Cap 5. Aceitar.

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*Esconderijo a série – Céu.*

Voz em off da mãe da Céu: Ah, você precisa andar vestida que nem um menino?! Vai bota um vestido. Ah olha aí, bota um vestido. Tá parecendo um homem! Não entendo, não entendo! Não entendo, porque você não usa uma saia, um salto alto...

***

*Céu.*

  Mulher, lésbica, cabelo curto, blusa xadrez, solteira, enfermeira... Menina, menino... Coisas de garota, coisas de garoto... Ketchup, mostarda, maionese... Títulos atrás de títulos... Rótulos atrás de rótulos... Você não é bem-vinda aqui, você não pertence a esse lugar... Nossa! Feia demais, gorda demais, magra demais, cabelos enrolados, cabelos armados, cabelo liso, não, escorrido demais... Fino demais ou grosso demais... Por quê?!

  Qual o motivo de tantas caixas? De tantas etiquetas? E se eu não pertencer mesmo a nenhum lugar? E se eu tiver vindo com defeito de fábrica? E se eu estiver quebrada demais? Se eu for torta demais? Quem é que cabe nessas caixas? Quem possui uma única etiqueta?

  Eu me odeio, eu sou toda errada, eu sou feia, eu não sou nada... Mentira, eu sou alguma coisa... Eu sou alguém... Segundo as pessoas a minha volta, eu sou mulher, aparentemente, eu sou lésbica também, segundo o meu crachá, eu sou enfermeira... Segundo os meus documentos e o histórico hippie dos meus pais, eu me chamo Céu.

  Eu sou Céu... Eu sou imensidão, então agora chega de me limitar, de me enquadrar e de me colocar em caixas... Eu gosto de xadrez, eu gosto de top e sabe do que eu gosto? Eu gosto do mar... Então chega! Chega de me excluir, de me censurar, de me anular.

  A partir de hoje eu serei para mim, eu serei o Céu que se encontrou na imensidão e que abraçou a liberdade, que abraçou o mar e que a partir de hoje, não tem mais medo... Porque eu sou quem eu sou e se você não gostou, problema seu, porque não vou mais me esconder... Eu serei apenas quem sou, ou quem eu quiser ser, sem rótulos, sem caixas... Somente amor e aceitação... Ninguém mais pode me prender ou me reduzir, porque Céu é imensidão.

***

Ps* Os trechos dos diálogos presentes na primeira parte do capítulo foram transcritos a partir das cenas originais da websérie "Esconderijo- a série", disponível no site youtube, no canal "Esconderijo- a série".

Retratos - RaLu. (Esconderijo- a série)Onde histórias criam vida. Descubra agora