Nadine
— Nadine! - minha mãe grita atrás de mim, mas é tarde demais. Saio do bar com passos rápidos e bato a porta atrás de mim, sem olhar para trás.
Eu já sabia que, eventualmente, esse assunto ia surgir. Com tudo o que está acontecendo, era questão de tempo, mas não esperava que ela fosse tocar no tema tão abruptamente, justamente hoje. É claro que o Dínamo's Bar não é mais o mesmo desde que meu pai faleceu, e o novo bar que abriu no fim da rua só complicou ainda mais as coisas. O movimento caiu, e parece que estamos lutando para manter as portas abertas todos os dias.
Uma reforma, pensei. É exatamente isso que o Dínamo's precisa para voltar a ser o ponto de encontro de antes. Dar uma nova cara ao lugar, sem perder a essência que sempre o fez especial.
Quando chego à calçada, vejo Zabdiel saindo do carro. Meu irmão me olha de soslaio, os olhos cheios de perguntas que ele decide guardar para si, pelo menos por enquanto. Felizmente, ele não diz nada, apenas me observa por um segundo antes de entrar no bar, deixando-me sozinha com meus pensamentos.
Respiro fundo e pego meu celular. Com os dedos trêmulos, envio uma mensagem para Manuel perguntando onde ele está e se posso encontrá-lo. Não demora muito para a resposta chegar, e logo me vejo caminhando em direção à praça.
Quando chego lá, vejo Manuel sentado no banco, os olhos fixos em Viny, seu sobrinho, que está correndo e brincando com outras crianças no parquinho. Sento-me ao lado dele, tentando afastar o peso das últimas horas.
— Por quanto tempo eu dormi? - brinco, tentando aliviar o clima.
Manuel nem desvia o olhar de Viny, mas sorri levemente.
— Cresceu rápido, né? - ele comenta. Sigo seu olhar e observo o garoto, que agora parece tão diferente. Há pouco tempo ele só queria saber de colo e de assistir "Galinha Pintadinha," e agora está lá, parecendo um gigante para seus quatro anos de idade.
— Quase não reconheci quando meu irmão abriu a porta do carro e ele saiu correndo. - digo, rindo e balançando a cabeça.
— Acho que ele puxou ao tio, não é? - respondo, empurrando Manuel levemente com o ombro.
Lembro-me de quando éramos crianças e estudávamos na mesma escola. Manuel não era exatamente o garoto popular — era baixinho, um pouco gordinho, o tipo de garoto que passava despercebido. Mas aí veio o ensino médio e tudo mudou. Ele cresceu, ganhou músculos e, de repente, se tornou o centro das atenções de muitas garotas. Foi nessa época que nos aproximamos de verdade. Com a mudança do meu melhor amigo para outra cidade, eu fiquei sem dupla. Manuel também estava sozinho, e assim nos tornamos parceiros. Nossa amizade floresceu a partir daí, transformando-se em algo sólido e duradouro.
— É aquele ditado, beleza é para poucos. - Manuel diz, fazendo uma pose exagerada e jogando os cabelos invisíveis para trás, me arrancando uma risada genuína.
Ele então fica sério, me olhando com aquele jeito que só ele tem, como se pudesse ver através de mim.
— Então, vai me contar o que aconteceu? - ele pergunta, e eu sei que não adianta tentar esconder.
— Minha mãe está pensando em vender o bar. - digo, deixando as palavras saírem devagar, como se ainda estivesse tentando digerir a ideia.
Manuel me puxa para perto, colocando o braço sobre os meus ombros, em um gesto de apoio silencioso.
— Sinto muito por isso. E ela já tem alguma data em mente?
— Ainda não sabemos, mas se as coisas continuarem como estão, pode ser em breve. - confesso, sentindo a preocupação pesar ainda mais.
O problema é que, embora ainda tenhamos nossos clientes fiéis no Dínamo's, como o velho Joseph e seus amigos, eles não são suficientes para cobrir todas as despesas. O bar precisa de um grande impulso, algo que traga gente nova, que faça as pessoas voltarem a encher o salão. Estou pensando em uma reforma completa, dar uma nova cara ao lugar e talvez até construir um pequeno palco para apresentações de artistas locais. Música ao vivo sempre atrai o público certo, e isso poderia ser a salvação.
