tempo conseguiremos continuar.

— Posso te fazer uma pergunta? - ele pergunta, e eu apenas balanço a cabeça em concordância. — Por que você quer tanto manter esse lugar aberto? Sua mãe já praticamente jogou a toalha.

Olho para ele e sinto uma onda de emoções me invadir.

— Porque esse bar sempre foi o sonho do meu pai. E, de alguma forma, acabou se tornando o meu também.

Christopher

— Qual é a graça? - pergunto, irritado, ao ver Erick rolando no chão de tanto rir, como se tivesse acabado de ouvir a melhor piada do ano.

— Você! - ele responde, ainda tentando controlar a risada. — Você em um relacionamento sério! Isso é hilário. Você foge de compromisso como o diabo foge da cruz!

Erick não está errado. Relacionamento sério nunca foi a minha praia. O único namoro que tive durou duas semanas, e mesmo assim foi na época da escola. Desde então, não consigo ficar mais de dois dias com a mesma pessoa sem perder o interesse.

— Ou faço esse sacrifício pelo meu álbum, que está praticamente pronto, ou digo adeus a todo o trabalho duro que tive até agora. - resmungo, afundando no sofá com um suspiro pesado.

Depois que Afonso me avisou sobre a gravadora considerar adiar o lançamento do meu álbum, percebi que precisava agir rápido para mudar minha imagem pública. Primeiro passo? Cancelar todos os rolês planejados e começar a me comportar. Agora, ao invés de estar com alguma garota, estou aqui com Erick, que veio me dar apoio depois que contei o que estava acontecendo.

— E você já tem alguém em mente para essa história de relacionamento sério? - pergunta ele, curioso.

— Não, ainda não. - admito. — Mas estava pensando em encontrar alguém que faça meu tipo, sabe? Alguém que seja atraente.

— Ah, claro! Porque é super fácil arranjar uma namorada de mentira no Instagram. - Erick responde, revirando os olhos.

— Ei, não é uma ideia tão ruim assim! Estava pensando em fazer uma busca no Instagram e ver quem se encaixa no perfil que eu quero.

— Cara, você é um gênio! - ele diz, fingindo um tom sério, antes de cair na gargalhada novamente. — Só que não! Você não pode sair escolhendo qualquer uma. É um namoro de fachada, então tem que ser alguém que concorde em manter esse segredo e que saiba jogar o jogo.

— Então, o que você sugere, Sr. Sabe-Tudo? - pergunto, cruzando os braços.

— Estava pensando em fazer um anúncio anônimo, tipo uma chamada para uma seleção. Não revelaríamos sua identidade de imediato, mas as interessadas mandariam informações sobre elas, e daí você escolhe a que melhor se encaixa no papel.

— Um anúncio? Tipo um casting de "Amor de Aluguel"? - pergunto, já gostando da ideia.

— Exatamente! Chame de "Amor de Aluguel" ou qualquer coisa que soe menos desesperado. Mas essa é a ideia! - ele diz, satisfeito consigo mesmo.

— Tá bom, gênio, e que vai fazer isso? - olho para ele, cético.

— Deixa comigo! - Erick responde, com um sorriso confiante. — Eu cuido dessa parte.

— Valeu, cara! - digo, estendendo a mão para ele. Ele responde com um soquinho, e por um instante, sinto que talvez as coisas realmente possam dar certo.

Amor De Aluguel - Christopher Vélez Onde histórias criam vida. Descubra agora