Mas aí vem o grande problema: tudo isso custa dinheiro. Pelo menos 50 mil reais, dinheiro que eu não tenho. Pedir um empréstimo no banco está fora de questão — os juros seriam insuportáveis e, no final, eu estaria pagando o dobro do valor original.
De repente, ouço uma vozinha familiar gritar:
— Tia Dine!
Viny vem correndo na minha direção, os bracinhos estendidos. Sorrio e o pego no colo, mesmo com o peso inesperado.
— Misericórdia, o que você anda comendo? - brinco, fingindo esforço.
— Comida, tia! - ele responde rindo, inocente, e meu coração se enche de um calor familiar.
Conheço Viny desde que ele era só uma ideia, antes mesmo de nascer. Estava lá quando Julian apresentou Megan à família, no pedido de casamento, na cerimônia, e até no momento em que soubemos que eles esperavam um bebê. Eu ajudei a cuidar dele enquanto os pais trabalhavam, e ensinei o pequeno a me chamar de "tia" porque, de certa forma, sempre fui parte daquela família.
— Estou muito triste que você veio ver o chato do seu tio e não foi me visitar. - digo, lançando um olhar falso de indignação para Manuel.
— Eu falei pro tio Manu que queria te ver. - Viny diz com aquele jeito irresistível que só as crianças têm.
Manuel, percebendo a deixa, solta uma risadinha e murmura:
— Porque ele quis vir ao parque primeiro. - Viny, sabendo que foi pego, me lança um sorriso travesso.
Christopher
Um toque na porta e entro no escritório de Afonso. Ele está atrás de sua mesa, os olhos fixos no computador, mas quando me vê, levanta o olhar com uma expressão carregada de expectativa.
— Finalmente! - diz ele, como se estivesse esperando por mim há horas.
— Queria falar comigo? Sobre o quê? - pergunto, sem cerimônias, e me sento mesmo sem ser convidado.
Ele não perde tempo e liga a televisão com o controle remoto. A tela pisca e, após um breve "buscando sinal", surge uma imagem minha em uma festa. Ao lado, uma apresentadora de TV que não reconheço começa a comentar algo que soa extremamente crítico.
Afonso aumenta o volume, e as palavras dela ficam claras. Ela fala sobre como, na opinião dela, eu não deveria mais fazer sucesso e que não mereço o lugar onde estou. As palavras dela me atingem como um soco no estômago.
— Quem essa mulher pensa que é? - disparo, irritado. — Quem ela acha que é para julgar se eu mereço estar onde estou?
— Essa é Lili Roberts. - Afonso explica calmamente.
— Pode ser a presidente do país, que eu não tô nem aí! Ela não sabe o que eu passei pra chegar aqui! - digo, ressentido. Lembro-me de todos os anos de luta, de quando participei daquele programa de talentos e não ganhei, mas usei tudo que aprendi para seguir em frente. Lembro da minha mãe, de como ela sempre me apoiou, do quanto lutou para me dar uma chance.
Afonso suspira.
— Ultimamente, é assim que as pessoas estão te vendo. Por isso, o pessoal da gravadora quer adiantar o lançamento do seu álbum e a turnê.
— Eles não podem fazer isso! - rebato. Meu álbum ainda está em fase de finalização, e adiantar as coisas poderia arruinar tudo.
— Há uma condição. - ele continua. — Walter sugeriu que você mudasse sua imagem pública.
— Como assim? - pergunto, confuso.
— Você precisa entrar em um relacionamento sério. - responde Afonso, direto.
As palavras dele ecoam na sala, e a ideia me atinge como um desafio. Mudança de imagem para salvar minha carreira? Isso vai ser mais difícil do que eu imaginava.
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Amor De Aluguel - Christopher Vélez
FanficEla precisa salvar o bar da sua família, já ele precisa de uma namorada de mentira. Nadine viu o quanto o seu pai trabalhou duro para realizar seu sonho de ter seu próprio negócio, e após ver o mesmo morrer anos depois de ter seu sonho realizado. Ma...